sábado, 29 de novembro de 2008

Raízes - Quarto Ato

FADE-IN:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO DA FRENTE - NOITE - POUCO TEMPO DEPOIS

Xena e Gabrielle estão sentadas a uma das recém-construídas mesas. Uma mulher está sentada do outro lado da mesa, diante delas, zangada e perturbada.

GABRIELLE
Olhe, se você não nos
contar o que aconteceu...

MULHER
Vocês aconteceram! Vocês vieram pra cá,
e vocês destruíram este lugar, de novo!

Xena está visivelmente perdendo a paciência.

XENA
Olhe.


Gabrielle coloca uma mão no braço de Xena.

MULHER
Por que vocês não partiram? Vocês já
não fizeram o suficiente por este lugar?

Xena se levanta furiosamente.

XENA
Quer saber? Pode ir saindo
daqui. A porta é por ali.

GABRIELLE
Será que vocês duas poderiam por favor CALAR A BOCA?!

Surpreendentemente, elas calam. Gabrielle se estica e agarra a mulher pela camisa, puxando-a para mais perto.

GABRIELLE
(continua)
Agora. Você nos conta o que aconteceu, e então
ou nós vamos ajudá-la ou nós vamos para a cama,
porque eu estou cansada de gente gritando comigo.

Xena coloca as mãos nos quadris e lança a Gabrielle um olhar de consternação.

MULHER
(disciplinada)
Tudo bem. Nós tínhamos descido três léguas na
estrada, e aqueles atacantes nos pegaram.
Eu fugi, mas ouvi eles dizendo que iam
tomar o resto do povo como reféns.

XENA
Pelo quê?

MULHER
Por VOCÊ.
(exasperada)
Eles acham que VOCÊ
se entregaria por NÓS.

Gabrielle e Xena caem em silêncio. Gabrielle desvia o olhar, Xena olha para a mesa. Xena vai começar a responder, depois pára e balança a cabeça.

MULHER
(continua)
Então agora todos eles irão morrer, quando
estavam apenas tentando se afastar de você.

XENA
Eles não vão morrer.

GABRIELLE
Nós vamos pensar em algo.

A mulher olha de Xena para Gabrielle.

MULHER
Por que vocês não puderam simplesmente ter...?

XENA
Porque não.

GABRIELLE
Há alguns sacos no canto ali, e um banco.
Você pode dormir neles, e comer o
que restou na cozinha.


MULHER
(incerta)
Vocês não vão encontrá-los?

XENA
Não. Eles virão até mim.

Xena se levanta e sai. Depois de uma breve pausa, Gabrielle faz o mesmo.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO DOS FUNDOS - MOMENTOS DEPOIS

Xena está parada à janela, olhando para fora. Gabrielle entra e caminha até lá, ficando parada ao lado dela.

GABRIELLE
Está escuro demais para rastreá-los.

XENA
É.

Gabrielle vai para a cama e se senta nela. Depois de um momento, ela se deita de costa e fita o teto. Xena se vira e se inclina contra a parede.

XENA
(continua)
Parece que esses caras não serão afugentados.
Tem alguma idéia de como podemos sair dessa?


Gabrielle olha para Xena curiosamente.

GABRIELLE
Além de dar conta deles, você quer dizer?

XENA
(confirmando)
Quem sabe quantos deles há lá?
Nós poderíamos ficar lutando por meses.

GABRIELLE
(consentindo)
Hunf. É.

Xena caminha até ela e se senta na cama, se inclinando contra a tábua da cabeça. Ela espera, observando Gabrielle com o canto do olho.

GABRIELLE
(continua)
Você está simplesmente me pedindo para apaziguar minha
necessidade de estar envolvida na sua tomada de decisões?

XENA
(seriamente)
Não.

Gabrielle volta a pensar. Depois de alguns minutos, ela olha para Xena novamente.

GABRIELLE
Talvez eles possam ser afugentados.


Xena parece duvidosa, e um pouco desapontada.

GABRIELLE
(continua)
Só que não por nós.

Ela gira de bruços e se ergue sobre os cotovelos.

GABRIELLE
(continua)
Todo mundo sabe que este lugar é assombrado,
Xena. Por que nós não podemos fazer uso disso
para proteger Amphipolis em vez de arruiná-la?

Xena ergue uma sobrancelha, e parece intrigada.

XENA
Nós precisaremos de uma história malditamente assustadora
pra fazer isso. Acha que você pode pensar em alguma?

GABRIELLE
(suavemente)
Eu sei, acho que talvez eu possa.

Xena dá um tapinha no ombro de Gabrielle. Gabrielle se torce pra cima e se ajeita nos braços de Xena com uma expressão satisfeita.

XENA
Ei, eu podia ser um...

GABRIELLE
Se você disser 'fantasma', você terá uma
morte coceguenta coberta de mel e
das penas deste colchão, Xena.

Xena prudentemente não responde. Ela beija Gabrielle em vez disso.

DESVANECE PARA:

CENA EXT. TAVERNA DE CIRENE - FRENTE - MANHÃ

Gabrielle está sentada em um toco do lado de fora da taverna, talhando algo. Está muito quieto. Há um som de um cavalo se aproximando, e vários momentos depois o cavalo chega com um bandoleiro em suas costas. Ele cavalga entre as árvores, localiza Gabrielle, e puxa o cavalo, fazendo-o parar.

ATACANTE
Ei! EI!

Gabrielle termina uma parte de seu trabalho, depois finalmente ergue os olhos.

GABRIELLE
Oi.

ATACANTE
Eu tenho uma mensagem para Xena.

GABRIELLE
Ela está ocupada.


O atacante olha em volta. Um grupo de folhas de janela recém-penduradas na frente da taverna repentinamente range abrindo-se sozinhas, depois balançam se fechando novamente com um estrondo.

ATACANTE
Bem, diga a ela para sair daqui.

GABRIELLE
Não posso.

ATACANTE
Ouça, garota, é melhor mudar
essa resposta! Onde ela está?

Gabrielle não parece muito intimidada.

GABRIELLE
Alimentando os demônios.

Ao longe, um grave e sinistro uivo é ouvido.

ATACANTE
O quê? Não existe tal
coisa como demônios!

Abruptamente, um bando de galinhas irrompe de debaixo da taverna e se arremessa passando por Gabrielle, espalhando penas por todo o lugar enquanto elas fogem de medo.

Elas correm debaixo do cavalo do atacante, que se empina, quase lançando o homem no chão.

Xena se arrasta de debaixo da taverna e dispara atrás das galinhas, com uma adaga ensangüentada em uma das mãos.

XENA
Voltem aqui, suas...

Xena corre sob a barriga do cavalo também, e ela e as galinhas desaparecem em torno do canto da taverna.

ATACANTE
Ei!

Um alto rugido é ouvido, balançando as fundações do prédio. De debaixo da taverna, uma nuvem de penas brancas esguichada em sangue aparece, e lentamente flutua até o chão de terra, seguida por um arroto agudo.

Uma grave e malvada risada ecoa de detrás da taverna. O atacante começa a se afastar, com o rosto totalmente branco.

Gabrielle continua a esculpir.

GABRIELLE
Você disse algo sobre
uma mensagem?


O atacante vira seu cavalo e o bate no traseiro, freneticamente tentado ficar longe da taverna. Ele cavalga entre as árvores, quebrando galhos e levando um grupo de folhas com ele.

Xena passeia em torno da beira da taverna, girando uma pena de galinha entre os dedos. Ela e Gabrielle trocam sorrisinhos.

GABRIELLE
(continua)
Você tem um rugido tão sexy.
Que pena que ele não achou.

Gabrielle se levanta e se dirige para a taverna, dando um tapinha no braço de Xena enquanto ela passa por Xena e através da porta.

Xena se senta no toco e pega o pedaço de madeira de Gabrielle. Ela começa a talhar, assobiando suavemente e baixinho.

XENA
(rindo disfarçadamente)
Grrau!

Muito de repente, a brisa soprando em torno da taverna pára, deixando-a em um silêncio sinistro. Xena ergue os olhos, e sua testa se enruga.

XENA
(continua)
Gabrielle? Como você fez isso?

Um suave rangido soa atrás de Xena. Xena vira, esperando ver Gabrielle, mas descobrindo seu misterioso espectro em vez disso. Desta vez o vulto não desaparece. Ele fica no espaço da porta para a taverna, observando Xena.

Xena se levanta e fica de frente para ele.

XENA
(continua)
Liceu?


Xena caminha adiante. O vulto desaparece.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - COZINHA - MANHÃ

Gabrielle está misturando algo em uma urna. Ela ouve passos atrás dela. Ela endurece, espera, depois gira quando os passos se aproximam.

MULHER
(em sobressalto)
AHH!

GABRIELLE
(envergonhada)
Desculpe. Pensei que fosse
outra cois... outra pessoa.

A mulher se aproxima de Gabrielle cautelosamente.

MULHER
Eu não sei o que vocês estão tentando
fazer. Não há demônios aqui.
(pausa)
Exceto Xena.


Gabrielle vira suas costas para a mulher e continua a misturar.

GABRIELLE
Os atacantes não sabem disso.

MULHER
Saberão. Meus amigos que eles prenderam
não confirmarão a sua história absurda.

Gabrielle continua de costas viradas, com um fraco sorriso aparecendo em seu rosto.

GABRIELLE
Não ao menos que alguém os previna, não.
Mas não seria ótimo se eles acreditassem?
Aí as pessoas deixariam Amphipolis em paz.

A mulher parece zangada, depois pára, pensando.

MULHER
Não. Isso espantaria os
mercadores também.

GABRIELLE
Na verdade não. Diríamos que os demônios
protegem quem quer que viva aqui. Vocês
podem conseguir melhores preços, talvez.

MULHER
(calculando)
Talvez.
(parando)
Mas não há jeito de prevení-los,
então isso não importa.

Gabrielle se vira, com algo pegajoso e negro na urna em suas mãos.

GABRIELLE
Claro que há.
(sorrindo)
Você já ouviu falar dos Troianos?


CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - CORREDOR DOS FUNDOS - DIA - MAIS TARDE

Xena está rondando os escuros recessos da taverna, onde elas ainda não chegaram para limpar. Ela passa pelo pequeno quarto que elas cuidaram, aparentemente procurando por algo.

XENA
Li? Vamos, onde está você?


Xena puxa para trás alguns escombros. Uma parte de uma parede desmoronou, e está muito escuro. Ela retira outro pedaço de madeira semi-apodrecido, e o atira para trás de si.

Um suporte de viga está em seu caminho. Xena coloca os braços em volta dele e puxa para trás. As paredes em torno dela rangem de forma agourenta.

XENA
(continua)
Ô-ou.

Xena pára, mas a madeira já está se movendo. Ela solta o suporte e mergulha para trás, saindo do caminho, mas a parede inteira na frente dela desmorona com um estrondo e o ruído de destroços caindo.

CORTA PARA:

CENA EXT. ESTRADA DE AMPHIPOLIS - DIA - AO MESMO TEMPO

Gabrielle se esconde atrás de um seixo de bom tamanho, observando a estrada deserta. Há alguns pertences espalhados dos aldeões, caídos aqui e ali.

No centro do caminho estão pilhas pegajosas de um piche escuro, gotejando, ardilosamente preparadas com a pena da galinha esquisita por fora delas, pequenos ossos de animal surgindo aqui e ali, e uma ocasional fivela de cinto e botões aparecendo.

Dobrando a curva da estrada, vem um grupo bem grande de pessoas.

Os atacantes estão em seus cavalos, se debatendo para puxar os aldeões amarrados a eles por densas cordas. Os aldeões estão protestando desenfreadamente, lutando contra serem trazidos de volta para perto do vilarejo.

Gabrielle dá um sorriso largo.

GABRIELLE
Espero que você esteja pronta, Xena.


CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - CORREDOR DOS FUNDOS - DIA

Está silencioso. Então uma pilha de destroços se move, e uma mão vem para fora. Ela agarra um pedaço de escombro e o atira para o lado, depois alcança outro.

Lentamente, Xena emerge, coberta completamente de poeira, sujeira, madeira apodrecida, e lama. Ela se levanta e olha atrás de si. O corredor foi fechado pelo desmoronamento, mas finas fendas estão aparentes. Xena se empurra contra um bloqueio, e ele oscila.

Xena se vira em torno de si e olha na frente dela. Há outra parede, e um lugar onde algo foi fechado com tábuas há tempos.

Xena procura nos escombros por seu machado, depois começa a trabalhar corando as tábuas fora. Atrás dela, uma fraca e prateada presença aparece.

CORTA PARA:

CENA EXT. ESTRADA DE AMPHIPOLIS - AO MESMO TEMPO

Os atacantes param à primeira pilha de coisa pegajosa. O chefe dos atacantes pula de seu cavalo e vai olhar. Ele cobre o nariz e boca e se afasta com o cheiro.

Os aldeões avistam os excrementos e gritam juntos, em concerto, virando em grupo e tentando correr na outra direção. Na frente dos aldeões está uma mulher, agora como parte dos cativos.

CHEFE DOS ATACANTES
Vamos, seus idiotas!
É só esterco de animal!

O atacante sobe em seu cavalo, e o força adiante. Um pouco incomodados, os atacantes seguem, arrastando os aldeões atrás deles.

Gabrielle desliza para fora de detrás de sua pedra e corre para uma árvore que sobrepaira a estrada. Ela escala, subindo nela.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - CORREDOR DOS FUNDOS - DIA

Xena descobriu uma porta no que era a velha seção da taverna, colocada na parte inferior de alguns grosseiramente cortados degraus, não como aqueles que descem até o quarto que ela e Gabrielle está usando.

Xena se endurece, sua expressão atenta. Atrás de seu ombro, nós vemos o pálido vulto flutuando. Xena mal pode ser vista nos finos dardos de luz que vêm através da destruição.

XENA
Li?

Xena move-se descendo os degraus, e coloca a mão na velha porta. Quando ela o faz, uma mão aparece ao lado da dela, branca e translúcida.

XENA
(continua)
Era isso o que você
estava procurando?


Xena empurra, mas a porta não cede. Ela atira seu ombro contra ela, depois localiza um fecho de chumbo que está mantendo a porta fechada.

Seus dedos trilham o fecho, e ela franze a testa. Erguendo seu machado, ela o quebra, e quando ela faz isso, uma luz brilhante cintila de lá, depois rapidamente desvanece.

Xena empurra a porta com a ponta dos dedos, e agora ela se abre para dentro.

CORTA PARA:

CENA EXT. ESTRADA DE AMPHIPOLIS - DIA

Gabrielle faz malabarismo com um punhado de urtigas. Cuidadosamente, ela pisa em um galho para quebrá-lo, limpando um pequeno espaço para ela se jogar.

Os atacantes cavalgam à vista, indo lentamente, uma vez que eles praticamente estão arrastando os aldeões atrás deles.

Gabrielle mira e bate uma urtiga de lado, estalando o lado do rosto do atacante-chefe com isso. Ela deixa o galho subir enquanto ele se sobressalta, e olha em volta.

CHEFE DOS ATACANTES
Ei!

Gabrielle move outro galho, e atira uma segunda urtiga, fazendo-o saltar de uma arvore do outro lado do atacante, e atingindo-o no ombro. O atacante-chefe gira, e olha na outra direção.

CHEFE DOS ATACANTES
(continua)
EI!!!

Gabrielle sorri de forma travessa. Ela está obviamente se divertindo. Ela atira outra urtiga e esta atinge o chão, saltando para cima e atingindo o cavalo do chefe na barriga. O cavalo dá pinotes, violentamente.

CHEFE DOS ATACANTES
(continua)
Filho de uma bacante!!!!

MULHER
É isso o que ele faz! Morde
você, e você nunca o vê!!!

Gabrielle atinge o chefe na cabeça com outra urtiga. O chefe impele seu cavalo correndo na direção da taverna, teimoso até o âmago. Ela bombardeia os outros atacantes com espinheiros, e eles desviam, começando a parecer um pouco aturdidos.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DA CIRENE - QUARTO ESCONDIDO - DIA

Xena entra no quarto escondido, dando um passo adiante quando ela sente algo entrando atrás dela.

Ela olha em volta. Diferente do outro quarto que ela e Gabrielle tomaram conta, este quarto não foi usado para armazenagem. Ele foi deixado na condição em que ficou desde que a porta foi selada.

Este quarto, embora mal se possa enxergar na luz muito restrita, era o quarto de um jovem homem. Uma cama, uma pequena mesa, algumas botas e outros itens pequenos, todos dispostos onde eles foram deixados, e eles estão completamente cobertos de camadas de poeira.

O vulto branco se forma na frente de Xena, fitando-a. Ele é agora reconhecidamente Liceu. Ele ergue uma mão na direção de Xena.

LICEU
Já faz muito tempo.


Xena caminha na direção dele, parando apenas ao alcance de um toque.

XENA
Tempo demais.

Ela examina o rosto de Liceu.

XENA(continua)
Mas por que você está aqui? Agora?

O fantasma de Liceu se vira e olha em volta, depois se senta na cama. A poeira não se levanta.

LICEU
Eu sempre estive aqui.

Xena está visivelmente atordoada.

LICEU
(continua)
Para onde mais eu iria?
Este é o meu lar, não é?

Xena lentamente se senta em um banquinho coberto de poeira perto da cama.

XENA
Os Campos são o seu lar.
Não este lugar.

LICEU
(sorrindo tristemente)
Este lugar...

Ele olha em volta.

LICEU(continua)
Todas as minhas esperanças... meus sonhos... meus objetivos...
os nossos objetivos... estavam aqui. Todas as coisas que nós
costumávamos conversar sobre, que eu nunca cheguei a fazer.

Xena olha para o chão.

XENA
Queria poder dizer o mesmo.

Liceu dá a Xena um olhar de profunda compaixão, o qual ela não vê. Ele se estica e toca o ombro de Xena.


CORTA PARA:

CENA EXT. TAVERNA DE CIRENE - FRENTE - DIA

Os atacantes finalmente entram na cidade. Os aldeões estão agora lutando como gatos selvagens, tentando se afastar. Eles continuam puxando os atacantes de um lado pro outro, mantendo-os quase constantemente desequilibrados.

Gabrielle observa de detrás de um canto da taverna, ela franze a testa e olha para a porta da taverna, depois balança a cabeça.

CHEFE DOS ATACANTES
Tudo bem! Agora, onde está Xena??
XENA! Saia daí!

As moitas entre duas tábuas erguidas repentinamente farfalham desenfreadamente. Os aldeões gritam, enquanto as folhas se rompem separadas e Argo II vai direto para eles, coberto no que parece ser sangue.

Os atacantes se dispersam, arrastando os aldeões com eles.

GABRIELLE
Uops. Okei, Xena,
agora é a sua vez.

Gabrielle olha para a porta da taverna, que continua fechada.

CHEFE DOS ATACANTES
Xena!!! Eu vou começar a matar estes
idiotas se você não der as caras aqui fora!

A porta continua fechada.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO ESCONDIDO - AO MESMO TEMPO

Liceu se levanta e caminha pelo quarto.

LICEU
Ao menos você teve uma
chance de fazer a diferença.

Xena olha para ele.

LICEU
(continua)
Eu não pude sequer ajudar nossa mãe. Tudo o que
pude fazer foi assistir... Assistí-los torturando ela.


Sua voz se quebra.

LICEU(continua)
O único lugar em que ela conseguia
ficar longe deles era aqui.

Xena se levanta e caminha até ele.

XENA
Aqui?

LICEU
Ela costumava vir aqui e simplesmente ficar sentada.
Eles a deixavam sozinha aqui... até eles se darem
conta disso e colocarem aquela fechadura.

Xena olha para os restos do selo na porta, depois olha de volta para Liceu.

LICEU
(continua)
Sim.
(sentando-se)
Ao menos aqui, eu posso me
lembrar de quem eu era.

Xena coloca a mão em seu ombro. Liceu se mexe um pouco quando sente o toque dela, e sua mão não passa através dele. Xena levanta a cabeça para escutar. Ela ouve sons do lado de fora.

XENA
Há algo que eu tenho que ir fazer.

LICEU
Eu sei. Erguer-se em prol do velho
domicílio tudo novamente, né?

Xena começa a se virar, depois pára e olha para Liceu.

XENA
É. Quer ajudar?
Em nome dos velhos tempos?


Xena estende a mão para Liceu. Ele hesita, depois se estica e a toma.

LICEU
Em nome dos velhos tempos.

CORTA PARA:

CENA EXT. TAVERNA DE CIRENE - FRENTE - MOMENTOS DEPOIS

O atacante-chefe controla seu cavalo e agarra uma das aldeãs, puxando-a para cima de sua sela e colocando uma adaga na garganta dela.

Gabrielle se levanta e começa a se atirar para a frente.

CHEFE DOS ATACANTES
XENA!

Xena desce de uma árvore atrás dos atacantes. Gabrielle a vê, e desce para trás de um barril.

XENA
(gritando)
QUÊ!!!!!??????

Os atacantes todos giram em volta, confusos, até localizarem-na.

CHEFE DOS ATACANTES
Tudo bem! Agora você me escute...

Xena saracoteia pela luz do sol. Ela está metade coberta com o que parece ser sangue velho. Dois coelhos mortos amarrados juntos estão pendurados sobre seu pescoço. Ela tem um osso de origem indeterminada enfiado em seu cinto.

XENA
Ei! Obrigada por trazê-los de volta. Eu estava
ficando um pouco... hehehe, limitada... e
Gabrielle estava ficando nervosa.

Atrás do barril, Gabrielle rosna suavemente.

GABRIELLE
(em voz baixa)
Oo... Você vai me pagar por essa.

Os aldeões todos ficam o mais longe possível de Xena. A garota nas costas do cavalo do atacante começa a se debater. Ele a atinge nas costas da cabeça com o cabo de sua adaga.

CHEFE DOS ATACANTES
Chega de besteira! Eu não acredito em
nada dessa coisa de fantasma. Agora ou
você cai fora ou esta vadia vai levar.


O atacante ergue sua adaga. Repentinamente, ela é lançada para fora de suas mãos. Ele tenta agarrá-la, mas ela cai no chão.

Gabrielle rasteja embaixo da frente da taverna, e puxa um fio. Um longo e grave ribombo é ouvido.

XENA
Não acredita, né?

O atacante-chefe puxa outra adaga. Ela é arrancada de suas mãos. Xena a apanha. Gabrielle puxa o fio novamente, depois salta em uma segunda corda. Um grito alto ressoa, fazendo Xena fazer uma careta levemente.

Uma sombra cai sobre o pátio da taverna. Os homens todos erguem os olhos, para ver uma nuvem escura bloqueando o sol, encrespando-se para dentro e para fora.

ATACANTE
Uh... Chefe... Isso não parece muito
bom. Talvez você estivesse errado...

Os aldeões também parecem agora incomodados e verdadeiramente assustados.

MULHER
É o demônio!!!

CHEFE DOS ATACANTES
(desesperadamente)
Tudo bem! Eu vou simplesmente quebrar o pescoço
dela! Eu não preciso de uma adaga fedida!

O atacante-chefe ergue a garota e agarra seu queixo, torcendo o corpo dela

A nuvem desce sobre ele, enquanto Xena se atira na direção dos cavalos, balançando os braços.

Os cavalos sentem o cheiro de animais mortos e do sangue e entram em pânico.

CHEFE DOS ATACANTES
(continua)
AHHH!!!!!

Os cavalos todos se empinam e tentam se soltar, aterrorizados com o cheiro que Xena está emitindo e a nuvem escura sobre o cavalo do atacante.

A despeito disso tudo, o atacante continua apertando o pescoço da garota.

Xena salta entre o tumulto, se jogando para cima do cavalo do atacante. Ela agarra a garota e a arranca das mãos dele enquanto a nuvem escura se aglutina em volta da cabeça dele, fazendo um som de abelhas zangadas.

CHEFE DOS ATACANTES
(continua)
AIIIEEEE!!!!!!!!!!

O atacante-chefe cai de seu cavalo, e envolve sua cabeça com as mãos, gritando de terror.

ATACANTE
Vamos sair daqui! Deixe-os!
Deixa a maldita coisa pegá-los!

Os atacantes todos se viram e correm, soltando as cordas que seguravam os aldeões. Depois de um segundo de choque, os aldeões também saem correndo, afastando-se da taverna o mais rápido que conseguem correr.

Xena checa o pulso da garota, depois a deita no chão antes de correr de volta para onde o chefe dos atacantes está. Ele está se contorcendo no chão, perdido de medo, gritando intensamente.

Xena o agarra pelas lapelas e o soca no rosto. Seu grito se corta, e ele tomba, inconsciente. Xena o solta.

A nuvem se levanta e vai embora, mudando de negro para cinza, até um suave branco. O vento se acalma, o sol volta, e um tímido pássaro começa a gorjear corajosamente depois de alguns segundos.

Gabrielle emerge e vai até o lado de Xena. A garota se mexe, depois levanta a cabeça, avistando-as. Ela cambaleia, se esforçando para ficar de pé e sai correndo na direção da abertura no mato.

GABRIELLE
(suspirando)
Não foi exatamente como nós planejamos...

XENA
(fracamente sorrindo)
Nunca é.

A nuvem branca flutua para mais perto. Gabrielle se vira para olhar para ela, depois olha para Xena.

GABRIELLE
Vai me apresentar?


XENA
Sim. Vamos lá pra dentro.

Elas caminham na direção da taverna. A nuvem as segue.

FADE OUT.

FIM DO QUARTO ATO

CONCLUSÃO

FADE IN:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO PRINCIPAL - MAIS TARDE AQUELA NOITE

Gabrielle está sentada a uma nova mesa, observando o pequeno fogo na lareira reconstruída. Ela parece perdida em seus pensamentos.

O fantasma de Liceu se forma por ali e fica parado observando-a brevemente, antes de flutuar adiante. Gabrielle ergue os olhos e lhe dá um caloroso sorriso.

Liceu sorri de volta.


GABRIELLE
Obrigada.

Liceu parece um pouco surpreso. Ele se torna um pouco mais sólido, e aparentemente tem que se esforçar um pouco para se comunicar com Gabrielle.

LICEU
Pelo que?

GABRIELLE
Por entrar em contato com Xena.
Significa tanto para ela.

Liceu se senta na cadeira ao lado de Gabrielle.

LICEU
Ela é a única com quem eu poderia conversar.
Ninguém mais... nem mesmo nossa mãe.
Eu não sei por que.

GABRIELLE
(retorcidamente)
Oh, acho que eu sei. Mas fico feliz
em lhe conhecer, depois de ouvir
falar de você por todos esses anos.

Liceu sorri.

LICEU
Acho que deveria agradecer a você.

GABRIELLE
Pelo que?

LICEU
Por salvá-la.

Agora é a vez de Gabrielle sorrir. Ela está para responder quando a porta da frente se abre e Xena entra.

XENA
Empacotei o último filho da mãe amarrado às
costas de um asno coberto com sua titica
de dragão e o resto daquelas penas.
Imagino que ele não voltará aqui.

GABRIELLE
(dando risada)
Lembre-me de esquecer daquele recipiente, ok?

Xena se aproxima e se senta. Ela observa Liceu, que parece estar aparecendo e desaparecendo.

XENA
Obrigada pela ajuda.

LICEU
(distraído)
Hum? Oh. Foi bom poder...

A voz de Liceu some.

XENA
O que há de errado?

Há uma batida na porta. Depois de um segundo, ela se abre, e a mulher que o atacante-chefe estava tentando matar caminha para dentro. Liceu desaparece de vista.

MULHER
Olá.

Xena e Gabrielle trocam olhares.


GABRIELLE
Sente-se melhor?

A mulher caminha até elas, e hesitantemente se senta na cadeira onde Liceu acabou de estar, e junta suas mãos.

MULHER
Você salvou minha vida. Agora que a coisa
toda acabou, é mais fácil perceber isso.

Xena se inclina para trás em sua cadeira.

XENA
Nós tivemos que fazer parecer bom.
Isso significava assustar todo mundo.

MULHER
(sentida)
Vocês conseguiram. Estávamos
assustados. Foi tão real.

GABRIELLE
Como vocês se sentem com relação a isso agora?

A mulher parece um pouco incerta. Ela hesita e olha para o chão por um bom tempo antes de responder.

MULHER
Os atacantes não voltarão. Nós ouvimos
dizer que eles ainda estão correndo.
(erguendo os olhos)
Então nós todos pensamos... talvez nos fixemos por
aqui por um tempo. Vamos ver o que acontece.

A mulher se levanta.

GABRIELLE
Fico feliz por vocês ficarem. Vai dar certo.

MULHER
(dando de ombros)
Veremos. De qualquer forma, obrigada de novo.

A mulher parte. Xena parece moderadamente surpresa.

XENA
Huh.
(olhando em volta)
Li?

Muito lentamente, Liceu aparece, notadamente mais transparente do que estava antes.

LICEU
Algo estranho está acontecendo.

Tanto Xena quanto Gabrielle se levantam e olham rapidamente em volta, claramente esperando um ataque de algum tipo.

XENA
O que é?

Liceu desparece um pouco, depois volta.

LICEU
Alguém está me chamando.
Me chamando para fora daqui.

XENA
Quem? Para onde?

LICEU
(suavemente)
Não sei. Aqui é onde eu sempre estive.
Eu não poderia ir a outro lugar, mas agora...
(ouvindo)
Parece nossa mãe.

Xena caminha na direção dele. Gabrielle coloca a mão na boca, com um olhar de compreensão no rosto.

XENA
Você fez a diferença aqui, Li.

LICEU
(atônito)
Fiz?


Ele olha para Xena.

LICEU(continua)
Nós fizemos.

A expressão de Xena é uma mistura de alegria e tristeza.

XENA
(roucamente)
Dê um abraço na mamãe por mim.

Liceu começa a desaparecer, depois se fortifica novamente e se move na direção de Xena, envolvendo os braços em torno dela. Eles se abraçam firmemente, então ele lentamente desaparece, ficando transparente, até que tudo o que resta é uma fraca luz dourada desfazendo-se na pele de Xena.


Xena deixa os braços cairem, e sorri saudosamente. Gabrielle finalmente solta um fôlego que ela estava aparentemente segurando.

GABRIELLE
Uau.

XENA
É.

Gabrielle se aproxima e coloca o braço em torno da cintura de Xena. Xena coloca o braço em volta dos ombros de Gabrielle, e elas ficam ali juntas, desfrutando o momento.


CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO PRINCIPAL - DUAS SEMANAS DEPOIS - MANHÃ

A mudança é quase incrível. A taverna parece completamente reconstruída. O quarto principal tem mesas, cadeiras, guarda-louças etc.

A cornija da lareira está decorada com vários pedaços de cerâmica.

As paredes estão todas reparadas, o telhado está completo, uma visão da cozinha através da porta revela um aposento brilhante e restaurado, com um vislumbre de uma bem forjada forma de uma figideira pendurada na parede.

Gabrielle entra, em evidente animação. Ela dá um tapinha na mesa, depois vai até a janela e olha para fora.

GABRIELLE
Foi um dia esplêndido.

Xena entra atrás dela e escuta. Ela coloca um jarro em uma mesa e caminha, indo se juntar a Gabrielle.

XENA
Claro que foi.
(pausando)
Bem, nós quase terminamos aqui.

Gabrielle se vira e inspeciona o trabalho delas.

GABRIELLE
E um belo de um bom trabalho que fizemos também.
(com um sorriso largo)
Este lugar parece ótimo.

XENA
Ã-ram. Pena que não conseguimos alguém
para assumir a liderança dele. Acho que
fomos um pouco reais demais pra eles.

Gabrielle assente em uma lamentável concordância.

GABRIELLE
É uma pena termos que simplesmente trancar
este lugar, mas talvez possamos encontrar
alguém por aí fora que venha viver aqui.

Xena observa Gabrielle com o canto do olho.

XENA
Você quer?


Pega de surpresa, Gabrielle se vira e olha para Xena por um longo momento.

GABRIELLE
Encontrar alguém? Ou...?

XENA
Viver aqui.

Gabrielle observa Xena atentamente, e parece que Xena está falando sério. Porém, depois de uma breve pausa, Gabrielle sorri um tanto desejosa.

GABRIELLE
Não podemos ficar aqui. Você e eu
sabemos disso. Não é para onde a
nossa estrada está nos levando.

Xena assente, em concessão.

XENA
Eu sei.

GABRIELLE
(silenciosamente)
Mas talvez algum dia.


XENA
(sorrindo levemente)
Algum dia.

Ela olha em volta.

XENA
(continua)
Nós provavelmente teremos que reconstruir
isto do zero quando chegar tal dia.

GABRIELLE
(rindo disfarçadamente)
Provavelmente.

Elas ouvem alguma gritaria do lado de fora, e ambas se viram para olhar para fora da janela novamente. Os matos foram todos cortados e a taverna está claramente visível da rua. Acima da estrada, elas podem ver uma carroça se aproximando, puxanda por um simples e aparentemente triste jumento. Uma mulher caminha na frente dele, e seu rosto se vira na direção da taverna.

Gabrielle engasga.

GABRIELLE
(continua)
Sara!

DESVANECE PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO PRINCIPAL - POUCO TEMPO DEPOIS

Lila, Sara, seu marido e o bebê estão sentados em torno de uma das mesas da taverna. Eles estão esgotados e desgastados da viagem, e parecem estar vestidos bem pior. Suas roupas estão chamuscadas nas beiradas.

LILA
O fogo consumiu tudo. O vilarejo
inteiro se foi. Nós não vínhamos
exatamente para cá, mas...

Xena e Gabrielle trocam olhares.

XENA
Mas eis vocês aqui.

SARA
Nós sequer sabíamos que este lugar
estava aqui ainda... ou que nós
encontraríamos vocês aqui.

Sara olha em volta da taverna.

SARA
(continua)
Não temos muito dinheiro. Eu não acho que
possamos pagar este lugar. Vocês acham que
eles fariam metade do preço por um quarto?

Gabrielle esconde um sorriso. Xena parece um tanto confusa.

XENA
Acho que vocês poderiam conseguir algo.
Vocês têm algum plano a partir daqui?

SARA
Na verdade não. Encontrar outro lugar
para nos estabelecermos. Talvez nós
possamos trabalhar em uma cidade.

Gabrielle olha para Xena. Xena olha de volta para Gabrielle.

XENA
Já pensaram em
ser taverneiros?

DESVANECE PARA:

CENA EXT. TAVERNA DE CIRENE - FRENTE - VÁRIOS DIAS DEPOIS

Xena e Gabrielle se preparam para partir. Elas acenam para Lila e Sara paradas na porta da taverna, e começam a descer pela estrada.

GABRIELLE
Sabe, Xena, é incrível como
isso tudo deu certo.

Xena anda a passos fortes com suas botas, que parecem um tanto novas.

XENA
Que sua família precisava de um lar
exatamente na mesma hora em que
procurávamos por alguém para
dar um? Sim, bem...

Xena toma um fôlego de ar fresco, enquanto elas deixam a cidade.

XENA
(continua)
Às vezes a vida simplesmente
se ajeita para você.


Ela olha para Gabrielle.

XENA(continua)
Sente-se melhor?

Gabrielle está ocupada tentando aprender a fazer malabarismo. Ela ergue os olhos com alguma surpresa.

GABRIELLE
Eu? Sinto-me ótima.
(rindo)
Agora, me mostra aquele arremesso de novo?

Xena sorri e elas caminham descendo pela estrada.

FADE OUT.

DECLARAÇÃO
Nenhuma taverna foi prejudicada durante a produção deste episódio,
mas Gabrielle terminou retirando lascas por meses.

Raízes - Terceiro Ato

FADE IN:

CENA EXT. TAVERNA DE CIRENE - PORTA DA FRENTE - MOMENTOS DEPOIS

Gabrielle dispara da taverna, com seus sais nas botas. A espada de Xena está cerrada em um de seus punhos e seu chakram no outro. É uma visão relativamente imponente, e pequenos animais fogem assustados quando ela chega correndo.

As pilhas de destroços estão escondendo a luta que ela pode ouvir acontecendo bem alto atrás delas.

GABRIELLE
Xena!

XENA
(Voz em Off)
Quê???

GABRIELLE
Estou chegando!


XENA
(Voz em Off)
Não se apresse!

Gabrielle franze a testa, mas não diminui a velocidade. Ela vai entre as pilhas de destroços e desaparece.

CORTA PARA:

CENA EXT. TAVERNA DE CIRENE - FRENTE - ALÉM DAS PILHAS - CONTINUANDO

Oito atacantes estão cercando Xena em um círculo, correndo em seus cavalos em torno dela e tentando atacar.

Xena está parada no centro, com uma pilha de bastões, e está repelindo cada homem que tenta se aproximar dela.

XENA
Qual é, seus covardes!
Estão com medo de uma garota???

Xena pega o maior pedaço de tábua de sua pilha e o sacode como um bastão de beisebol que não será inventado ainda por dois milênios. Um dos atacantes vem direto para ela, gritando com todos seus pulmões. Xena espera até o último possível momento e então balança, golpeando o atacante na cabeça e derrubando-o para o lado em seu cavalo.

Ele se pendura no gancho da sela, lançando-se loucamente enquanto o cavalo passa correndo e se dirige para as colinas.

XENA
(continua)
(rindo)
Perdedores!!!


Atrás das divisas, os aldeões observam a ação, ficando mais preocupados à medida que vêem Xena surrando os caras malvados.

Gabrielle pára e procura por um modo de entregar as armas para Xena, depois percebe que ela está indo muito bem com as que ela está usando.

GABRIELLE
(em voz baixa)
Ainda gosta de variedade.


Ela fica momentaneamente bloqueada. Ela não quer colocar as coisas de Xena no chão para os atacantes roubarem, mas ao mesmo tempo ela não quer lutar com elas.

Um atacante a avista, e resolve o dilema virando seu cavalo e se encarregando dela. Gabrielle desvia sob a espada dele e balança para cima com a arma de Xena, cortando a mão do homem fora com sua espada ainda nela.

ATACANTE
Yahhhhh!!!!

O atacante salta de seu cavalo em Gabrielle. Instintivamente, Gabrielle gira sua mão esquerda com o chakram nela, e corta a garganta dele. Ele colide ao chão em uma ducha de sangue.

Gabrielle dá um passo atrás e olha para o corpo.

GABRIELLE
Isso não é tão mais fácil
quanto costumava ser.

Gabrielle balança a cabeça e olha na direção de Xena, apenas para descobrir que - entre o caos de homens e cavalos - Xena está olhando para ela.

Seus olhos se encontram apenas por um momento, depois dois atacantes irrompem entre elas e a luta continua.

Xena abaixa os bastões no chão e salta no líder dos atacantes, agarrando-o pelo pescoço enquanto ela passa voando e puxando-o direto para fora de seu cavalo, ao chão. Ela ergue a mão e, em um instante, ela está pegando sua própria espada e girando-a, depois colocando a ponta da lâmina na garganta do homem.

XENA
PAREM OU EU VOU DESTRIPÁ-LO
COMO O PORCO QUE ELE É!!!

Os atacantes lentamente param e viram de frente para ela. Gabrielle fica de um lado, segurando o chakram.

XENA
(continua)
Eu não sei com o que a escória de vocês
tem se acostumado, mas vocês não
são mais bem-vindos aqui.


Xena pressiona a lâmina contra o pescoço do atacante-chefe.

CHEFE DOS ATACANTES
Você acha que pode nos deter?

Xena se inclina mais perto, a lâmina agora cortando a pele do homem.

XENA
Eu sei que posso.
(cortando mais fundo)
E você também sabe disso.

O atacante faz uma careta de dor.

Xena se inclina ainda mais perto.

XENA
(continua)
Este é o meu lar.

CHEFE DOS ATACANTES
Não de acordo com o resto deles!

XENA
Eu não dou a mínima para o resto deles.
(silvando)
Fiquem fora daqui!

Xena repentinamente se levanta, erguendo o atacante enquanto o faz. Ela o levanta e o atira contra o resto dos homens, soltando um grito selvagem ao mesmo tempo.

XENA
(continua)
Yeaaahhhhh!!!!

Ela aponta para eles com a espada.

XENA
(continua)
Se vocês voltarem, vocês morrem –
todos vocês. Eu juro.


O atacante se arrasta de volta em seu cavalo, limpando o sangue de seu pescoço. Ele fita Xena odiosamente, mas menciona a seus homens que partam.

CHEFE DOS ATACANTES
Não pense que este é o fim, Xena.

Xena gira os olhos de um jeito meio 'nada muda, estando lá faça isso, tenha tantas camisetas dessas que ela poderia fazer uma colcha'. Os atacantes galopam indo embora. O cavalo do homem morto os segue, seus estribos saltando vazios.

Todos os aldeões evadem furtiva e rapidamente.

Xena e Gabrielle são deixadas de pé juntas perto das pilhas de destroços. Depois de um momento, Gabrielle pega na beirada de sua saia e esfrega o sangue do chakram, limpando-o antes de estendê-lo de volta na direção de Xena.

GABRIELLE
Não que você tenha precisado dele.

Xena o toma, coloca-o na mão onde ela já está com a espada, depois sem falar nada coloca o braço em volta de Gabrielle e a puxa para perto, deixando sua bochecha encostar no topo da cabeça de Gabrielle. Sua expressão é pesarosa.

GABRIELLE
(continua)
Você está bem? Pra que isso?

O olhar de Xena fica um pouco mais triste.

XENA
Apenas senti vontade de fazer isso. Quer levar essas
coisas para dentro enquanto eu limpo aqui fora?

Gabrielle olha para o atacante morto, depois para Xena. Ela pega a espada e o chakram.

GABRIELLE
(assentindo)
Claro. Encontro você lá dentro.


Gabrielle se vira e vai na direção da taverna. Xena a observa, depois se senta na pilha de destroços e descansa os cotovelos nos joelhos.

O pôr-do-sol pinta Xena, a destruição e o atacante morto em um esguicho de luz dourado-avermelhada.

DESVANECE PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - COZINHA - PÔR-DO-SOL

Gabrielle está parada perto da janela, a qual teve suas folhas quebradas retiradas dela e agora não é nada mais que uma moldura vazia que leva para fora.

O lado de dentro da cozinha foi esvaziado da maioria das mobílias destruídas e destroços. Ainda está em uma forma muito triste - há buracos na parede e no telhado. Sobre a cabeça de Gabrielle pode-se ver o céu.

A bolsa de viagem de Gabrielle está no chão perto de seus pés, e ela está usando uma tábua quebrada colocada sobre duas protuberâncias da parede como uma espécie de mesa, preparando algumas misturas que ela tirou de sua bolsa. Seu cabelo está úmido, e ela trocou seus trajes de viagem por outra roupa.

Um vulto aparece na porta para a cozinha e a observa silenciosamente.

Depois de um breve momento, Gabrielle sente os olhos nela, e se vira, mas o vulto desaparece antes que ela possa focalizá-lo. Ela baixa a pequena faca e o pedaço de algo na mesa e caminha até o espaço da porta, espiando para fora dele.

GABRIELLE
Sabe, uma hora você
vai ter que ficar por aí.

(pausa)
Nós não machucaremos você.
(esperando)
Está com fome?

Não há resposta. Gabrielle balança a cabeça e volta às suas tarefas. Ela ergue a faca e corta alguma coisa, colocando os pedaços em um pequeno pote de ferro.

Ela pega o pote e vai até a lareira destruída, onde ela raspou um canto e construiu um pequeno fogo. Ela coloca o pote sobre ele, e então se senta em um toco de árvore. Ela olha em volta, para os buracos no telhado, e o toco onde ela está sentada. Ela balança a cabeça novamente.

Xena pára no espaço da porta e a observa do mesmo jeito que o vulto o fez em um momento anterior. Gabrielle também sente isso, mas não olha, surpresa quando levanta a cabeça e vê Xena parada ali.

XENA
O que está acontecendo aqui dentro?

Xena entra e se ajoelha perto de Gabrielle. Gabrielle gira um toco para ela e dá um tapinha em cima dele.

GABRIELLE
Só estou fazendo uma sopa.

Xena se senta no toco.

XENA
Você não tinha que fazer isso.

(olhando em volta)
Por mais que eles me odeiem, tenho
certeza de que eu poderia comprar
algo daquele padeiro lá da estrada.

Gabrielle gira um terceiro toco de madeira, muito mais baixo, e o estatela entre elas. Ela gesticula para ele.

GABRIELLE
Qual é, Xena. Quão freqüentemente eu posso
servir o jantar na sua mesa da cozinha?

XENA
(sorrindo levemente)
Verdade.

Ela olha em volta.

XENA
(continua)
Nós costumávamos comer aqui dentro o
tempo todo quando éramos crianças.

Gabrielle pega um toco de vela e o coloca sobre a 'mesa' de madeira.

XENA
(continua)
Amanhã eu vou sair e pegar algo.
Devemos estar bem desprovidas de suprimentos.

GABRIELLE
Considerando que eu tive que cortar algum
couro da sua armadura e botar na sopa? É.

Xena reage, olhando para Gabrielle, preocupada.

GABRIELLE
(continuando)
Só estou brincando. Aqui.

Gabrielle despeja um pouco de sopa para Xena, e lhe dá sua metade do pequeno pão que lhe restou. Ela acende a vela e elas ficam sentadas em silêncio por um momento.

XENA
Eu não acho que aqueles filhos da mãe
vão ficar longe por muito tempo.

GABRIELLE
Nem eu. Então o que vamos fazer, ficar por aí
e simplesmente continuar afugentando-os?


Xena olha fixo para Gabrielle. Gabrielle apenas continua comendo.

GABRIELLE
(continua)
Enquanto estivermos aqui, ao menos as pessoas
em volta deste lugar podem tirar uma folga.

Xena lentamente quebra um pedaço de pão e fica brincando com ele nos dedos.

XENA
É. Elas podem. Por um tempo. Ei, você
fez um bom trabalho limpando este lugar.

Gabrielle espia em volta. Ela sorri.

GABRIELLE
Bem, eu vivi com minha família... depois vivi com você.
Eu nunca realmente tive algum lugar que fosse meu.
(pensando)
Este é um sentimento interessante, estar aqui.

XENA
(pensativa)
Sim, é.


Xena lentamente mastiga seu pão. Gabrielle bebe a sopa. Atrás delas, um vulto aparece no espaço para o exterior, espreitando-as na soleira da porta.

CORTA PARA:

CENA EXT. TAVERNA DE CIRENE - FRENTE - MANHÃ - CINCO DIAS DEPOIS

Xena caminha na frente da taverna, conduzindo Argo II. O cavalo está puxando uma carga de recém cortadas toras e não parece inteiramente vibrar de alegria com isso.

Xena está usando apenas seus couros e botas, sem armadura, e aparentemente tem feito um trabalho bem duro com eles. Há cortes e desgastes no couro, e manchas de resina preta de árvore tanto no couro quanto nas pernas de Xena.

Porém, Xena está assobiando baixinho e parece estar de um relativo bom humor.

XENA
Vamos, garota. Última carga
por hoje, eu prometo.

ARGO II
(relincho desdenhoso)

Xena ri. Ela solta as toras perto da taverna e dá a Argo II um tapinha no traseiro.

XENA
Vá lá. Eu mantenho minhas promessas.

Argo II trota indo embora, sem ela precisar dizer duas vezes. Xena pega uma tora e a coloca em um cavalete improvisado, apanhando seu machado e girando-o na mão.

Ela pára, e se vira para olhar para a taverna.

Está começando a se parecer com uma estalagem novamente. Suporte de madeira recém cortada estão agora no lugar, e a parede da frente não tem mais buracos nela. As janelas ainda são apenas espaços, mas uma nova camada de sapé cobre a maior parte do telhado. Um espaço está aberto, faltando suportes.

Xena ouve algo surgindo atrás dela e se vira, para encontrar seis ou sete aldeões se aproximando. Ela deixa seu machado de lado, e coloca a outra mão na cintura.

XENA
(continua)
De novo não.

Os aldeões se aproximam. Um caminha mais próximo dela que os outros. É o mesmo homem que tem sido o principal porta-voz esse tempo todo.

XENA
(continua)
O que é agora, Jares?


JARES
Um mercador acabou de passar.
(fazendo careta)
Ele não ficaria, naturalmente.

Xena dá de ombros.

JARES
(continua)
Ele disse que um homem na estrada lhe disse que o senhor
da guerra Xerxes é quem está por trás dos atacantes. Ele
está verdadeiramente furioso com o que aconteceu aqui.

Xena dá de ombros novamente.

JARES
(continua)
Ele vai vir e destruir o vilarejo se
você não se entregar a ele.

Xena gira o machado novamente.

XENA
Ele pode tentar o que quiser.
Eu não vou a lugar algum.

Os aldeões olham uns para os outros.

JARES
É o que nós pensamos que você diria. Então
nós vamos. Estamos todos indo embora. Hoje.

Jares se vira e começa a partir seguido pelo resto dos aldeões. Atrás de Xena, Gabrielle aparece na entrada para a taverna, ouvindo o que está acontecendo.

XENA
Por que vocês se deram ao trabalho de me contar?

Os aldeões páram, e Jares olha de volta sobre seus ombros para ela.

JARES
Sua mãe foi uma amiga, um dia. Eu continuo querendo
pensar que ela estava certa com relação a você.

Jares balança a cabeça e continua a caminhar entre as árvores. Gabrielle caminha até Xena. Gabrielle está vestida em uma camisa indefinível, presa na cintura com uma tira, e botas. A camisa está tão generosamente manchada com quase de tudo, que é impossível distinguir sua cor.

XENA
(desdenhando)
Fico imaginando o que ele quer dizer com isso.

GABRIELLE
Dada a extensão de opiniões da tua mãe
na época em que te conheci, isso poderia
significar praticamente qualquer coisa.

Xena coça o queixo e dá de ombros, admitindo o ponto de vista. Ela parece um pouco desencorajada, porém.

XENA
Achei que eles fossem
se acostumar conosco.

Gabrielle limpa as mãos em uma toalha pendurada em seu cinto.

GABRIELLE
Bem, talvez seja melhor assim, Xena.
Eles partem, nós damos conta do senhor
da guerra... e talvez eles todos voltem.

XENA
Talvez. Mas agora precisamos
dar conta do senhor da guerra.
(suspirando)
Droga, eles se multiplicam como coelhos.

GABRIELLE
Hum. Acha que deveríamos começar a
castrá-los em vez de matá-los?


Xena reage, olhando para Gabrielle, em choque. Mas Gabrielle sorri para ela, e pisca.

GABRIELLE
(continua)
Só estou brincando. Quer
alguma ajuda aqui fora?

Xena relaxa. Ela apanha a tora novamente e Gabrielle pega a outra ponta. Elas a põem no apoio e Xena começa a cortá-la com seu machado enquanto Gabrielle segura a tora.

Elas param quando o som de cascos e rodas de carroça as alcança. Na estrada que leva além da taverna, os aldeões estão se mudando, levando todas as suas posses com eles. Ninguém olha para elas enquanto eles passam.

GABRIELLE
(continua)
(gritando)
Boa sorte.

Os aldeões se movem, sem nem olhar para trás. Depois de um breve silêncio, Xena continua a cortar.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - COZINHA - NOITE

O piso da lareira foi habilmente reconstruído com novas pedras de rio, e as mesas de trabalho contra as paredes tiveram suas pernas consertadas. Tudo lá dentro está limpo e arrumado, e há uma nova mesa ao centro do aposento. No centro da mesa está um jarro de barro com um punhado de flores silvestres nele.

Gabrielle entra e acende várias velas, resultando em um brilho dourado e caloroso no aposento. Ela agora está vestida com uma camisa branca limpa, e ela murmura baixinho, cantarolando enquanto se move por ali, pegando pratos de madeira e utensílios de comer.

Xena aparece no espaço da porta, também limpa e parecendo elegante. Ela se inclina na recém-consertada beirada da porta e observa Gabrielle por um momento antes de entrar. Então Xena sorri, e caminha até a lareira.

XENA
Eu poderia me acostumar com isto.


Xena se ajoelha e aquece suas mãos perto do fogo.

Atrás de suas costas, Gabrielle pára o que está fazendo e se vira, visivelmente intrigada. Ela examina Xena com os olhos, depois sorri também e volta para o que está fazendo.

GABRIELLE
Você nunca me contou que era
capaz de construir coisas.

Xena vai até a mesa e se senta. Ela desarrolha a garrafa que estava ali e verte algum vinho em sua caneca, e depois na de Gabrielle.

XENA
Eu sempre fui melhor
destruindo-as.

Gabrielle traz dois pratos para a mesa e os abaixa. Ela se senta perto de Xena.

GABRIELLE
Bem, não neste caso. O lugar está começando
a ficar com uma aparência ótima.

Xena examina a cozinha. As paredes foram lavadas há pouco tempo, e as janelas alinhadas com campos de telhas de terracota, com velhos e desbotados desenhos nelas.

XENA
Você não é nem metade ruim nisso também.
Onde você conseguiu aquelas cerâmicas?

Gabrielle está satisfeita de Xena ter notado seu trabalho.

GABRIELLE
Estavam em uma das caixas que tiramos
daquele quarto em que estivemos. No
mesmo lugar onde encontrei este jarro.

Xena olha para o jarro.

XENA
Mas não as flores.

GABRIELLE
(rindo disfarçadamente)
Não, eu as colhi no campo lá dos fundos.
Aquele com o pilar de cerca com
o seu nome entalhado nele.

XENA
(surpresa)
Aquilo ainda está lá? Deve
estar petrificado agora.


Ambas riem. Gabrielle ergue sua caneca e toca com ela a de Xena.

GABRIELLE
Ei, que tal terminarmos a cama depois que
nós acabarmos aqui? Minhas costas
estão implorando de joelhos.

XENA
Tudo bem, você manda.

Ela experimenta a comida no prato.

XENA
(continua)
Isto é diferente... novo... Uau!

GABRIELLE
(retorcendo-se)
Obrigada. Isso tem que assar por horas. Não
é algo que eu possa fazer na estrada.

Atrás delas, no espaço da porta, o vulto amorfo aparece. Gabrielle o vê com o canto do olho. Ela não olha diretamente para ele, mas ela baixa sua caneca e se estica para tocar o braço de Xena.

Xena casualmente pega a garrafa de vinho e a vira, aparentemente estudando o rótulo. O espaço da porta é refletido no vidro, motrando o vulto.

Ele desaparece.

GABRIELLE
(continua)
Desta vez você o viu?

XENA
Sim.

Gabrielle vira para olhar para o agora vazio espaço da porta.

GABRIELLE
Ele não tentou nos machucar,
mas ele me dá arrepios, Xena.

Xena parece muito pensativa.

XENA
Eu sei.
(parando)
Mas há algo familiar...
ah, talvez eu só esteja imaginando coisas.

GABRIELLE
Bem, ao menos você o viu desta vez, então
você não acha que eu estou exagerando.

Xena coloca a garrafa na mesa e pega sua caneca, virando-a nos dedos enquanto ela pondera em silêncio.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO DOS FUNDOS - NOITE

Xena e Gabrielle transformaram o antigo quarto-de-armazenagem em um pequeno mas aconchegante quarto de dormir para elas próprias. Suas bagagens estão empilhadas habilmente em um canto, mas algumas das suas coisas estão fora e penduradas no quarto.

Uma armação de cama domina o centro do espaço, com o exterior de madeira amarrado com cordas, e uma treliça de tiras de couro quase pronta formando a superfície onde se dorme.

Xena se ajoelha em um lado do estrado, pregando uma tira de couro no lugar enquanto Gabrielle enfia uma segunda entre ela, ondeando-a por cima e por baixo.

XENA
Está quase pronto.

GABRIELLE
Estou contando os pingos de vela.


Gabrielle 'costura' a última tira, e Xena a prega no lugar. Ela aperta o couro, e ele rebate um pouco de uma maneira elástica e vigorosa.

Gabrielle abre a porta e se estica para fora, puxando algo grande e volumoso pela abertura atrás dela. É um enorme saco, preenchido com algo.

Xena se levanta para ajudá-la, e ambas assentam o saco no couro. Xena bate de leve no saco.

XENA
Lá vamos nós. Eu sabia que aquele velho
galinheiro era bom para alguma coisa.

Gabrielle meio pula e meio cai no topo dele, estendendo seus braços para fora com um sorriso de felicidade. Xena se senta mais tranqüilamente, depois se esparrama do lado dela.

Gabrielle vira sua cabeça, depois se estica para fazer cócegas em Xena. Xena se sobressalta, depois também faz cócegas em Gabrielle. Elas fitam uma a outra, depois se arrastam juntas para o centro da cama em uma luta simulada, terminando em risos e entrelaçadas uma na outra.

GABRIELLE
Fiiu! Oh, ah... Pára...
meu estômago está doendo.

Xena gira deitando-se de costas e relaxa. Sua expressão se torna saudosa.

XENA
Isso é algo que nós não fazemos
muito, mesmo estando lá fora.

GABRIELLE
O que, cócegas uma na outra???

XENA
Simplesmente se divertir.

Ela pára e olha para Gabrielle.

XENA
(continua)
Ao menos não ultimamente.

GABRIELLE
(silenciosamente)
Não. Não tem havido muita diversão ultimamente,
tem? Às vezes eu sinto como se estivéssemos
nessa estrada escura que não leva a lugar
algum além de mais luta e mais dor e...

XENA
E qual é a razão disso tudo?

GABRIELLE
É. Às vezes fico pensando nisso.

Xena olha fixo para o teto, com sua expressão soturna.

XENA
Eu também. Especialmente agora.


Gabrielle se estica e toma a mão de Xena. Ela ia começar a falar, mas é cortada por gritos na noite, facilmente penetrando as paredes.

Ambas suspiram simultaneamente. Elas começam a saltar para fora da cama, quando a voz muda de barulho para palavras.

VOZ
(Voz em Off)
Socorro! Socorro! Eles
levaram a todos! Socorro!!!
(gritos)
Os deuses amaldiçoaram você,
Xena! É tudo culpa sua!

Ambas correm para a porta.

FADE OUT.

FIM DO TERCEIRO ATO

Raízes - Segundo Ato

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO DOS FUNDOS - CONTINUANDO

Gabrielle se sobressalta e vai até a porta, olhando para fora.

GABRIELLE
Quem está aí? Olá?


Não há resposta. Gabrielle agarra a tocha e sobe os degraus para dentro do corredor. Em torno dela, a taverna range na tempestade.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - CORREDOR - CONTINUANDO

GABRIELLE
Olá? Eu sei que alguém
estava aí. Eu vi você.

Outro lampejo de luz, mas desta vez o canto está vazio. Gabrielle caminha até lá e se agacha, tocando o chão. Está úmido e barrento. Ela toca uma pegada.

GABRIELLE
(continua)
Ao menos não estou ficando louca.


Gabrielle continua pelo corredor, procurando pelo vulto. Ela chega até um lugar sem saída, uma parede desmoronada. Ela olha em uma direção e depois na outra. Então ela inclina a cabeça para trás e olha para cima.

Ela não vê nada, e não há uma maneira óbvia de alguém ter saído passando por ela.

GABRIELLE
(continua)
Okei, talvez eu esteja ficando louca.

Gabrielle pára e retorna pelo caminho que veio, caminhando de costas enquanto observa o corredor, procurando nos cantos por algo além de sombras.

Ela não encontra nada. Ela desce os degraus e pára no vão da porta que leva ao pequeno quarto, ouvindo atentamente.

Tudo o que ela escuta é o trovão e o rangido da madeira.

CORTA PARA:

CENA EXT. TAVERNA DE CIRENE - PORTA TRASEIRA - NOITE

Xena está desatando suas bagagens e pacotes sortidos da sela de Argo II. Ela os desce para baixo de um pedaço quebrado de madeira do telhado e começa a tirar o cordame da égua. Está chovendo.

XENA
Agüenta aí, garota. Quase terminando.

Argo II relincha.

XENA
(continua)
Há um abrigo bem ali,
e um monte de grama.

Xena retira a sela e as rédeas de Argo. Ela as coloca sob o pedaço de telhado para mantê-las secas, depois se endireita e afaga o nariz de Argo.

XENA
(continua)
Vá lá, garota. Passe através daquelas árvores.
Há um campo do outro lado.

Xena olha fixo entre a chuva na direção do local.

XENA
(continua)
(suavemente)
Acredite ou não, foi onde
eu aprendi a cavalgar.
(dando um tapinha em Argo)
Pode imaginar isso?

Argo bufa, como que desacreditando. Ela trota na direção das árvores. Xena sorri e se vira para pegar seus pertences.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO DOS FUNDOS - NOITE

Gabrielle entra e olha para trás por sobre os ombros mais uma vez. Ela não vê nada, e coloca a tocha de volta no candeeiro da parede. Ela volta para a caixa e começa a se sentar, depois muda de idéia e começa a arrastar as caixas por ali para criar algum espaço.

GABRIELLE
Vamos ver o que eu posso
encontrar para fazermos de cama.

As caixas estão cheias de bugigangas. É obviamente um quarto de armazenagem de coisas que não eram usadas freqüentemente. Alguns velhos pergaminhos, ferramentas velhas, cadeiras quebradas etc.

Gabrielle puxa um pedaço de madeira de lado, e uma pilha de velhos trapos cai sobre ela. Ela os atira longe de si com um movimento quase violento.

GABRIELLE
(continua)
Pedaço estúpido de...

Ela pára e toma fôlego.

GABRIELLE
(continua)
Droga, estou começando a falar como a Xena.

Gabrielle derruba alguns caixotes velhos. Três deles estão empilhados perto da parede. Ela vai até lá e tenta puxar para baixo o de cima, mas ele se desequilibra e cai, colidindo em cima dela.

GABRIELLE
(continua)
Yahhh!!

A porta se abre e Xena salta para dentro do quarto, alerta e pronta para lutar. Ela localiza um movimento no canto e se lança nele, puxando o engradado para cima e revelando Gabrielle embaixo dele.

XENA
O que você está fazendo?


Gabrielle está coberta do conteúdo de um engradado, montes e montes de velhas peles mofadas. Ela espirra. Um pouco de pele flutua para cima e pousa em sua cabeça.

GABRIELLE
Fazendo um ninho. O que te parece?

Xena sorri em resposta.

XENA
Há lugar no ninho para duas?

Gabrielle se move. Xena se senta na pilha de peles com ela. Ambas espirram com a poeira.

GABRIELLE
(fungando)
Xena, eu vi alguém aqui dentro. Alguém
estava observando além daquela porta.

Xena olha para a porta, um pouco alarmada.

XENA
Eu não vi ninguém entrando aqui.

GABRIELLE
Eu sei. Eu não vi ninguém saindo daqui também.

XENA
Tem certeza de que você...?

GABRIELLE
Sim.
(pausando)
E ele deixou pegadas barrentas.

Xena abre a boca para dizer algo.

GABRIELLE
(continua)
Maiores que as suas.

Gabrielle olha para a porta.

GABRIELLE
(continua)
Quer que eu te mostre?


XENA
Nah. Podemos olhar de manhã. Provavelmente
era epenas alguém saindo da chuva.
Parece que você o afugentou.

Gabrielle parece aliviada. O trovão ressoa do lado de fora, e a chuva pode agora ser ouvida caindo bem mais forte. Gabrielle se inclina contra a parede de terra e olha para cima.

GABRIELLE
É bom ter um telhado sobre
nossas cabeças pra variar.
(pensativa)
Especialmente este.

Xena se esparrama ao lado de Gabrielle nas peles.

XENA
Nós teremos que reconstruir
a maior parte desse telhado.
(suspirando)
Talvez seja loucura.

GABRIELLE
Talvez. Mesmo assim, fico feliz que estejamos
fazendo isso. Vai ser bom ficar em
um lugar por um momento.

Xena puxa suas sacolas e as coloca nas peles. Ela observa Gabrielle com o canto do olho com alguma preocupação.

XENA
Você está cansada de viajar?


GABRIELLE
Não sei. Acho que só estou... cansada.

Gabrielle se inclina para trás em suas mãos e olha fixo pelo quarto.

XENA
Seu joelho está lhe incomodando de novo?

Gabrielle dá de ombros.

GABRIELLE
Ele dói. Que novidade há nisso? Acho que estou
simplesmente ficando acostumada à dor. Como você.

Xena reage, franzindo a testa levemente.

XENA
Deite-se. Pode também
evitá-la se você puder.

Gabrielle se deita e se enrola nas peles, usando sua sacola como travesseiro. Xena corre os dedos pelo cabelo de Gabrielle. Gabrielle fecha os olhos.

Xena se senta ao lado dela em silêncio, pensando profundamente.

DESVANECE PARA:

CENA INT. TAVERNA DA CIRENE - QUARTO PRINCIPAL - MANHÃ

A tempestade parou. Xena emerge dentro das ruínas de o que era o quarto principal da taverna. Na luz do dia, a condição está pior do que parecia na noite anterior. As paredes estão cheias de buracos, e está faltando a porta. Destroços estão espalhados pelo chão.

Xena caminha em torno do perímetro. Ela ouve algo atrás dela e se vira, olhando de volta dentro do corredor que leva mais para dentro da taverna.

XENA
Gabrielle?

Não há resposta. Xena vai até o corredor e observa, mas não vê nada. Ela se agacha e examina o chão, depois olha para as paredes dentro do corredor. Não há marcas visíveis.

XENA
(continua)
Não me diga que estou desenvolvendo a
imaginação depois de todos estes anos.


Xena pára perto da entrada para a cozinha e simplesmente olha para a bagunça, depois balança a cabeça. Ela está vestida apenas em seus couros. Ela amarra o cabelo para trás, e começa a trabalhar reunindo itens quebrados e destroços e os atirando para fora, pela janela.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO DOS FUNDOS - FINAL DA MANHÃ

Gabrielle está sonoramente adormecida na pilha de peles. Há duas pequenas janelas altas na parede que foram abertas para deixar o sol e o ar entrar, mas a porta para dentro da taverna está fechada.

Bem longe, passando pela porta, o som de trabalho constante pode ser fracamente ouvido.

Está calmo por alguns momentos, depois um alto estrondo é ouvido, seguido por um xingamento.

Gabrielle não se mexe ao estrondo, mas o xingamento lhe faz se sentar reta, largamente acordada.

GABRIELLE
Xena!

Gabrielle olha em volta dela, confusa. Então ela se lembra onde está e se senta contra a parede. Ela esfrega o rosto com ambas as mãos, depois as deixa cair em seu colo.

Seus olhos vão até as janelas, depois por suas roupas, as quais foram removidas e habilmente dobradas ao lado de suas botas. Ela puxa a beirada de sua camisola e apenas balança a cabeça.

GABRIELLE
(continua)
Eu sei que não adormeci vestida assim.
Não me diga que você está ficando
atenciosa com a idade, Xena.


Gabrielle puxa suas roupas e começa a se vestir apressadamente.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - QUARTO PRINCIPAL - MEIO DA MANHÃ

Xena está sentada em uma caixa virada, cuidando de sua mão direita enquanto tenta tirar uma lasca de sua palma.

O quarto principal foi toscamente limpo. Parte do telhado está faltando, agora evidente na luz do dia, e o sol se derrama no espaço aberto e sobre o corpo de Xena.

Gabrielle aparece na entrada do corredor e fica parada em silêncio, só observando Xena.

XENA
Vamos lá, seu filho de uma...

Gabrielle entra e caminha até Xena.

GABRIELLE
O que é que há?

XENA
(aborrecida)
Você, finalmente.

GABRIELLE
Você poderia ter me acordado
quando quisesse.

Xena continua a tentar remover a lasca.

XENA
Eu achei que seria bom pra você poder dormir dentro de casa.


XENA
(continua, fazendo careta)
Maldito seja...

GABRIELLE
Então agora você está resmungando por eu ter dormido?

XENA
Não estou resmungando.

GABRIELLE
Okei, lamuriando.

Xena ergue a cabeça e lança aquele olhar para Gabrielle.

XENA
Eu NÃO estou lamuriando.

Gabrielle se inclina e dá um beijo nos lábios de Xena.

GABRIELLE
Obrigada.

Ela toma a mão de Xena.

GABRIELLE
(continua)
Aqui. Agüente firme.

XENA
(rosnando)
Eu posso fazer isso sozinha.

GABRIELLE
Cale-se, Xena.

Gabrielle trata de remover a lasca. Xena espera.


GABRIELLE
(continua)
Você já fez muito.
(sorrindo)
Ah, aí vai.

Xena examina a mão, flexionando-a, depois ela se levanta, colocando os punhos nos quadris e olhando em volta.

XENA
Jogue no balde.

Gabrielle passeia por ali e olha entre o espaço da porta para a cozinha. Se é alguma coisa, o que pode ser visto através da porta está em pior forma do que o quarto principal.

GABRIELLE
Bem, eu vou começar aqui dentro.

Xena se vira na direção dela.

XENA
Gabrielle.

No espaço da porta para a cozinha, Gabrielle pára e olha para trás de modo inquiridor.

XENA
(continua)
Você não tem que fazer isso.

Ela olha em volta.

XENA
(continua)
Depois que eu comecei, eu me dei conta do
quanto de trabalho que isto vai dar. É loucura.

Gabrielle caminha de volta até onde Xena está parada.

GABRIELLE
Você ainda quer fazer isso?


Xena expira e se vira, inspecionando o quarto. Ela levanta ambos os braços, questionando.

XENA
Há alguma razão?

GABRIELLE
Para mim há.

Xena se vira novamente, surpresa. Gabrielle caminha passando por ela, depois circula o quarto, se esticando para tocar uma parede. Ela agarra um pedaço de madeira.

GABRIELLE
(continua)
Eu encontrei o meu futuro neste quarto.
(se virando)
Eu fiz uma escolha, descobri uma amiga
e parei de ser uma criança bem...
por aqui.
(olhando para baixo)
Então eu gostaria de ver este lugar
inteiro novamente, mesmo se
for apenas por pouco tempo.

XENA
Ah. Eu não sabia que você se sentia assim.

GABRIELLE
É, bem... nem eu.


Gabrielle cruza novamente até a porta que leva à cozinha e passa por ela, desaparecendo de vista. Xena é deixada um tanto surpresa, no centro do quarto. Depois de um momento, ela balança a cabeça levemente e volta ao trabalho.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - COZINHA - DIA

Gabrielle vai para a porta de fora, metade quebrada e balançando em suas dobradiças. Ela olha fixo para ela, depois abruptamente a ataca, lhe dando um sólido chute circular. A porta se parte, caindo e trepidando no chão do lado de fora.

Gabrielle olha para ela, depois esfrega a costa da mão pelos olhos, impaciente.

GABRIELLE
Bom começo.

Virando-se, Gabrielle agarra o primeiro pedaço de destroços e o atira para fora da porta. Ela encontra outro pedaço e se dirige para a abertura com ele, quase deixando-o ir quando um vulto aparece no espaço da porta. Gabrielle consegue parar seu movimento, quase caindo.

GABRIELLE
(continua)
Oh! Desculpe!

Gabrielle recupera o equilíbrio e se vira para o espaço da porta, apenas para encontrá-lo vazio.

Ela corre para a abertura e olha para fora, mas não vê ninguém.

GABRIELLE
(continua)
Que diach...? Ei! Ei!
Quem está aí fora?


Gabrielle se ajoelha perto da porta e examina o chão. Ela toca uma depressão na terra, depois olha em torno de si novamente. A área está completamente vazia tão longe quanto os olhos possam ver.

GABRIELLE
(continua)
Talvez eu apenas esteja vendo coisas.
(murmurando)
Tantas noites dormindo em pedras úmidas dá nisso.

Gabrielle volta para dentro e começa a arrastar um imenso emaranhado de madeira e ferro na direção da porta. Enquanto ela se move na direção da entrada externa, atrás de seu ombro um vulto aparece na entrada interna, observando-a.

É meio forçado, quase se pode ver através dele. As feições são indistinguíveis, mas há uma impressão de juventude.

XENA
(Voz em Off)
Gabrielle!

À voz de Xena, o vulto desaparece, assim que Gabrielle vira o rosto para ele.

GABRIELLE
(em voz alta)
Sim?

XENA
(Voz em Off.)
Tem alguma alavanca aí?

Gabrielle olha em volta de si - para a destruição - e levanta as mãos, depois as deixa cair.

GABRIELLE
(em voz alta)
Vou ver o que consigo encontrar.

Gabrielle volta a trabalhar.

CORTA PARA:

CENA EXT. TAVERNA DE CIRENE - FRENTE - DE TARDE

Xena está empilhando todos os destroços em uma imensa pira. Gabrielle emerge da frente da taverna com mais um braço cheio deles, e os atira na pilha.

GABRIELLE
Deveríamos limpar algo desta floresta
aqui fora também - você mal consegue
ver o lugar lá da estrada.

Xena concorda.

XENA
É.

Xena põe fogo na pilha de destroços. Ela caminha para trás para observá-los queimar, e Gabrielle vem até o lado e fica parada ali com ela. Gabrielle cruza os braços sobre o peito. Tanto ela quanto Xena estão cobertas de sujeira, fuligem, raspas de madeira e lixos sortidos. Xena tem um rasgo em seus couros, e o veludo vermelho do traje de Gabrielle está agora quase da mesma cor que esses couros. Gabrielle está também apresentando vários arranhões em suas canelas.

GABRIELLE
Ufa! Bem, é um começo.

XENA
(sorrindo)
Sim. É um começo.


Elas ouvem vozes atrás delas. Xena e Gabrielle se viram para encontrar o que resta do vilarejo para além da alta folhagem que as confronta.

Um dos homens alcança a frente.

CIDADÃO
Eu não sei o que você acha que está fazendo,
Xena, mas nós não queremos você aqui.

Xena continua em silêncio.

CONCIDADÃOS
É.

CIDADÃO
Então é melhor você empacotar
suas coisas e partir.

Xena dá um passo largo adiante.

XENA
É? Quem vai me convencer?

CIDADÃO
Nós vamos. Quando mais você ficar aqui, pior a
destruição que aqueles bandoleiros vão fazer
recair sobre nós por lhe deixarmos ficar.
Você já fez o bastante! Agora SAIA!

Gabrielle vem adiante. Xena estica a mão e a detém.

XENA
(rosnando)
Eu não vou a lugar algum.

Ela se vira e aponta.

XENA
(continua)
Este é o meu lugar. Meu lar. Se vocês
acham que podem me afugentar
daqui, venham tentar.

CIDADÃO
Você desistiu de reclamar por este
lugar quando você trouxe a ira
dos deuses sobre nós!!!

Xena caminha adiante e agarra o homem, erguendo-o pela camisa. Seus pés ficam dependurados sobre o chão.

XENA
(gritando)
VOCÊ... desistiu de reclamar qualquer
misericórdia minha quando vocês
queimaram minha mãe!

Xena atira o homem longe dela. Ele cai no chão.

XENA
(continua)
Eu partirei quando eu estiver bem e pronta.

A multidão olha uns para os outros, incomodados. Eles todos estão carregando bastões e varas, e alguns têm pedras nas mãos. Xena e Gabrielle não estão visivelmente armadas.

O impasse é quebrado quando o som de gritos é ouvido e, novamente, o trovão de trotes se aproxima.

CIDADÃO
Vamos deixar eles cuidarem dela! Rápido!
Mostre a eles onde ela está! Corram!

Os cidadãos se arrastam para fora do caminho, se empurrando entre os arbustos de mato alto, frenéticos para sair do caminho antes que os atacantes cheguem.

GABRIELLE
Nossos novos vizinhos deixam
algo a desejar, Xena.

Ela se vira e começa a correr.

GABRIELLE
(continua)
Vou pegar as armas.

Xena pega um pedaço de madeira em chamas.

XENA
Vou aquecer os convidados.


FADE OUT.
FIM DO SEGUNDO ATO

Raízes - Primeira Parte

FADE IN:

CENA INT. CRIPTA DA FAMÍLIA DE XENA - PÔR-DO-SOL

A porta para a cripta se abre com um rangido e Xena entra. Atrás dela, um fluxo de luz do pôr-do-sol se derrama pelos degraus, entrando na cripta. Xena acende uma tocha assim mesmo e a coloca em um candeeiro na parede.

Xena vai até o centro do espaço e olha em volta. Abandonado em Amphipolis, este lugar mudou o mínimo.

Xena caminha em torno da cripta, pousando suas mãos em algumas das relíquias. Ela toca a tumba de Liceu, a do seu pai, e o marcador que ela colocou para Cirene.

XENA
Fico feliz de você não estar
aqui para ver este lugar agora.


Xena olha em volta.

XENA
(continua)
Não importa quão longe eu vá, em algum lugar no
fundo das minhas lembranças, este lugar estava aqui.
(balançando a cabeça)
Mas não está mais.

A luz de fora é bloqueada momentaneamente, depois o portão de ferro se abre novamente e Gabrielle entra. Ela pára na entrada e olha em volta, então se junta a Xena perto do sarcófago central onde Liceu repousa. Em suas mãos, Gabrielle carrega um pequeno pacote.

GABRIELLE
Eu trouxe isto.

XENA
Obrigada.

Xena coloca as mãos no sarcófago de Liceu e o examina, trilhando o padrão entalhado em sua tampa com seus dedos. Uma leve poeira se ergue sob o seu toque.

XENA
(continua)
Este lugar tem estado aqui há muito tempo.

Gabrielle olha em volta. Além da família imediata de Xena, há sinais de enterros mais antigos ou menos recentes.

GABRIELLE
Sua família tem estado aqui há muito tempo.


Xena confirma. Ela se endireita reta e se vira para a parede mais distante. Lá há alcovas vazias. Do outro lado delas estão os mesmos tipos de alcovas, preenchidas com pequenas caixas que poderiam ser caixas de ossos ou receptáculos de cinzas.

Gabrielle se junta a ela e lhe entrega o pequeno pacote. Xena o toma e se aproxima de uma das alcovas vazias. Ela é próxima a uma alcova com uma caixa de madeira entalhada dentro, coberta de poeira, mas visivelmente mais nova do que a maioria dos outros objetos à volta.

Xena desenrola o pacote de tecido e revela alguns itens. Um é um sol coroado entalhado em madeira, outro é um par de sandálias, um terceiro é um colar, e um quarto é um manto ensangüentado. Xena os examina, depois dobra o manto primeiro e o coloca dentro da alcova.

XENA
Bem ou mal, ela era uma parte
desta família. Eu quis que parte
dela estivesse aqui também.

Gabrielle lentamente enrola o colar em torno de seus dedos e então o coloca sobre o manto. Xena coloca as sandálias ali e, por último, Gabrielle acrescenta o sol coroado.

GABRIELLE
Acho que ela ia gostar disso.

XENA
(pensativa)
Acha mesmo?

GABRIELLE
(confirmando)
Todos nós queremos ser parte de algo.
Ela era uma parte de nós.

Xena concorda. Ela se estica para remover alguma poeira da caixa da próxima alcova. Ela se vira e caminha até um banco baixo de pedra e se senta. Gabrielle se aproxima e se senta ao lado dela.

GABRIELLE
(continua)
Tudo bem com você?


XENA
(suspirando)
Sim. É só que isso nunca fica mais fácil.

Gabrielle coloca o braço em volta dos ombros de Xena.

XENA
(continua)
Mas ter alguém com quem compartilhar,
isso sim faz uma diferença.

Xena retribui o abraço.

GABRIELLE
(suavemente)
É, faz mesmo.

Xena e Gabrielle olham para a parede oposta. A última luz do sol se pondo se derrama entre os portões e se espalha sobre suas botas. Xena finalmente suspira e deixa suas mãos descansarem em seus joelhos.

DESVANECE PARA:

CENA EXT. TAVERNA DE AMPHIPOLIS - COMEÇO DA NOITE

Xena e Gabrielle emergem da cripta e caminham pelo espaço coberto de vegetação na direção da taverna. Uma figura sombria se move na direção delas quando elas alcançam a frente do prédio arruinado.

HOMEM
Esperem.

Xena e Gabrielle param. O homem se aproxima delas.

HOMEM
(continua)
Eu só queria dizer obrigado.
(para Gabrielle)
Você salvou minha vida.

Gabrielle ainda está mancando. Ela parece cansada, mas sorri para o homem assim mesmo.

GABRIELLE
Fico feliz de estarmos aqui.

Ela olha através do homem.

GABRIELLE
(continua)
Mesmo que o resto do povo não fique.


HOMEM
(embaraçado)
É só que tem sido muito difícil.
Nada se acerta por aqui mais.

GABRIELLE
Quem eram aqueles homens?

HOMEM
(dando de ombros)
Quem sabe? Eles vêm e tomam o
que conseguem pegar. Dificilmente
vale a pena aborrecê-los.
Não resta nada.

Xena se vira em um lento círculo e encara o homem.

XENA
Vocês poderiam ter limpado o lugar.
Feito ele digno de se viver.

HOMEM
Para quê? Ninguém quer vir pra cá.
Nós não conseguimos sequer mercadores
para comprar a pouca colheita que temos.
Stefan estava certo - é hora de partir.

O homem começa a se afastar para partir.

GABRIELLE
Ninguém pensou em assumir a taverna?
Talvez os mercadores não tenham
lugar para ficar e por isso...

HOMEM
A taverna?
(com um olhar horrorizado)
Somente os mortos vão lá.

O homem se vira e sai correndo. Xena vai até um toro de uma árvore morta e se senta nele.

Gabrielle a observa por um minuto.

GABRIELLE
Se...

Xena ergue os olhos.

GABRIELLE
(continua)
Se nós vamos encontrar um lugar
para dormir, deveríamos ir logo.

Xena fica sentada em silêncio. Seus olhos investigam a velha ruína da taverna.

XENA
Gabrielle, esta é a última conexão
que me restou com minha família.


Gabrielle se aproxima e se agacha perto de Xena.

GABRIELLE
Eu sei, mas...

XENA
Não posso deixar este lugar morrer.

Gabrielle parece um pouco confusa. Ela coloca a mão no joelho de Xena.

GABRIELLE
Não acho que você possa convencer
as pessoas a ficarem aqui.
(hesitando)
O que você quer fazer?

Xena fica sentada em silêncio por um minuto. Ela ergue os olhos para a taverna.

XENA
Eu quero reconstruí-la.

Gabrielle se vira e olha para as ruínas. Ela se vira de volta e olha para Xena.

GABRIELLE
Você quer que nós a reconstruamos? Você e eu?
Xena, eu não sou carpinteira. Nem você é.


Xena parece retorcidamente entretida com algo.

XENA
Nós podemos fazer isso.
(pausando)
Você está certa. Eu não posso convencer
as pessoas a ficarem aqui. Mas eu não
posso deixar este lugar assim também.

Gabrielle se senta no chão e envolte os braços em torno dos joelhos. Ela examina a taverna pensativamente antes de erguer os olhos para Xena.

GABRIELLE
Isso poderia levar um tempo.

XENA
Há algum outro lugar em
que temos que estar?


Gabrielle parece satisfeita com a resposta. Ela concorda.

GABRIELLE
Vamos ver se há um canto onde possamos
desenrolar nossos colchonetes nele,
porque eu acho que vai chover.

Prestativo, o trovão se manifesta sobre suas cabeças. Xena se levanta e oferece a mão para Gabrielle. Gabrielle se levanta lentamente, protegendo sua perna. Xena a observa com alguma preocupação. Ela coloca o braço em torno de Gabrielle e elas caminham na direção do que restou da taverna.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DE CIRENE - NOITE

O som de chuva é ouvido. Ela goteja pelo teto em ruínas e sobre a cabeça de Gabrielle enquanto ela procura por um lugar seco.

Ela se inclina sob um suporte de telhado quebrado enquanto um raio lampeja, contornando-a com uma luz prateada.

GABRIELLE
Puxa, obrigada.

XENA
(Voz em Off)
(gritando)
Encontrou algo?

GABRIELLE
(gritando de volta)
Um monte de lama! E você?

XENA
(Voz em Off)
Tábuas de assoalho apodrecidas.

Gabrielle estremece. Ela continua procurando, puxando de lado vários pedaços quebrados de madeira para revelar uma porta fechada e miraculosamente inteira. Ela está abaixo a meia série de degraus, quase sob o nível do chão.

GABRIELLE
Ora, ora...

Gabrielle cuidadosamente puxa a porta, abrindo-a, e olha dentro. Está um breu de tão escuro. Gabrielle traz sua tocha para dentro.

XENA
(Voz em Off)
Gabrielle, vamos sair daqui
antes que fiquemos...

GABRIELLE
Xena! Bem aqui!

Xena se debate entre os destroços para alcançar a porta.

XENA
Gabrielle?

Xena desaparece através da porta.

CORTA PARA:

CENA INT. TAVERNA DA CIRENE - QUARTO DOS FUNDOS

Gabrielle está parada contra a parede, erguendo a tocha. Xena fica parada ao lado dela. O quarto é muito pequeno, e obviamente não tem sido usado há um longo tempo. Caixas e vários destroços jazem espalhados por todo o lugar.

O telhado está aparentemente intacto, porém, e está seco.

GABRIELLE
Bem, já dormimos em lugares piores.


Xena pega a tocha e circula o quarto. Ela toca nas paredes.

XENA
A taverna queimou toda umas duas vezes.

Ela pousa a mão achatada na parede.

XENA
(continua)
Isto é da parte mais velha dela.

Gabrielle observa Xena mais de perto.

GABRIELLE
De quando você morou aqui?

Xena confirma silenciosamente.

GABRIELLE
(continua)
Vou buscar nossas coisas.

Xena a detém.

XENA
Eu irei. Descanse essa perna.


Gabrielle por uma vez não discute. Ela se senta em uma caixa imediatamente, obviamente em alguma dor.

GABRIELLE
Não se perca no caminho de volta.
Este lugar está um labirinto.

Xena vai até a porta, deixando a tocha para trás para que Gabrielle tenha luz. Ela desaparece na escuridão, assim que um raio lampeja do lado de fora.

Na luz prateada, Gabrielle claramente vê um vulto do lado de fora do quarto a observando.

FADE OUT.
FIM DO PRIMEIRO ATO

Raízes - PRÓLOGO

FADE IN:

CENA EXT. ESTRADA NA FLORESTA - TARDE

Xena e Gabrielle estão sentadas em um pequeno afloramento de pedras bem à beira da estrada. Elas estão dando uma pausa na caminhada e tomando um pouco de água.

O tempo está moderadamente ameaçando chuva. Xena ainda está usando seu capote e Gabrielle seu casaco. O vento agita seus cabelos e sopra algumas folhas mortas ao longo do sujo caminho por onde elas estão viajando.

GABRIELLE
É bom estar em solo familiar.


XENA
(fracamente sorrindo)
É, mesmo embora eu saiba que só
haverá ruínas ao fim da estrada.

GABRIELLE
(calorosamente)
Eu me lembro de correr descendo por esta
estrada, caçando você depois que você
nos resgatou daqueles escravagistas.

Xena assente, sua expressão é quieta e pensativa.

XENA
Eu me lembro de cavalgar descendo por esta
estrada, me xingando por não conseguir parar de
pensar naquela garota loirinha conversadeira
que eu tinha acabado de tirar de um aperto.


Gabrielle chuta uma pequena pedra para o outro lado da estrada.

GABRIELLE
Sério? Eu achava que você não conseguia
era se livrar de mim rápido o suficiente.

Xena se levanta e se prepara para continuar.

XENA
Bem, isso foi depois que eu
me livrei de você, não foi?

Gabrielle se junta a Xena.

GABRIELLE
Você queria.

Xena e Gabrielle começam a caminhar. Argo II anda a passo lento atrás delas sem ser dirigida. Está quieto em torno delas; os únicos sons são os dos cascos de Argo II e das botas de Xena e Gabrielle.

Gabrielle observa Xena com o canto do olho. Xena parece um pouco abatida. Depois de alguns passos, Gabrielle se estica e toma a mão de Xena e a segura enquanto elas caminham.


CORTA PARA:

CENA EXT. ESTRADA DE AMPHIPOLIS - FINAL DA TARDE

Xena e Gabrielle lentamente vêm subindo a estrada. A cidade está em sua maioria o mesmo campo de destruição que estava da última vez que elas a viram, durante A Assombração de Amphipolis*. * episódio 114 da série, 2º episódio da 6ª temporada (NT).

Há algumas pessoas por ali, mas ela está em sua maioria deserta. Algumas folhas mortas sopradas pelo vento passam por Xena e Gabrielle quando elas se aproximam e passam por cabanas fechadas com tábuas dispostas dos dois lados do caminho que leva à taverna.

Há uma velha mulher parada em um dos poucos abrigos habitados. Ela fita Xena, depois deliberadamente vira suas costas e vai para dentro da cabana, fechando a porta.

Xena e Gabrielle continuam caminhando, até virarem uma esquina e passarem entre algumas árvores excessivamente cobertas de vegetação.

CORTA PARA:

CENA EXT. TAVERNA DE AMPHIPOLIS - FINAL DA TARDE

A taverna está destroçada. A maior parte da frente ruiu, mas há uma fenda parcial onde a porta um dia esteve. Há musgo e hera crescendo por todo o lugar.

XENA
(suspirando)
Talvez não tenha sido uma boa idéia.


Gabrielle caminha adiante e pega um velho e quebrado pedaço de madeira. Nele está escrito "Taverna da Cirene", mas as palavras são quase indistinguíveis.

Gabrielle ergue os olhos para os destroços da taverna.

GABRIELLE
Sempre vale a pena voltar aqui.
Não importa a aparência disto agora,
há algumas memórias que eu aprecio
com relação a este lugar.

Xena caminha adiante e toma a placa. Ela olha para a placa tristemente.

Um grito vem no vento, e ambas erguem os olhos. Seguindo o som, vêm batidas de trote de cascos, e então a cidade estoura em algo em que pouca atividade humana é possível dadas estas condições.

Um homem vem correndo passando por elas.

HOMEM
Escondam-se! Corram! Rápido!

Xena e Gabrielle se viram para ver um grupo de bandidos cavalgando na cidade, brandindo armas. Xena gentilmente deixa a placa no chão e assobia.

Argo II sai correndo de onde quer que estivesse comendo grama e/ou feno ou o que quer que os cavalos de Xena façam quando não estão à vista. Xena agarra o gancho da sela de Argo II e se puxa para bordo quando a égua passa correndo.

XENA
Yeahhh!!

Xena conduz Argo na direção dos atacantes enquanto desembainha sua espada. Gabrielle puxa seus sais e começa a correr atrás dela.

GABRIELLE
Algumas coisas simplesmente nunca mudam.


CORTA PARA:

CENA EXT. ESTRADA DE AMPHIPOLIS - MOMENTOS DEPOIS

Os bandidos atacam a cidade. Eles não parecem querer destruí-la, mas correm entre as cabanas e se curvam para pegar o que quer que suas mãos alcancem.

Os poucos aldeões à vista correm de terror. Um cai e é perseguido por um dos atacantes, que tenta pisoteá-lo com o cavalo enquanto os atacantes riem.

Gabrielle pula na frente do atacante e agarra o aldeão, arrastando-o pra fora assim que o cavalo os alcança. O cavalo colide contra o ombro de Gabrielle, lançando-a para um lado. Ela se abaixa desviando do golpe da machadinha de um atacante e gira, chutando o cavalo na retaguarda, em frustração.

GABRIELLE
Filho da mãe!

O cavalo dá um pinote, jogando o atacante a meio chão.

Dois mais atacantes se dirigem a Gabrielle, gritando enquanto se inclinam em seus cavalos para agarrá-la.

Xena conduz Argo vindo de entre as árvores e encontra o primeiro deles, sem hesitar um instante enquanto gira seu braço em um arco e corta a cabeça do atacante para fora dos ombros dele.

XENA
YeeeaahhhhHH!!!!!!!

Dois atacantes viram repentinamente na direção dela. Xena cavalga direto e reto entre os cavalos deles, e se abaixa ao último segundo enquanto eles agitam suas machadinhas na direção dela e acabam atingindo um ao outro em vez disso.

Os dois homens caem de seus cavalos.

CHEFE DOS ATACANTES
Esqueçam! Venham! Vamos!
Voltaremos mais tarde!!

Um dos atacantes agarra uma galinha e a enfia debaixo do braço enquanto eles se retiram. Gabrielle o avista e arremessa seu sai nele, o qual bate nas costas da cabeça do atacante e o faz soltar a ave.

Os atacantes partem, desaparecendo na escuridão. Xena cavalga até o pequeno grupo de pessoas reunidas perto das últimas cabanas habitáveis e pula para fora das costas de Argo.

XENA
Do que se tratava tudo isso?


Gabrielle recupera seu sai e vem até o lado de Xena. Ela está levemente mancando.

CIDADÃO
Apenas terminando o que
você começou, Xena.

Ele olha em volta, desgostoso.

CIDADÃO
(continua)
É isso! Chega, estou fora. Estamos
partindo amanhã. O lugar está morto.

O homem se vira e vai embora. O resto da multidão olha para Xena e Gabrielle, depois eles também se viram e vão embora.

Xena e Gabrielle são deixadas sozinhas na rua ao crepúsculo, com apenas um homem sem cabeça e galinhas esquisitas fugindo do sangue.

FADE OUT.
FIM DO PRÓLOGO

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Quem Observa o Observador Parte 2 - Quarta Parte

CENA INT. PRISÃO DO ESTALEIRO DA CIDADE DE HEDELON - NOITE

A carroça gira até vir parar dentro do pátio da prisão. Eva e Xena pulam pala fora quando um grupo de homens se aproxima pelo outro lado. Eles abrem a traseira da carroça e começam a carregá-la de caixas.

Xena e Eva se escondem nas sombras.

EVA
Eu não reconheço nenhum deles.

Xena observa os homens.

XENA
Você tem alguma idéia do
que eles estão fazendo?


EVA
(balançando a cabeça)
Não. O que há nas caixas?
Você sabe, não sabe?

XENA
Coisas para vender no mercado.

Eva observa os homens.

EVA
Talvez estejam apenas ganhando a vida.
(olhando para Xena)
Eu sei que não é a primeira
coisa que você pensaria.

Os olhos de Xena se estreitam.

XENA
Não. Gabrielle é quem ganha o
salário honesto *nesta* família.

Xena lança a Eva um olhar agudo. Eva parece brevemente ausente. Então ela olha de volta.

EVA
Desculpe. Eu sei que você está tentando
fazer o que você acha que é certo.
(pausando)
E eu estou feliz por você ainda estar por aqui.

XENA
(suspirando)
Você está fazendo o que acha que é certo também...

Três homens de manto entram no pátio. Eva solta um ofego quase audível.

XENA
(continua)
Reconhece-os? Ou você vai me dizer que
qualquer um pode conseguir um manto?

EVA
(suavemente)
Não. Eu os conheço.

Eva se move na direção dos homens, agora assumindo a liderança. Xena anda furtivamente atrás dela até elas estarem bem atrás de onde os homens estão parados conversando.

HOMEM DE MANTO
Apressem-se. Eu quero levar essas coisas para fora
logo, no caso de alguém pensar em vir espiar.

CARREGADOR DA CARROÇA
Qual a pressa? Você não está com medo
daquela enorme monstra que os
guardas viram, está?

Eva olha para Xena. Xena parece vagamente entretida.

HOMEM DE MANTO
Não. Eu só não quero mais nenhum erro. Nós vamos
levar os prisioneiros para fora da cidade também.

Eva agora parece bastante aborrecida.

CARREGADOR DA CARROÇA
Para conseguir um melhor resultado deles, aposto.

HOMEM DE MANTO
Estamos aumentando o valor dos impostos também.
Tinha um bando inteiro de caipiras que apareceram
aqui esta tarde por terem ouvido sobre...
(com uma voz afetada)
A Mensagem.

As mãos de Eva ficam tensas. Xena meramente a observa. Todos os homens riem. O homem de manto se vira e vai embora, passando a centímetros de onde Eva e Xena estão.

Eva e Xena desvanecem novamente nas sombras.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - CÂMARA INTERNA - NOITE

Gabrielle está sentada, cercada pelos acólitos. San está lá, assim como a garota loira. Eles parecem ter se conformado à presença de Gabrielle, e parecem relaxados e interessados.

GABRIELLE
Então, essa é a história. Estou feliz em ver que
Eva está espalhando a mensagem de Elai
para tantas pessoas. É uma coisa boa.

SAN
Gabrielle, como você sabe tanta coisa
do que aconteceu? Você não é nem
um pouco mais velha que nós.

GABRIELLE
(se retorcendo)
Vocês simplesmente terão que acreditar em mim.

(erguendo os olhos)
Eu vou ver se a meditação acabou.
Já volto.

Gabrielle se levanta e parte. Atrás dela, os acólitos se reúnem e sussurram.

CORTA PARA:

CENA EXT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - NOITE

Os homens de manto que acabaram de deixar a prisão caminham em direção a uma entrada nos fundos do templo. Xena e Eva os seguem.

HOMEM DE MANTO
Vamos tomar uma bebida enquanto eles
estão todos estudando seus umbigos.

Seus dois companheiros riem. Eles abrem uma porta oculta e deslizam para dentro. Xena e Eva param quando a porta se fecha rapidamente atrás dos homens e elas ficam do lado de fora.

XENA
Você precisa ver mais?

EVA
(silenciosamente)
Não.

Xena coloca uma mão no ombro de Eva.

EVA
(continua)
Como pode algo tão bom quanto esses
ensinamentos irem tão mal, mãe?

Xena indica com a cabeça na direção da frente do templo.

XENA
Não sei.

(apontando)
Vamos entrar.

Xena e Eva caminham na direção da entrada. Atrás delas, a porta oculta desliza aberta e dois homens olham para fora, observando-as partir.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - CORREDOR - NOITE

Gabrielle desce o corredor em direção ao quarto de Eva. Ela ouve vozes se aproximando, e se esquiva para dentro de uma pequena alcova. Dois homens caminham lentamente na direção dela.

HOMEM DE MANTO
Eu lhe disse que elas nos seguiram.
Nós não podemos mais nos arriscar.

SEGUNDO HOMEM DE MANTO
O que podemos fazer? Você sabe que essas
multidões absorvem cada palavra que ela diz.

HOMEM DE MANTO
Eles seguiriam qualquer um.
(rindo)
Nós simplesmente temos que lhes dar
um(a) outro(a) Iluminado(a).

Os homens se viram para um lado do corredor e desaparecem. Gabrielle sai da alcova e corre até a esquina, olhando em volta para ver se pode avistar os homens.

GABRIELLE
Droga.

Os homens desapareceram de vista. Gabrielle se vira e corre para o quarto de Eva.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - APOSENTOS DE EVA - NOITE

Gabrielle entra. O quarto ainda está vazio. Perturbada, Gabrielle se senta na beira da cama para esperar.

GABRIELLE
Por que as coisas nunca podem ser simples conosco?
(pensativa)
Antes costumava ser apenas esmagar uns senhores
da guerra toda semana. Depois foram exércitos.
Depois foram deuses. Depois fantasmas.
(suspirando)
Agora nós sequer podemos parar para um festival
sem nos envolvermos com o destino do mundo.
Cara, isso às vezes é desgastante.

Gabrielle inclina seus cotovelos nos joelhos e escora o queixo nos punhos.

A porta se abre, e Xena e Eva entram. Ambas estão de cara fechada. Eva vai até sua mesa de orações e se senta, fitando pensativamente o chão.

XENA
Vejo que você sobreviveu ao sermão.

GABRIELLE
Você viu o que precisava, Eva?


Eva confirma. Xena se senta na cama ao lado de Gabrielle.

XENA
Eles sabem que algo está acontecendo. Eles
estavam levando os bens dos escravos para fora.

GABRIELLE
Eu sei. Eles também estão planejando
uma mudança de profeta.

Eva ergue os olhos para ela, surpresa.

EVA
Quê?

GABRIELLE
(calmamente)
Eu ouvi dois dos seus ajudantes discutindo
como substituir você por alguém
menos perigoso.

EVA
(calorosamente)
Eu não sou perigosa!
Eu percebo que aqueles homens...
(suspirando)
Eu sei que eles andam tirando
vantagem das pessoas, mas...

XENA
(de um modo claro)
Eva, você sabe melhor do que isso.

Eva cai em silêncio.

XENA
(continua)
Esses filhos da mãe conhecem uma boa coisa
quando vêem uma. Nós temos que...

Eva se levanta.

EVA
*Eu* tenho que decidir o
que fazer quanto a isso.

Ela se vira e fala firmemente.

EVA
(continua)
E preciso de tempo para pensar. Sozinha.

Xena se levanta. Gabrielle se junta a ela.

XENA
Tudo bem.


Eva parece se arrepender de ter sido meio rude.

EVA
Há outro quarto depois daquela porta.
Vocês podem descansar um pouco se quiserem.
(hesitando)
Eu apenas tenho muita coisa para considerar.

Xena e Gabrielle caminham até a porta.

XENA
Não pense demais. Quanto mais longe
eles forem com um plano, mais
difícil será detê-los.

Xena abre a porta e passa por ela. Gabrielle dá a Eva um olhar preocupado, mas segue Xena.

Eva se senta na cama. Ela fita suas mãos unidas por alguns momentos. Então uma batida vem da porta exterior.

EVA
Sim?

A porta se abre, e a garotinha loira olha para dentro.

EVA
(continua)
Olá, Amber.

Encorajada, a garota entra.

AMBER
Aquela nova mulher disse que você estava meditando, Iluminada.
Não quero incomodá-la, mas eu soube que não fez sua ceia.

EVA
(silenciosamente)
Não estou com fome, obrigada.
(pensando)
Mas sabe o que você
poderia fazer por mim?

AMBER
Qualquer coisa, você sabe que o farei.

EVA
Diga a todos que amanhã eu quero ter a
maior audiência de todos os tempos. Eu
tenho uma nova mensagem para lhes dar.

Os olhos da garota se iluminam.

AMBER
Oh! Direi! Eu direi a todos!

A garota sai correndo. Eva se puxa para trás e se senta contra a parede, parecendo muito pensativa.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - QUARTO DE HÓSPEDES - NOITE

O quarto de hóspedes é ainda mais modesto que o de Eva. Há um catre toscamente largo o suficiente para caber uma pequena cabra e há uma cadeira e uma mesa. Xena e Gabrielle escolheram sentar no chão, o qual tem um tapete de junco nele.

Gabrielle arrumou um sanduíche de pita em algum lugar, e está dividindo-o com Xena, junto com o conteúdo de um odre de pele.

XENA
Acho que fui dura demais com ela.


GABRIELLE
(pensando)
Às vezes você vê seu objetivo tão
claramente que não tem muita paciência
com as pessoas que não o vêem.

Ambas ficam em silêncio, pensando em outros tempos.

XENA
Eu poderia ter dado a ela
o benefício da dúvida.
(pausando)
Mas eu não tendo a fazer isso também.

Gabrielle quebra sua metade do sanduíche no meio e o dá a Xena.

GABRIELLE
É muita coisa para absorver, Xena. Ela realmente
fez algumas coisas boas aqui, e agora ela tem
que encarar o fato de essas coisas boas
terem sido tão distorcidas.
(suspirando)
Isso é difícil. Mas eu acho que ela
só precisa de algum espaço.

Xena assente.

XENA
Você está certa. Amanhã descobriremos
como salvar as ovelhas e chutar os lobos.

Gabrielle se aconchega em Xena e elas põem seus braços em torno uma da outra.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - APOSENTOS DE EVA - TARDE DA NOITE

Eva está de pé, com as mãos unidas e os olhos fechados, em intercessão.

Depois de um momento de silêncio, ela abre os olhos e vai até a porta interna, abrindo-a cuidadosamente. Ela olha através da abertura da porta.

Do lado de dentro, Xena está sentada contra a parede, aparentemente cochilando. Gabrielle está enrolada sonoramente adormecida nos braços de Xena.

Eva fica ali apenas olhando para elas por um breve momento. Então ela lentamente fecha a porta novamente e se inclina contra ela.


CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - APOSENTOS PRINCIPAIS - MANHÃ

Há um ar de grande animação. Muitos dos acólitos estão em pequenos agrupamentos, conversando juntos.

Xena e Gabrielle entram e olham em volta.

XENA
Onde ela está?


Gabrielle aponta para a porta que leva para dentro da área de adoração do templo.

GABRIELLE
É um bom palpite.

Xena e Gabrielle caminham até as largas e fechadas portas. Xena segura nos puxadores e abre as portas, transpondo-as a um passo largo para dentro do salão de adoração. A multidão de acólitos pára e as fita, em choque.

Gabrielle segue Xena, fechando as portas atrás delas com um pequeno sorriso para a multidão.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - SALÃO DE ADORAÇÃO - MANHÃ

Eva está de pé perto da plataforma erguida no final do salão. Ele tem um teto alto, e é gracioso, embora modestamente decorado.

Eva se vira quando Xena e Gabrielle entram. Ela fica parada perto da plataforma e espera enquanto elas se aproximam.

EVA
Bom dia.
Fico feliz de terem me encontrado.

Xena estava para dizer algo. Agora, ela pára e aparentemente muda de idéia. Gabrielle entra no diálogo no lugar dela.

GABRIELLE
San acabou de me dizer que você
está convocando um grande encontro.

Eva confirma.

EVA
É isso mesmo. Eu pretendo compartilhar
com todos o que nós... o que eu
descobri ontem.

XENA
(cautelosamente)
Pode ser perigoso se ficarem
sabendo o que você está fazendo.

Eva confirma novamente.

EVA
Sim.
(brevemente sorrindo)
Eu me certifiquei de que ficaram.

Uma batida na porta soa bastante alto dentro do aposento. A porta se abre, e Amber põe sua cabeça para dentro.

AMBER
Iluminada, eu fiz como você pediu.
As mensagens foram enviadas.

EVA
(sorrindo)
Obrigada, Amber.

Amber parte. Eva se vira e volta para a plataforma, subindo nela e arrumando alguns panos drapeados.

XENA
(de modo claro)
Você está fazendo de si mesma um alvo.

Gabrielle cruza atrás de Xena e fica perto da parede dos fundos, onde o selo do sol coroado está entalhado na madeira e encaixado na pedra.

EVA
Ambas conhecemos pessoas que precisam
ver a verdade. Apenas ouví-la às
vezes não é o suficiente.

XENA
Você está esperando que seus
fiéis se ergam em ultraje?
(se retorcendo)
E se eles estiverem metidos nisso?


Eva parece perturbada. Ela remexe nos drapeados novamente.

EVA
Esse é um risco que corro. Eu estou
colocando minha mensagem... os valores
que eu escolhi ensinar, em jogo.

XENA
Aqueles caras têm muitos interesses em jogo. Eles podem
não se importar com quem vai sair machucado.
(pausando)
Ou morto.

EVA
Estou ciente disso. Mas alguém tem
que deter isso, e eu já comecei.

Eva caminha para fora da plataforma e se dirige para uma porta lateral.

XENA
Eva...

Eva se vira.

EVA
Você não vai me dar um sermão
sobre eu estar me colocando na
linha de fogo, vai, Mãe?

O maxilar de Xena estala fechando-se.

EVA
(continua)
Fico feliz. Sei que você
entende o que estou fazendo.

Eva caminha através da porta lateral. Xena olha para Gabrielle. Gabrielle meramente se vira e segue Eva. Depois de um segundo, Xena também as segue.

CORTA PARA:

CENA EXT. DEGRAUS DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Dois dos homens de manto se encontram nos degraus.

HOMEM DE MANTO
Você ouviu? Você viu
aqueles cartazes?

SEGUNDO HOMEM DE MANTO
Relaxe. Já dei um jeito nisso.

HOMEM DE MANTO
Com todos aqueles adoradores lá dentro?
E quanto aquela mulher monstro?

SEGUNDO HOMEM DE MANTO
(sorrindo)
Eu te disse. Relaxe.

Os dois homens sobem pelos degraus e entram no templo.

CORTA PARA:

CENA INT. CÂMARA INTERNA DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Eva entra. Ela chega ao meio do aposento quando Gabrielle e Xena entram atrás dela.

GABRIELLE
Eva.

Eva pára, mas não se vira.

EVA
Desculpem. Preciso de algum tempo
para preparar o que vou dizer.

XENA
Você não pode simplesmente subir lá e começar
a atirar acusações, Eva. Ao menos
vamos conversar sobre...

EVA
Não.

Eva se vira e vai até Xena. Ela se estica e toma as mãos de Xena.

EVA
(continua)
Mãe, por favor. Esta é minha escolha.
Eu estou disposta a aceitar as
conseqüências, assim como você estava.

GABRIELLE
Certo ou errado?


Tanto Eva quanto Xena olham para Gabrielle. Gabrielle caminha de volta para a porta dentro do templo e passa por ela, batendo a porta atrás de si com um alto estrondo.

Xena e Eva olham fixo e brevemente para a porta fechada.


Então elas volta a atenção uma a outra.

XENA
Ela vai ficar bem.

Xena e Eva caminham até um banco e se sentam.

EVA
É irônico, não é? A primeira vez que lhe
encontrei depois de crescer, eu estava ocupada
matando a pessoa que eu tinha me tornado hoje.

XENA
Essa é a questão? Você está
tentando compensar aquilo?

Eva dá de ombros.

XENA
(continua)
Conselho gratuito: isso não funciona.

Eva se levanta. Ela corre as mãos pelo cabelo.

EVA
Eu quis ensinar as pessoas sobre se
darem bem. Sobre como viverem juntas,
e como ajudar seus próximos.
(pausa)
Sobre o amor. O tipo de amor de Elai.

Ela se vira na direção de Xena.

EVA
(continua)
Eu venho falando de amor há quase
dois anos. Mas quando eu vejo você e
Gabrielle, eu me pergunto se ele um dia
entendeu o que o amor realmente é.

Xena considera.

XENA
(sorrindo)
Acho que ele entendeu o conceito.
A realidade é algo mais de um modo geral.

Eva se senta perto de Xena.

EVA
O suficiente para desistir
da sua própria redenção?

XENA
O suficiente para ser a minha redenção.
Então não se arrisque demais, Eva.
Você nunca sabe quando poderia dobrar
uma esquina e descobrir que o que estava
procurando estava bem ali ao seu lado.

Eva assente, mas é claro que ela não está realmente assimilando as palavras.

EVA
Mãe, eu quero que você me prometa que, não
importa o que acontecer, você não irá interferir.

XENA
Eva...

EVA
Prometa-me. Este é meu destino.
Deixe-me ir aonde quer que ele me leve.


Xena se levanta. Eva se levanta também. Xena coloca as mãos nos ombros de Eva.

XENA
Tudo bem.

Eva parece aliviada. Xena hesita, depois puxa Eva para um abraço. Eva retribui o abraço de todo o coração.

EVA
Quando isso terminar, nós iremos beber algumas
cervejas e conversar. Eu realmente senti sua falta.


XENA
Por mais repugnante que essa coisa toda é,
estou feliz por ela nos ter conduzido até aqui.


Elas se separam, e Eva sorri.

EVA
Você pode esperar aqui.
Eu vou, hum...

XENA
Vá. Ela também te ama.

Eva parte, muito aliviada. Xena suspira, e se senta. Seus olhos vagueiam pelo interior do aposento, e ela parece apreensiva.


CORTA PARA:

CENA INT. SALÃO DE ADORAÇÃO DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Do lado de fora da porta, um alto rumor de conversa pode agora ser ouvido. Há um ar de animação que penetra o salão de adoração.

Eva entra, olhando em volta, e localiza Gabrielle conversando com Amber. Ela se apressa pelo aposento, indo até onde elas estão paradas.

AMBER
Iluminada, todos estão vindo.
Está tão cheio lá fora, você mal pode
se mover. Posso abrir as portas?

EVA
Em breve, Amber. Você pode se certificar que as
portas externas estão todas largamente abertas?
Está ficando quente aqui dentro.

AMBER
Claro!
(sorrindo)
Eu volto já.

Amber sai correndo. Gabrielle a observa partir. Então Gabrielle se vira na direção de Eva.

GABRIELLE
Desculpe.


EVA
Não se desculpe. É agradável ter pessoas
à minha volta que se preocupam comigo mas que
não me tratam como uma estátua de barro ou vime.

GABRIELLE
Hum. Eu ouvi dizer que estar em um pedestal
pode causar torcicolo em seu pescoço.

Eva sorri. Ela segura no braço de Gabrielle, e elas brevemente se abraçam.

EVA
Você realmente acha que esta
é a coisa errada a fazer?

GABRIELLE
Para ser honesta, nós fizemos algo
tipo isso lá naquele vilarejo.

Eva ri suavemente.

GABRIELLE
(continua)
Mas era diferente.

EVA
Porque era você.

GABRIELLE
(sorrindo)
Algo assim.
É o que fazemos.

EVA
(pensativamente)
É bom saber que vocês
estão lá fora fazendo isso.

O barulho da multidão cresce, e a porta começa a se abrir.

GABRIELLE
Xena ainda está lá dentro?

EVA
Eu fiz ela prometer
não se envolver.

Gabrielle dá um tapinha no ombro de Eva, depois se vira e se dirige para a porta interna. Antes de entrar, ela se vira.

GABRIELLE
Boa sorte.

Eva levanta a mão e acena, então se posiciona enquanto as portas se abrem e a multidão começa a fluir para dentro.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - CÂMARA INTERNA - MOMENTOS DEPOIS

Gabrielle entra. Xena está sentada no banco. Gabrielle caminha até lá e se senta ao lado dela.

XENA
Ela fez você prometer?

GABRIELLE
Não. Ela ainda tem uma coisa ou duas para aprender.

Xena grunhe.

XENA
Eu acho que esse seu sorriso fofo
simplesmente faz todo mundo de bobo.


Gabrielle deixa a cabeça descansar contra o ombro de Xena.

GABRIELLE
Espero que o plano dela funcione.

XENA
(suspirando)
Não é mais maluco do que
alguns que nós já tivemos.

Gabrielle toma as mãos de Xena e as segura.

CORTA PARA:

CENA INT. SALÃO DE ADORAÇÃO DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Eva está parada na plataforma, olhando para a multidão. O salão está lotado, mas Eva examina os rostos diante dela e vê alguns que parecem mais em alerta do que ansiosos.

A luz das janelas paira alto no telhado do salão do templo e cai pela plataforma, contornando Eva enquanto ela espera. As pessoas ainda estão entrando.

Amber se aproxima de Eva, e se ajoelha perto da frente da plataforma, oferecendo a ela uma mão cheia de flores.

EVA
Ah... obrigada. Elas são pra quê?

AMBER
Sem motivo. Eu só achei que eram
bonitas e que você gostaria delas.

Eva cheira as flores e sorri.

EVA
São mesmo, e eu gostei sim.

Amber se levanta e vai para trás, voltando a ficar na linha de frente dos acólitos.

O vasto salão está agora transbordando de gente. Eva caminha para trás com suas flores, e se prepara para começar a falar.

CORTA PARA:

CENA INT. CÂMARA INTERNA DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Xena e Gabrielle estão sentadas escutando. Através da parede, elas ouvem Eva começar a falar.

EVA
(Voz em Off)
Meus amigos. Obrigada por virem ouvir
a esta nova mensagem de que falei.
(pausando)
Não é uma boa mensagem. Ela não
é calorosa, e não fala de amor
ou gentileza ou partilha.

Um baixo murmúrio é ouvido através da porta.

EVA
(Voz em Off)
(continua)
Ao contrário, é uma mensagem de crueldade.
É uma mensagem de roubo e de dor, e o que
é pior, é uma mensagem de que tudo isso
está vindo daqueles em torno de vocês.

VOZ
(Voz em Off)
Não! Aqui?

EVA
Aqui. E em toda a parte.
(mais alto, quase rugindo)
E em MEU NOME.

Gabrielle aperta a mão de Xena.

GABRIELLE
(sussurrando)
Ela falou igualzinha a você.

Xena esboça um sorriso.

VOZ MASCULINA
(Voz em Off)
Esperem! Eu ouvi outra mensagem!

Murmúrios.

VOZ MASCULINA
(Voz em Off)
(continua)
Eu ouvi dizer que demônios vieram,
e impuseram o interesse deles
aqui! Através de você!

VOZ
(Voz em Off)
O quê?

VOZ MASCULINA
(Voz em Off)
Forasteiras vieram! Nós todos
as vimos! Devemos deter
os demônios! Agora!

Xena e Gabrielle rapidamente se levantam.

XENA
Acho que acabamos de nos envolver.

GABRIELLE
Acho que você está certa. Mas
mesmo se não o tivermos...

XENA
Ela simplesmente terá que me perdoar.

Xena e Gabrielle correm para a porta.

CORTA PARA:

CENA INT. SALÃO DE ADORAÇÃO DO TEMPLO DE HEDELON - AO MESMO TEMPO

O salão está em caos. Grupos de pessoas estão se empurrando na direção de Eva. Alguns acólitos foram empurrados ao chão. Eva está tentando gritar acima do barulho do tumulto.

EVA
Não! Não! Ouçam-me!


VOZ MASCULINA
Não ouçam a ela!
É a voz dos demônios!

Xena e Gabrielle entram. Elas começam a forçar caminho na direção do palco.

AMBER
Não! Elas não são demônios!
Vocês são os demônios!

Amber se arrasta subindo até a plataforma com Eva. Ela aponta para a multidão.

AMBER
(continua)
Olhem! Lá! Ele tem...

EVA
(desesperadamente)
Ouçam-me! Todos vocês! Eles
tomaram seus bens, e usaram isso
para roubar dinheiro de nossos vizinhos!
Olhem em volta de vocês! Olhem!

VOZ MASCULINA
Demônios! Lá! Vocês estão vendo!!! Depressa!

Xena alcança a beirada da plataforma. Eva a avista, e por um décimo de segundo um olhar de total alívio cobre seu rosto. Xena o vê.

Gabrielle se debate contra um homem grande bem na frente dela. Ela avista uma arma sob seu manto.

GABRIELLE
Xena!


Xena começa a se virar. Ela pára e gira quando ouve um arco sendo levantando entre a multidão. Ela procura freneticamente.

AMBER
Eva! Veja! Ele está...

Um homem na multidão ergueu seu arco. Ele o aponta para Amber e solta o gatilho.

VOZ MASCULINA
Garota estúpida!

Eva vê a flecha vindo. De um só bote, ela agarra Amber e se vira enquanto a flecha as alcança.

A flecha atinge Eva nas costas, atravessando-a.

Ela começa a cair.

O arqueiro também cai, a adaga de Xena se enterrou em seu coração apenas a um momento tarde demais.

Eva pende nos braços de Amber e elas caem ao chão. Xena está lá em um instante. Há sangue por toda a parte. Xena gentilmente gira Eva, mas é tarde demais.

Eva está morta.

Gabrielle vem até o lado de Xena e se ajoelha, segurando-a para Xena.

AMBER
(em voz trêmula)
Ela estava certa.
(fungando)
Há demônios entre nós...
aí fora. Com arcos.

Sua voz quebra.

AMBER
(continua)
Matando nossos sonhos.

A multidão ficou atônita e imóvel. Agora eles olham em volta. Homens começam a sacar as armas de debaixo de seus mantos.

AMBER
(continua)
(gritando)
Não deixem eles fazerem isso!

Amber salta, com o manto encharcado do sangue de Eva. Ela corre até o homem armado e salta sobre ele em total ira.

Em um instante, o movimento de choque dos acólitos se vira para os tratantes em seu meio. Estando muito perto, os homens não conseguem usar as armas, e isso se transforma em uma imensa luta corpo-a-corpo.

Mas, na plataforma, ignorando a multidão e a luta, Xena toma a mão de Eva e a aperta, com uma expressão profundamente triste.

Gabrielle coloca os braços em torno de Xena e simplesmente a abraça.

Os acólitos mandam um grito de triunfo quando começam a levar os tratantes ao chão.

Para Xena e Gabrielle, o som é vazio.

FADE OUT.

FIM DO QUARTO ATO

CONCLUSÃO

FADE IN:

CENA EXT. DEGRAUS DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - MANHÃ

Gabrielle se senta com Amber nos degraus. A frente do templo está drapeada de branco. Amber ainda está vestida com seu manto ensangüentado.

AMBER
É como aquela história que você nos contou, não é?
Quando Elai teve que morrer para se certificar
que seu sonho permaneceria vivo?

GABRIELLE
(tristemente)
As pessoas não deveriam ter que morrer, Amber.

AMBER
Mas de outra forma nunca teríamos
acordado para mandar o mal
para fora de nosso meio.

GABRIELLE
Talvez. Mas eu não posso evitar de
lamentar a perda de uma amiga.
(mais suavemente)
De uma filha.


AMBER
(muito pensativamente)
Fico feliz por ter lhe dado aquelas flores.
Acho que você estava certa, ela gostou delas.

Gabrielle ergue os olhos e vê Xena descendo pela rua com Argo II. Ela se levanta.

GABRIELLE
Eu espero que vocês mantenham as idéias dela vivas.

AMBER
Manteremos. Nós vamos enviar professores.
Era o grande sonho de Eva fazer isso assim que
eles estivessem prontos. Eles se certificarão de
que a mensagem certa seja ouvida desta vez.

Gabrielle aperta o ombro de Amber.

GABRIELLE
Boa sorte.

AMBER
Por que você não fica conosco?
Você poderia ajudar. Você conhece
os ensinamentos como ela conhecia.

Gabrielle observa Xena se aproximar delas.

GABRIELLE
Porque meus ouvidos escutam
uma voz diferente agora.

Gabrielle desce os degraus e se junta a Xena quando ela passa. Elas caminham lado a lado descendo a rua, na direção dos afastados portões.

CORTA PARA:

CENA EXT. CLAREIRA NA FLORESTA - COMEÇO DA NOITE

Xena e Gabrielle estão sentadas perto da fogueira. O sol acabou de se pôr, e está ficando escuro. O ar é frio, e as estrelas estão aparecendo sobre suas cabeças.

Ambas estão muito quietas. O crepitar do fogo é o único som por um momento. Finalmente, Xena dá um gole do que tem em sua caneca enquanto Gabrielle continua a fitar as chamas.


XENA
Sabe, Eu sequer sei
como deveria me sentir.

GABRIELLE
Hum? O que você quer dizer?


XENA
Eu deveria estar chorando?
Gritando? Com raiva?
(suspirando)
Não estou.

GABRIELLE
Xena...

XENA
Só estou entorpecida.
(olhando em volta)
Talvez isso tenha acontecido comigo tantas
vezes na vida que eu simplesmente me
acostumei com o horror disso.

Gabrielle põe seu copo no chão e coloca os braços em torno de Xena, esfregando suas costas com uma mão. Sua expressão é muito triste.

GABRIELLE
Acho que é apenas choque. Eu também me sinto assim.
Como se eu não pudesse acreditar que aconteceu.

Xena parece um pouco confortada com isso. Ela descansa sua cabeça contra a de Gabrielle.

XENA
É. Acho que você está certa.

Xena inclina a cabeça para trás e olha para as estrelas.

XENA
(continua)
Talvez ela estivesse certa. Talvez
esse fosse o destino dela.

Gabrielle também olha para cima.

GABRIELLE
Talvez.

Ambas se inclinam uma contra a outra, enquanto olham fixo para as chamas.

FADE OUT.