segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Quem Observa o Observador Parte 2 - Quarta Parte

CENA INT. PRISÃO DO ESTALEIRO DA CIDADE DE HEDELON - NOITE

A carroça gira até vir parar dentro do pátio da prisão. Eva e Xena pulam pala fora quando um grupo de homens se aproxima pelo outro lado. Eles abrem a traseira da carroça e começam a carregá-la de caixas.

Xena e Eva se escondem nas sombras.

EVA
Eu não reconheço nenhum deles.

Xena observa os homens.

XENA
Você tem alguma idéia do
que eles estão fazendo?


EVA
(balançando a cabeça)
Não. O que há nas caixas?
Você sabe, não sabe?

XENA
Coisas para vender no mercado.

Eva observa os homens.

EVA
Talvez estejam apenas ganhando a vida.
(olhando para Xena)
Eu sei que não é a primeira
coisa que você pensaria.

Os olhos de Xena se estreitam.

XENA
Não. Gabrielle é quem ganha o
salário honesto *nesta* família.

Xena lança a Eva um olhar agudo. Eva parece brevemente ausente. Então ela olha de volta.

EVA
Desculpe. Eu sei que você está tentando
fazer o que você acha que é certo.
(pausando)
E eu estou feliz por você ainda estar por aqui.

XENA
(suspirando)
Você está fazendo o que acha que é certo também...

Três homens de manto entram no pátio. Eva solta um ofego quase audível.

XENA
(continua)
Reconhece-os? Ou você vai me dizer que
qualquer um pode conseguir um manto?

EVA
(suavemente)
Não. Eu os conheço.

Eva se move na direção dos homens, agora assumindo a liderança. Xena anda furtivamente atrás dela até elas estarem bem atrás de onde os homens estão parados conversando.

HOMEM DE MANTO
Apressem-se. Eu quero levar essas coisas para fora
logo, no caso de alguém pensar em vir espiar.

CARREGADOR DA CARROÇA
Qual a pressa? Você não está com medo
daquela enorme monstra que os
guardas viram, está?

Eva olha para Xena. Xena parece vagamente entretida.

HOMEM DE MANTO
Não. Eu só não quero mais nenhum erro. Nós vamos
levar os prisioneiros para fora da cidade também.

Eva agora parece bastante aborrecida.

CARREGADOR DA CARROÇA
Para conseguir um melhor resultado deles, aposto.

HOMEM DE MANTO
Estamos aumentando o valor dos impostos também.
Tinha um bando inteiro de caipiras que apareceram
aqui esta tarde por terem ouvido sobre...
(com uma voz afetada)
A Mensagem.

As mãos de Eva ficam tensas. Xena meramente a observa. Todos os homens riem. O homem de manto se vira e vai embora, passando a centímetros de onde Eva e Xena estão.

Eva e Xena desvanecem novamente nas sombras.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - CÂMARA INTERNA - NOITE

Gabrielle está sentada, cercada pelos acólitos. San está lá, assim como a garota loira. Eles parecem ter se conformado à presença de Gabrielle, e parecem relaxados e interessados.

GABRIELLE
Então, essa é a história. Estou feliz em ver que
Eva está espalhando a mensagem de Elai
para tantas pessoas. É uma coisa boa.

SAN
Gabrielle, como você sabe tanta coisa
do que aconteceu? Você não é nem
um pouco mais velha que nós.

GABRIELLE
(se retorcendo)
Vocês simplesmente terão que acreditar em mim.

(erguendo os olhos)
Eu vou ver se a meditação acabou.
Já volto.

Gabrielle se levanta e parte. Atrás dela, os acólitos se reúnem e sussurram.

CORTA PARA:

CENA EXT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - NOITE

Os homens de manto que acabaram de deixar a prisão caminham em direção a uma entrada nos fundos do templo. Xena e Eva os seguem.

HOMEM DE MANTO
Vamos tomar uma bebida enquanto eles
estão todos estudando seus umbigos.

Seus dois companheiros riem. Eles abrem uma porta oculta e deslizam para dentro. Xena e Eva param quando a porta se fecha rapidamente atrás dos homens e elas ficam do lado de fora.

XENA
Você precisa ver mais?

EVA
(silenciosamente)
Não.

Xena coloca uma mão no ombro de Eva.

EVA
(continua)
Como pode algo tão bom quanto esses
ensinamentos irem tão mal, mãe?

Xena indica com a cabeça na direção da frente do templo.

XENA
Não sei.

(apontando)
Vamos entrar.

Xena e Eva caminham na direção da entrada. Atrás delas, a porta oculta desliza aberta e dois homens olham para fora, observando-as partir.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - CORREDOR - NOITE

Gabrielle desce o corredor em direção ao quarto de Eva. Ela ouve vozes se aproximando, e se esquiva para dentro de uma pequena alcova. Dois homens caminham lentamente na direção dela.

HOMEM DE MANTO
Eu lhe disse que elas nos seguiram.
Nós não podemos mais nos arriscar.

SEGUNDO HOMEM DE MANTO
O que podemos fazer? Você sabe que essas
multidões absorvem cada palavra que ela diz.

HOMEM DE MANTO
Eles seguiriam qualquer um.
(rindo)
Nós simplesmente temos que lhes dar
um(a) outro(a) Iluminado(a).

Os homens se viram para um lado do corredor e desaparecem. Gabrielle sai da alcova e corre até a esquina, olhando em volta para ver se pode avistar os homens.

GABRIELLE
Droga.

Os homens desapareceram de vista. Gabrielle se vira e corre para o quarto de Eva.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - APOSENTOS DE EVA - NOITE

Gabrielle entra. O quarto ainda está vazio. Perturbada, Gabrielle se senta na beira da cama para esperar.

GABRIELLE
Por que as coisas nunca podem ser simples conosco?
(pensativa)
Antes costumava ser apenas esmagar uns senhores
da guerra toda semana. Depois foram exércitos.
Depois foram deuses. Depois fantasmas.
(suspirando)
Agora nós sequer podemos parar para um festival
sem nos envolvermos com o destino do mundo.
Cara, isso às vezes é desgastante.

Gabrielle inclina seus cotovelos nos joelhos e escora o queixo nos punhos.

A porta se abre, e Xena e Eva entram. Ambas estão de cara fechada. Eva vai até sua mesa de orações e se senta, fitando pensativamente o chão.

XENA
Vejo que você sobreviveu ao sermão.

GABRIELLE
Você viu o que precisava, Eva?


Eva confirma. Xena se senta na cama ao lado de Gabrielle.

XENA
Eles sabem que algo está acontecendo. Eles
estavam levando os bens dos escravos para fora.

GABRIELLE
Eu sei. Eles também estão planejando
uma mudança de profeta.

Eva ergue os olhos para ela, surpresa.

EVA
Quê?

GABRIELLE
(calmamente)
Eu ouvi dois dos seus ajudantes discutindo
como substituir você por alguém
menos perigoso.

EVA
(calorosamente)
Eu não sou perigosa!
Eu percebo que aqueles homens...
(suspirando)
Eu sei que eles andam tirando
vantagem das pessoas, mas...

XENA
(de um modo claro)
Eva, você sabe melhor do que isso.

Eva cai em silêncio.

XENA
(continua)
Esses filhos da mãe conhecem uma boa coisa
quando vêem uma. Nós temos que...

Eva se levanta.

EVA
*Eu* tenho que decidir o
que fazer quanto a isso.

Ela se vira e fala firmemente.

EVA
(continua)
E preciso de tempo para pensar. Sozinha.

Xena se levanta. Gabrielle se junta a ela.

XENA
Tudo bem.


Eva parece se arrepender de ter sido meio rude.

EVA
Há outro quarto depois daquela porta.
Vocês podem descansar um pouco se quiserem.
(hesitando)
Eu apenas tenho muita coisa para considerar.

Xena e Gabrielle caminham até a porta.

XENA
Não pense demais. Quanto mais longe
eles forem com um plano, mais
difícil será detê-los.

Xena abre a porta e passa por ela. Gabrielle dá a Eva um olhar preocupado, mas segue Xena.

Eva se senta na cama. Ela fita suas mãos unidas por alguns momentos. Então uma batida vem da porta exterior.

EVA
Sim?

A porta se abre, e a garotinha loira olha para dentro.

EVA
(continua)
Olá, Amber.

Encorajada, a garota entra.

AMBER
Aquela nova mulher disse que você estava meditando, Iluminada.
Não quero incomodá-la, mas eu soube que não fez sua ceia.

EVA
(silenciosamente)
Não estou com fome, obrigada.
(pensando)
Mas sabe o que você
poderia fazer por mim?

AMBER
Qualquer coisa, você sabe que o farei.

EVA
Diga a todos que amanhã eu quero ter a
maior audiência de todos os tempos. Eu
tenho uma nova mensagem para lhes dar.

Os olhos da garota se iluminam.

AMBER
Oh! Direi! Eu direi a todos!

A garota sai correndo. Eva se puxa para trás e se senta contra a parede, parecendo muito pensativa.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - QUARTO DE HÓSPEDES - NOITE

O quarto de hóspedes é ainda mais modesto que o de Eva. Há um catre toscamente largo o suficiente para caber uma pequena cabra e há uma cadeira e uma mesa. Xena e Gabrielle escolheram sentar no chão, o qual tem um tapete de junco nele.

Gabrielle arrumou um sanduíche de pita em algum lugar, e está dividindo-o com Xena, junto com o conteúdo de um odre de pele.

XENA
Acho que fui dura demais com ela.


GABRIELLE
(pensando)
Às vezes você vê seu objetivo tão
claramente que não tem muita paciência
com as pessoas que não o vêem.

Ambas ficam em silêncio, pensando em outros tempos.

XENA
Eu poderia ter dado a ela
o benefício da dúvida.
(pausando)
Mas eu não tendo a fazer isso também.

Gabrielle quebra sua metade do sanduíche no meio e o dá a Xena.

GABRIELLE
É muita coisa para absorver, Xena. Ela realmente
fez algumas coisas boas aqui, e agora ela tem
que encarar o fato de essas coisas boas
terem sido tão distorcidas.
(suspirando)
Isso é difícil. Mas eu acho que ela
só precisa de algum espaço.

Xena assente.

XENA
Você está certa. Amanhã descobriremos
como salvar as ovelhas e chutar os lobos.

Gabrielle se aconchega em Xena e elas põem seus braços em torno uma da outra.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - APOSENTOS DE EVA - TARDE DA NOITE

Eva está de pé, com as mãos unidas e os olhos fechados, em intercessão.

Depois de um momento de silêncio, ela abre os olhos e vai até a porta interna, abrindo-a cuidadosamente. Ela olha através da abertura da porta.

Do lado de dentro, Xena está sentada contra a parede, aparentemente cochilando. Gabrielle está enrolada sonoramente adormecida nos braços de Xena.

Eva fica ali apenas olhando para elas por um breve momento. Então ela lentamente fecha a porta novamente e se inclina contra ela.


CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - APOSENTOS PRINCIPAIS - MANHÃ

Há um ar de grande animação. Muitos dos acólitos estão em pequenos agrupamentos, conversando juntos.

Xena e Gabrielle entram e olham em volta.

XENA
Onde ela está?


Gabrielle aponta para a porta que leva para dentro da área de adoração do templo.

GABRIELLE
É um bom palpite.

Xena e Gabrielle caminham até as largas e fechadas portas. Xena segura nos puxadores e abre as portas, transpondo-as a um passo largo para dentro do salão de adoração. A multidão de acólitos pára e as fita, em choque.

Gabrielle segue Xena, fechando as portas atrás delas com um pequeno sorriso para a multidão.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - SALÃO DE ADORAÇÃO - MANHÃ

Eva está de pé perto da plataforma erguida no final do salão. Ele tem um teto alto, e é gracioso, embora modestamente decorado.

Eva se vira quando Xena e Gabrielle entram. Ela fica parada perto da plataforma e espera enquanto elas se aproximam.

EVA
Bom dia.
Fico feliz de terem me encontrado.

Xena estava para dizer algo. Agora, ela pára e aparentemente muda de idéia. Gabrielle entra no diálogo no lugar dela.

GABRIELLE
San acabou de me dizer que você
está convocando um grande encontro.

Eva confirma.

EVA
É isso mesmo. Eu pretendo compartilhar
com todos o que nós... o que eu
descobri ontem.

XENA
(cautelosamente)
Pode ser perigoso se ficarem
sabendo o que você está fazendo.

Eva confirma novamente.

EVA
Sim.
(brevemente sorrindo)
Eu me certifiquei de que ficaram.

Uma batida na porta soa bastante alto dentro do aposento. A porta se abre, e Amber põe sua cabeça para dentro.

AMBER
Iluminada, eu fiz como você pediu.
As mensagens foram enviadas.

EVA
(sorrindo)
Obrigada, Amber.

Amber parte. Eva se vira e volta para a plataforma, subindo nela e arrumando alguns panos drapeados.

XENA
(de modo claro)
Você está fazendo de si mesma um alvo.

Gabrielle cruza atrás de Xena e fica perto da parede dos fundos, onde o selo do sol coroado está entalhado na madeira e encaixado na pedra.

EVA
Ambas conhecemos pessoas que precisam
ver a verdade. Apenas ouví-la às
vezes não é o suficiente.

XENA
Você está esperando que seus
fiéis se ergam em ultraje?
(se retorcendo)
E se eles estiverem metidos nisso?


Eva parece perturbada. Ela remexe nos drapeados novamente.

EVA
Esse é um risco que corro. Eu estou
colocando minha mensagem... os valores
que eu escolhi ensinar, em jogo.

XENA
Aqueles caras têm muitos interesses em jogo. Eles podem
não se importar com quem vai sair machucado.
(pausando)
Ou morto.

EVA
Estou ciente disso. Mas alguém tem
que deter isso, e eu já comecei.

Eva caminha para fora da plataforma e se dirige para uma porta lateral.

XENA
Eva...

Eva se vira.

EVA
Você não vai me dar um sermão
sobre eu estar me colocando na
linha de fogo, vai, Mãe?

O maxilar de Xena estala fechando-se.

EVA
(continua)
Fico feliz. Sei que você
entende o que estou fazendo.

Eva caminha através da porta lateral. Xena olha para Gabrielle. Gabrielle meramente se vira e segue Eva. Depois de um segundo, Xena também as segue.

CORTA PARA:

CENA EXT. DEGRAUS DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Dois dos homens de manto se encontram nos degraus.

HOMEM DE MANTO
Você ouviu? Você viu
aqueles cartazes?

SEGUNDO HOMEM DE MANTO
Relaxe. Já dei um jeito nisso.

HOMEM DE MANTO
Com todos aqueles adoradores lá dentro?
E quanto aquela mulher monstro?

SEGUNDO HOMEM DE MANTO
(sorrindo)
Eu te disse. Relaxe.

Os dois homens sobem pelos degraus e entram no templo.

CORTA PARA:

CENA INT. CÂMARA INTERNA DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Eva entra. Ela chega ao meio do aposento quando Gabrielle e Xena entram atrás dela.

GABRIELLE
Eva.

Eva pára, mas não se vira.

EVA
Desculpem. Preciso de algum tempo
para preparar o que vou dizer.

XENA
Você não pode simplesmente subir lá e começar
a atirar acusações, Eva. Ao menos
vamos conversar sobre...

EVA
Não.

Eva se vira e vai até Xena. Ela se estica e toma as mãos de Xena.

EVA
(continua)
Mãe, por favor. Esta é minha escolha.
Eu estou disposta a aceitar as
conseqüências, assim como você estava.

GABRIELLE
Certo ou errado?


Tanto Eva quanto Xena olham para Gabrielle. Gabrielle caminha de volta para a porta dentro do templo e passa por ela, batendo a porta atrás de si com um alto estrondo.

Xena e Eva olham fixo e brevemente para a porta fechada.


Então elas volta a atenção uma a outra.

XENA
Ela vai ficar bem.

Xena e Eva caminham até um banco e se sentam.

EVA
É irônico, não é? A primeira vez que lhe
encontrei depois de crescer, eu estava ocupada
matando a pessoa que eu tinha me tornado hoje.

XENA
Essa é a questão? Você está
tentando compensar aquilo?

Eva dá de ombros.

XENA
(continua)
Conselho gratuito: isso não funciona.

Eva se levanta. Ela corre as mãos pelo cabelo.

EVA
Eu quis ensinar as pessoas sobre se
darem bem. Sobre como viverem juntas,
e como ajudar seus próximos.
(pausa)
Sobre o amor. O tipo de amor de Elai.

Ela se vira na direção de Xena.

EVA
(continua)
Eu venho falando de amor há quase
dois anos. Mas quando eu vejo você e
Gabrielle, eu me pergunto se ele um dia
entendeu o que o amor realmente é.

Xena considera.

XENA
(sorrindo)
Acho que ele entendeu o conceito.
A realidade é algo mais de um modo geral.

Eva se senta perto de Xena.

EVA
O suficiente para desistir
da sua própria redenção?

XENA
O suficiente para ser a minha redenção.
Então não se arrisque demais, Eva.
Você nunca sabe quando poderia dobrar
uma esquina e descobrir que o que estava
procurando estava bem ali ao seu lado.

Eva assente, mas é claro que ela não está realmente assimilando as palavras.

EVA
Mãe, eu quero que você me prometa que, não
importa o que acontecer, você não irá interferir.

XENA
Eva...

EVA
Prometa-me. Este é meu destino.
Deixe-me ir aonde quer que ele me leve.


Xena se levanta. Eva se levanta também. Xena coloca as mãos nos ombros de Eva.

XENA
Tudo bem.

Eva parece aliviada. Xena hesita, depois puxa Eva para um abraço. Eva retribui o abraço de todo o coração.

EVA
Quando isso terminar, nós iremos beber algumas
cervejas e conversar. Eu realmente senti sua falta.


XENA
Por mais repugnante que essa coisa toda é,
estou feliz por ela nos ter conduzido até aqui.


Elas se separam, e Eva sorri.

EVA
Você pode esperar aqui.
Eu vou, hum...

XENA
Vá. Ela também te ama.

Eva parte, muito aliviada. Xena suspira, e se senta. Seus olhos vagueiam pelo interior do aposento, e ela parece apreensiva.


CORTA PARA:

CENA INT. SALÃO DE ADORAÇÃO DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Do lado de fora da porta, um alto rumor de conversa pode agora ser ouvido. Há um ar de animação que penetra o salão de adoração.

Eva entra, olhando em volta, e localiza Gabrielle conversando com Amber. Ela se apressa pelo aposento, indo até onde elas estão paradas.

AMBER
Iluminada, todos estão vindo.
Está tão cheio lá fora, você mal pode
se mover. Posso abrir as portas?

EVA
Em breve, Amber. Você pode se certificar que as
portas externas estão todas largamente abertas?
Está ficando quente aqui dentro.

AMBER
Claro!
(sorrindo)
Eu volto já.

Amber sai correndo. Gabrielle a observa partir. Então Gabrielle se vira na direção de Eva.

GABRIELLE
Desculpe.


EVA
Não se desculpe. É agradável ter pessoas
à minha volta que se preocupam comigo mas que
não me tratam como uma estátua de barro ou vime.

GABRIELLE
Hum. Eu ouvi dizer que estar em um pedestal
pode causar torcicolo em seu pescoço.

Eva sorri. Ela segura no braço de Gabrielle, e elas brevemente se abraçam.

EVA
Você realmente acha que esta
é a coisa errada a fazer?

GABRIELLE
Para ser honesta, nós fizemos algo
tipo isso lá naquele vilarejo.

Eva ri suavemente.

GABRIELLE
(continua)
Mas era diferente.

EVA
Porque era você.

GABRIELLE
(sorrindo)
Algo assim.
É o que fazemos.

EVA
(pensativamente)
É bom saber que vocês
estão lá fora fazendo isso.

O barulho da multidão cresce, e a porta começa a se abrir.

GABRIELLE
Xena ainda está lá dentro?

EVA
Eu fiz ela prometer
não se envolver.

Gabrielle dá um tapinha no ombro de Eva, depois se vira e se dirige para a porta interna. Antes de entrar, ela se vira.

GABRIELLE
Boa sorte.

Eva levanta a mão e acena, então se posiciona enquanto as portas se abrem e a multidão começa a fluir para dentro.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - CÂMARA INTERNA - MOMENTOS DEPOIS

Gabrielle entra. Xena está sentada no banco. Gabrielle caminha até lá e se senta ao lado dela.

XENA
Ela fez você prometer?

GABRIELLE
Não. Ela ainda tem uma coisa ou duas para aprender.

Xena grunhe.

XENA
Eu acho que esse seu sorriso fofo
simplesmente faz todo mundo de bobo.


Gabrielle deixa a cabeça descansar contra o ombro de Xena.

GABRIELLE
Espero que o plano dela funcione.

XENA
(suspirando)
Não é mais maluco do que
alguns que nós já tivemos.

Gabrielle toma as mãos de Xena e as segura.

CORTA PARA:

CENA INT. SALÃO DE ADORAÇÃO DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Eva está parada na plataforma, olhando para a multidão. O salão está lotado, mas Eva examina os rostos diante dela e vê alguns que parecem mais em alerta do que ansiosos.

A luz das janelas paira alto no telhado do salão do templo e cai pela plataforma, contornando Eva enquanto ela espera. As pessoas ainda estão entrando.

Amber se aproxima de Eva, e se ajoelha perto da frente da plataforma, oferecendo a ela uma mão cheia de flores.

EVA
Ah... obrigada. Elas são pra quê?

AMBER
Sem motivo. Eu só achei que eram
bonitas e que você gostaria delas.

Eva cheira as flores e sorri.

EVA
São mesmo, e eu gostei sim.

Amber se levanta e vai para trás, voltando a ficar na linha de frente dos acólitos.

O vasto salão está agora transbordando de gente. Eva caminha para trás com suas flores, e se prepara para começar a falar.

CORTA PARA:

CENA INT. CÂMARA INTERNA DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Xena e Gabrielle estão sentadas escutando. Através da parede, elas ouvem Eva começar a falar.

EVA
(Voz em Off)
Meus amigos. Obrigada por virem ouvir
a esta nova mensagem de que falei.
(pausando)
Não é uma boa mensagem. Ela não
é calorosa, e não fala de amor
ou gentileza ou partilha.

Um baixo murmúrio é ouvido através da porta.

EVA
(Voz em Off)
(continua)
Ao contrário, é uma mensagem de crueldade.
É uma mensagem de roubo e de dor, e o que
é pior, é uma mensagem de que tudo isso
está vindo daqueles em torno de vocês.

VOZ
(Voz em Off)
Não! Aqui?

EVA
Aqui. E em toda a parte.
(mais alto, quase rugindo)
E em MEU NOME.

Gabrielle aperta a mão de Xena.

GABRIELLE
(sussurrando)
Ela falou igualzinha a você.

Xena esboça um sorriso.

VOZ MASCULINA
(Voz em Off)
Esperem! Eu ouvi outra mensagem!

Murmúrios.

VOZ MASCULINA
(Voz em Off)
(continua)
Eu ouvi dizer que demônios vieram,
e impuseram o interesse deles
aqui! Através de você!

VOZ
(Voz em Off)
O quê?

VOZ MASCULINA
(Voz em Off)
Forasteiras vieram! Nós todos
as vimos! Devemos deter
os demônios! Agora!

Xena e Gabrielle rapidamente se levantam.

XENA
Acho que acabamos de nos envolver.

GABRIELLE
Acho que você está certa. Mas
mesmo se não o tivermos...

XENA
Ela simplesmente terá que me perdoar.

Xena e Gabrielle correm para a porta.

CORTA PARA:

CENA INT. SALÃO DE ADORAÇÃO DO TEMPLO DE HEDELON - AO MESMO TEMPO

O salão está em caos. Grupos de pessoas estão se empurrando na direção de Eva. Alguns acólitos foram empurrados ao chão. Eva está tentando gritar acima do barulho do tumulto.

EVA
Não! Não! Ouçam-me!


VOZ MASCULINA
Não ouçam a ela!
É a voz dos demônios!

Xena e Gabrielle entram. Elas começam a forçar caminho na direção do palco.

AMBER
Não! Elas não são demônios!
Vocês são os demônios!

Amber se arrasta subindo até a plataforma com Eva. Ela aponta para a multidão.

AMBER
(continua)
Olhem! Lá! Ele tem...

EVA
(desesperadamente)
Ouçam-me! Todos vocês! Eles
tomaram seus bens, e usaram isso
para roubar dinheiro de nossos vizinhos!
Olhem em volta de vocês! Olhem!

VOZ MASCULINA
Demônios! Lá! Vocês estão vendo!!! Depressa!

Xena alcança a beirada da plataforma. Eva a avista, e por um décimo de segundo um olhar de total alívio cobre seu rosto. Xena o vê.

Gabrielle se debate contra um homem grande bem na frente dela. Ela avista uma arma sob seu manto.

GABRIELLE
Xena!


Xena começa a se virar. Ela pára e gira quando ouve um arco sendo levantando entre a multidão. Ela procura freneticamente.

AMBER
Eva! Veja! Ele está...

Um homem na multidão ergueu seu arco. Ele o aponta para Amber e solta o gatilho.

VOZ MASCULINA
Garota estúpida!

Eva vê a flecha vindo. De um só bote, ela agarra Amber e se vira enquanto a flecha as alcança.

A flecha atinge Eva nas costas, atravessando-a.

Ela começa a cair.

O arqueiro também cai, a adaga de Xena se enterrou em seu coração apenas a um momento tarde demais.

Eva pende nos braços de Amber e elas caem ao chão. Xena está lá em um instante. Há sangue por toda a parte. Xena gentilmente gira Eva, mas é tarde demais.

Eva está morta.

Gabrielle vem até o lado de Xena e se ajoelha, segurando-a para Xena.

AMBER
(em voz trêmula)
Ela estava certa.
(fungando)
Há demônios entre nós...
aí fora. Com arcos.

Sua voz quebra.

AMBER
(continua)
Matando nossos sonhos.

A multidão ficou atônita e imóvel. Agora eles olham em volta. Homens começam a sacar as armas de debaixo de seus mantos.

AMBER
(continua)
(gritando)
Não deixem eles fazerem isso!

Amber salta, com o manto encharcado do sangue de Eva. Ela corre até o homem armado e salta sobre ele em total ira.

Em um instante, o movimento de choque dos acólitos se vira para os tratantes em seu meio. Estando muito perto, os homens não conseguem usar as armas, e isso se transforma em uma imensa luta corpo-a-corpo.

Mas, na plataforma, ignorando a multidão e a luta, Xena toma a mão de Eva e a aperta, com uma expressão profundamente triste.

Gabrielle coloca os braços em torno de Xena e simplesmente a abraça.

Os acólitos mandam um grito de triunfo quando começam a levar os tratantes ao chão.

Para Xena e Gabrielle, o som é vazio.

FADE OUT.

FIM DO QUARTO ATO

CONCLUSÃO

FADE IN:

CENA EXT. DEGRAUS DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - MANHÃ

Gabrielle se senta com Amber nos degraus. A frente do templo está drapeada de branco. Amber ainda está vestida com seu manto ensangüentado.

AMBER
É como aquela história que você nos contou, não é?
Quando Elai teve que morrer para se certificar
que seu sonho permaneceria vivo?

GABRIELLE
(tristemente)
As pessoas não deveriam ter que morrer, Amber.

AMBER
Mas de outra forma nunca teríamos
acordado para mandar o mal
para fora de nosso meio.

GABRIELLE
Talvez. Mas eu não posso evitar de
lamentar a perda de uma amiga.
(mais suavemente)
De uma filha.


AMBER
(muito pensativamente)
Fico feliz por ter lhe dado aquelas flores.
Acho que você estava certa, ela gostou delas.

Gabrielle ergue os olhos e vê Xena descendo pela rua com Argo II. Ela se levanta.

GABRIELLE
Eu espero que vocês mantenham as idéias dela vivas.

AMBER
Manteremos. Nós vamos enviar professores.
Era o grande sonho de Eva fazer isso assim que
eles estivessem prontos. Eles se certificarão de
que a mensagem certa seja ouvida desta vez.

Gabrielle aperta o ombro de Amber.

GABRIELLE
Boa sorte.

AMBER
Por que você não fica conosco?
Você poderia ajudar. Você conhece
os ensinamentos como ela conhecia.

Gabrielle observa Xena se aproximar delas.

GABRIELLE
Porque meus ouvidos escutam
uma voz diferente agora.

Gabrielle desce os degraus e se junta a Xena quando ela passa. Elas caminham lado a lado descendo a rua, na direção dos afastados portões.

CORTA PARA:

CENA EXT. CLAREIRA NA FLORESTA - COMEÇO DA NOITE

Xena e Gabrielle estão sentadas perto da fogueira. O sol acabou de se pôr, e está ficando escuro. O ar é frio, e as estrelas estão aparecendo sobre suas cabeças.

Ambas estão muito quietas. O crepitar do fogo é o único som por um momento. Finalmente, Xena dá um gole do que tem em sua caneca enquanto Gabrielle continua a fitar as chamas.


XENA
Sabe, Eu sequer sei
como deveria me sentir.

GABRIELLE
Hum? O que você quer dizer?


XENA
Eu deveria estar chorando?
Gritando? Com raiva?
(suspirando)
Não estou.

GABRIELLE
Xena...

XENA
Só estou entorpecida.
(olhando em volta)
Talvez isso tenha acontecido comigo tantas
vezes na vida que eu simplesmente me
acostumei com o horror disso.

Gabrielle põe seu copo no chão e coloca os braços em torno de Xena, esfregando suas costas com uma mão. Sua expressão é muito triste.

GABRIELLE
Acho que é apenas choque. Eu também me sinto assim.
Como se eu não pudesse acreditar que aconteceu.

Xena parece um pouco confortada com isso. Ela descansa sua cabeça contra a de Gabrielle.

XENA
É. Acho que você está certa.

Xena inclina a cabeça para trás e olha para as estrelas.

XENA
(continua)
Talvez ela estivesse certa. Talvez
esse fosse o destino dela.

Gabrielle também olha para cima.

GABRIELLE
Talvez.

Ambas se inclinam uma contra a outra, enquanto olham fixo para as chamas.

FADE OUT.

Quem Observa o Observador Parte 2 - Terceiro Ato

CENA INT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - APOSENTOS DE EVA - CONTINUANDO

Eva se sobressalta e fica de frente para Xena.

EVA
Mãe...

Eva e Xena olham uma para a outra brevemente, então Eva avança e elas apertam as mãos.

XENA
(silenciosamente)
Olá, Eva.


Eva parece um pouco nervosa.

EVA
Gabrielle esteve aqui.
Ela me disse que você estava...

XENA
Aqui com ela? Isso te surpreende?

EVA
Viva.

Xena desvia o olhar brevemente, depois volta a olhar para Eva.

XENA
Acho que você ficou sabendo.

Eva solta as mãos de Xena e caminha para trás, depois anda lentamente até sua mesa de lavabo e fica parada, de costas para Xena.

EVA
Estava sendo comentado por todo o Extremo Oriente.
Não pude evitar de ouvir.

Ela se vira de novo, e fica de frente para Xena.

EVA
(continua)
Eu estava na estrada e fui surpreendida... em...
por alguns monges que viajavam. Eles me contaram.

XENA
Ah.

EVA
Pra falar a verdade, ser sua filha me
livrou de uma má situação com eles.
(baixando os olhos)
Engraçado como as coisas mudam.
Eles admiraram seu sacrifício.

Ela olha diretamente para Xena.

EVA
(continua)
E eu também.

Xena a fita.

XENA
Não havia nada para admirar.


EVA
Estou vendo. Você os enganou.
(pausa)
Por quê?

CORTA PARA:

CENA INT. HOSPITAL DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - FINAL DA TARDE

Gabrielle está acabando de se levantar do banquinho próximo ao leito de Ivan. Os pacientes nos catres em volta estão todos virados em seus leitos para ouvi-la, e há muitos sorrisos enquanto ela acena se despedindo.

IVAN
Foi uma ótima história!

Um dos curandeiros também esteve escutando. Ele vem até Gabrielle.

CURANDEIRO
Foi mesmo. Você é nova aqui,
não é? Eu vi você falando
com a Iluminada.

GABRIELLE
Sim. Então você gosta de histórias?

CURANDEIRO
Gosto muito. Nós não temos tantas assim,
e apreciamos aquelas que ouvimos.

Gabrielle e o curandeiro lentamente caminham entre as fileiras de catres.

GABRIELLE
Bem, eu sei que às vezes, quando você está
tentando ensinar um novo caminho, aquelas
velhas histórias não são tão bem-vindas.

CURANDEIRO
(rindo)
Deve haver algum outro caminho, então,
contadora. Nosso caminho é o do amor
e aceitação dos outros e curiosidade
sobre o mundo. Nós amamos ouvir
contos de outras pessoas e lugares.

Gabrielle parece muito pensativa.

GABRIELLE
Bom saber disso.


CURANDEIRO
Você vai ficar, então? Eu vi que você tem
habilidades de cura também. Nós certamente
precisamos de todos os dispostos a servir.

Gabrielle segura o ombro do homem.

GABRIELLE
Eu não sei. Mas se eu puder
voltar para ajudar, voltarei.

O curandeiro acompanha Gabrielle até a porta e a observa partir. Outro curandeiro mais velho se levanta ao lado dele e eles ficam parados juntos.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - APOSENTOS DE EVA –
FINAL DA TARDE - CONTINUANDO

Xena e Eve estão em formação retangular, uma de frente para a outra, no pequeno quarto de dormir de Eva.

XENA
Eu não enganei ninguém.


EVA
Alguém enganou alguém.
Eles acham que você morreu, mãe.

XENA
E morri.

Eva fita Xena.

XENA
(continua)
Mas isso é um monte de acusações vindo de
alguém que está depenando todo mundo que vê.

EVA
O quê?

Uma suave batida soa na porta. Eva olha para a porta, mas ignora.

EVA
(continua)
Eu não sei do que você está falando.
Eu passei os últimos anos pensando que
você estava morta, e agora você aparece aqui...

Outra batida.

EVA
(continua)
(em voz mais alta)
Me deixe!

XENA
(ao mesmo tempo)
Entre!

A porta se abre e a cabeça de Gabrielle aparece, seguida pelo resto dela. Ela olha para Xena, olha para Eva, e suspira.

GABRIELLE
(para Xena)
Achei que tivesse ouvido sua voz aqui dentro.
(pausando)
Estou interrompendo algo?

EVA
Sim.

GABRIELLE
Ótimo. Xena, posso falar com você por um
minuto, antes que isso fique fora de controle?


XENA
Nada está fora de controle. Eu só passei as últimas
horas verificando as masmorras sagradas.

EVA
Quê?

GABRIELLE
E eu passei as últimas horas
trabalhando no hospital de Eva.

Ela olha Xena no olho.

GABRIELLE
(continua)
Nós estamos com uma mensagem
muito misturada aqui.

Xena examina o rosto de Gabrielle, depois olha para Eva.

XENA
Talvez estejamos. Ou talvez Eva possa
explicar por que seus soldados estão
forçando homens a trabalhar por eles
não arcarem com seus impostos.

O queixo de Eva realmente cai.

EVA
Meus O QUÊ? Mãe, você está enlouquecendo.
Foi isso o que aconteceu no Japão, não foi?
Você não morreu, só enlouqueceu.

Gabrielle vira e encara Eva.

GABRIELLE
Não.
(suspirando)
Ela morreu.

Há um pequeno período de silêncio.

GABRIELLE
(continua)
E ela não está louca, Eva.


Eva lentamente se senta.

EVA
Então talvez eu esteja. Se ela morreu,
talvez vocês duas sejam uma alucinação.
Eu tenho tido algumas ultimamente.

Xena e Gabrielle trocam olhares.

GABRIELLE
Talvez nós devêssemos
começar do princípio.

Xena se senta no chão com as costas na parede. Ela cruza os tornozelos e os braços. Sua expressão é um tanto teimosa.

Gabrielle olha para ela em questionamento. Depois de um momento de silêncio de Xena, Gabrielle suspira novamente.

GABRIELLE
(continua)
Talvez *eu* devesse começar do princípio.
Você precisa entender por que estamos aqui.

Eva olha para ela e une as mãos em uma atitude de espera.

CORTA PARA:

CENA EXT. ESTALEIRO DA CIDADE DE HEDELON - COMEÇO DA NOITE

Vários guardas estão parados do lado de fora da prisão. Quatro homens de manto estão parados perto deles. Os guardas estão bastante surrados... eles portam bandagens por todo o corpo, e um deles está usando uma muleta.

HOMEM DE MANTO NA LIDERANÇA
Agora, vocês têm certeza do que viram?

GUARDA ALEIJADO
Senhor, é como eu disse. Era uma mulher.
Mas, rapaz, que mulher!

SEGUNDO GUARDA
É isso mesmo, e a ralé trancada lá embaixo
onde ela estava jura que ela disse que
era mãe da pregadora.

HOMEM DE MANTO NA LIDERANÇA
Isso pode ser problema, se for verdade.
Vamos conversar com esse prisioneiro.

O guarda aleijado os leva na direção da prisão.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - APOSENTOS DE EVA

Gabrielle está agora sentada no chão ao lado de Xena. Eva está sentada transversalmente a elas, também no chão.

EVA
(balançando a cabeça)
Eu simplesmente não posso acreditar.

GABRIELLE
Bem...

XENA
Não pode acreditar que o que nós vimos existe?


Eva se levanta e passeia pelo quarto.

EVA
Eu não posso acreditar que isso tem algo a
ver comigo. Com o que estou fazendo aqui.

Xena também se levanta.

XENA
Então venha comigo. Eu lhe mostrarei.

EVA
Eu não preciso ver. Eu conheço as pessoas
à minha volta. Elas não são assim.

Eva e Xena afastam o rosto novamente.

XENA
Isso é o que você quer acreditar.

EVA
(calorosamente)
Elas não são! Gabrielle, você as viu. Você
acha que elas são criminosas e falsas?

Gabrielle ainda está sentada contra o muro. Ela tem os braços envoltos em torno de seus joelhos e está simplesmente observando mãe e filha.

GABRIELLE
Não.

Xena lança a Gabrielle um olhar de ofensa.

GABRIELLE
(continua)
Mas eu sei o que vi naquela
cidade, e era real demais.

EVA
(gritando)
Aquelas pessoas não eram uma parte disto!


XENA
(sarcasticamente)
Então elas coincidentemente correram aqui para
sua cidade e usavam o seu símbolo porque...?

Eva está frustrada. Xena está frustrada. Gabrielle parece principalmente cansada.

GABRIELLE
Eva!

Tanto Eva quanto Xena fitam Gabrielle.

GABRIELLE
(continua)
Eu sei que o que Xena viu era real também.

EVA
(furiosa)
Eu não acredito! Isso não é real! Você está
inventando tudo isso, mãe! Simplesmente
porque este não é o seu jeito de ...

Gabrielle se levanta e se junta a Xena.

GABRIELLE
(gritando de volta)
Eva, sua mãe tem a imaginação
de um javali africano!!!!


Ela pára, ignorando o olhar fixo de Xena.

GABRIELLE
(continua)
Ela não inventou isso. Eu não inventei
isso. Você precisa enxergar a verdade.

Eva as fita.

EVA
Tudo bem. Ótimo. Eu vou, mas estou
lhe dizendo, você está errada.

XENA
Ótimo. Prove que eu estou. Vamos.

Xena vai para a porta.

EVA
Eu tenho um trabalho onde devo estar às...

XENA
Gabrielle o cobrirá por você. Venha. Quanto
mais cedo terminarmos com isso, melhor.

Gabrielle coloca as mãos na cintura.

GABRIELLE
Espere um minuto. Eu não sei o
que fazer naquela coisa...

XENA
(zombando)
Não é você a que tem
imaginação? Use-a.
(para Eva)
Você vem?


Eva hesita. Ela olha para Gabrielle, que sorri, dá de ombros, e assente. Com visível relutância, Eva segue Xena para fora do quarto.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - CÂMARA INTERNA - NOITE

Os acólitos de Eva estão todos reunidos, conversando suavemente. Eles erguem os olhos quando a porta se abre, um tanto surpresos e desapontados de não verem Eva entrando.

Gabrielle desliza para dentro e caminha até o grupo.

GABRIELLE
Oi.

A garotinha loira que Gabrielle encontrou antes se levanta.

GAROTA
O que você fez com
A Iluminada?

GABRIELLE
Eu não fiz nada com ela.
Ela está... meditando agora.
Ela me pediu para vir no lugar dela.

O grupo olha para Gabrielle com uma profunda, profunda desconfiança.

GAROTA
(indignada)
Você é nova aqui. Como você sabe
qualquer coisa sobre o que a mensagem diz?

Gabrielle se senta no chão perto deles.

GABRIELLE
Bem, é engraçado você ter me perguntado isso.
Vejamos, eu conheci Eva por um tempo bem longo,
e eu sei onde ela recebeu a mensagem.
(pausando)
Querem ouvir a história?


Todos ainda estão muito desconfiados, mas eles estão também intrigados. Lentamente, eles se reúnem em torno de Gabrielle.

CORTA PARA:

CENA EXT. TOPO DO TELHADO DO ESTALEIRO DA CIDADE DE HEDELON - NOITE

Xena e Eva rastejam ao longo do telhado. Elas se ajeitam na beirada, espiando para ver o portão da prisão.

Há ao menos seis guardas no portão agora, e mais deles espalhados ao longo dos muros. Eles estão agora armados com espadas e arcos em vez de varas.

Eva olha para a prisão.

EVA
Qualquer um pode copiar aquele símbolo.
Isso não significa nada.

Xena lhe dá um olhar de lado, depois se ajeita mais para baixo para observar. Uma carroça gira até os portões e deixam ela entrar.

XENA
Aquilo é provavelmente para levar os trabalhos
dos prisioneiros para o mercado.

Eva se arrasta para mais perto de Xena e elas ficam ombro a ombro. Xena observa os portões, Eva observa Xena.

EVA
Você morreu mesmo?


XENA
Sim.

Eva reflete sobre isso brevemente, olhando para o espaço aberto antes de olhar de novo para Xena.

EVA
Para dar descanso àquelas almas?

XENA
Sim.


Eva assente para si mesma.

EVA
Então, o que mudou? Os
monges me disseram que você...

Xena olha para Eva.

XENA
Estar morta aborreceu
o inferno fora de mim.

Xena olha de novo para os portões. Eva balança a cabeça e cai em silêncio. Depois de alguns minutos, os portões se abrem e a carroça gira para fora, cheia de caixotes. O símbolo está bastante visível à luz da tocha. Xena olha para Eva. Eva parece desconfortável.

EVA
Ainda é apenas um símbolo.

Xena gira os olhos.

XENA
Tudo bem. Vamos esperar os portões fecharem,
então nós entraremos lá. Você quer ver
em primeira mão? Sem problemas.

Xena e Eva rastejam para o lado oposto do telhado e passam para o muro da estrada. Elas estão escondidas pelas sombras.

XENA
(continua)
Quando a próxima carroça
vier, pule nela.

Eva continua em silêncio, esperando ao ombro de Xena. A próxima carroça aparece no topo da rua e se dirige aos portões. Xena se tensiona quando ela se aproxima. Eva reúne seus mantos e prepara para pular também. Ao último momento antes da carroça chegar perto delas, Xena vira a cabeça.

XENA
(continua)
Eu deixei meu coração e metade da minha alma
para trás, e eu tive que voltar por ela.


A carroça se emparelha com elas, e Xena se arremessa nela. Eva fica sem fala por um segundo, depois se lança atrás dela. Elas alcançam a carroça e se penduram a bordo assim que ela atinge os portões.

Os portões se abrem, e a carroça gira para dentro. Os portões batem, fechando-se atrás dela.

FADE OUT.
FIM DO TERCEIRO ATO

Quem Observa o Observador Parte 2 - Segundo Ato

CENA INT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - CÂMARA INTERNA - CONTINUANDO

Gabrielle fica firme, não cede, mas depois de um momento, Eva se desvencilha de seu séquito e se dirige à Gabrielle apressadamente. Gabrielle caminha adiante para encontrá-la.

EVA
Gabrielle.

Eva abraça Gabrielle de todo o coração. Gabrielle está um pouco surpresa, mas responde da mesma forma, dando em Eva um caloroso abraço em retorno.

GABRIELLE
Já faz muito tempo.


Gabrielle olha por sobre o ombro de Eva, vendo o séquito fitando-as de olhos arregalados. Gabrielle sorri para eles, se divertindo um pouco.

EVA
Faz mesmo.

Elas se separam. Eva coloca as mãos nos ombros de Gabrielle e apenas olha para ela brevemente.

GABRIELLE
Precisamos conversar.

EVA
Com certeza.
(se virando)
Vocês nos dariam licença, por favor?

Sem entender, o séquito se vira e começa a partir. Eles estão obviamente indispostos, e observam Gabrielle com uma duvidosa suspeita.

A porta finalmente se fecha e elas ficam sozinhas. Eva leva Gabrielle até um assento e se senta ao lado dela.

EVA
(continua)
Não acredito que você está aqui.


GABRIELLE
Bem...

EVA
Quando eu fiquei sabendo, eu tentei lhe encontrar.
Eu procurei por meses, mas ninguém
sabia onde você estava.

Por um momento, Gabrielle tem que realmente pensar bastante sobre do que é que Eva está falando. Então ela se dá conta, e ergue a mão ao rosto, quando compreende que esta é uma conversa mais delicada do que ela esperava.

GABRIELLE
Eu não sabia que você... tinha ficado sabendo.

Eva coloca uma mão no ombro de Gabrielle.

EVA
Eu estava voltando da China.
Claro que fiquei sabendo... eu estava...
(pausando)
Tem tanta coisa que eu
nunca contei pra ela.

Gabrielle se inclina adiante e pousa os cotovelos nos joelhos.

GABRIELLE
Eva...

EVA
Eu fiquei tão orgulhosa dela. Mas eu fiquei
preocupada com você. Eu sei que
ela fez a coisa certa, mas...

Eva pára, e toca Gabrielle no ombro novamente.

EVA
(continua)
Eu sei o que ela significava para você.

Os olhos de Gabrielle fitam a distância.

GABRIELLE
(suavemente)
Sabe?

(para Eva)
Uma coisa eu aprendi na minha vida
com a sua mãe, Eva. Quase nunca
é tão simples quanto parece.

Eva parece um pouco confusa.

EVA
Acho que isso se aplica sobre
a vida em geral, não é?
(olhando em volta)
Eu comecei operando uma
cozinha de sopas aqui.

Gabrielle também olha em volta, apreciando a ironia.

GABRIELLE
Eu comecei apenas pegando água
para a sopa de peixe da minha mãe.
(suspirando)
Eva, há algo que eu
tenho que lhe dizer.

Eva toma a mão de Gabrielle.

EVA
Acho que nós duas temos coisas que podemos partilhar.

GABRIELLE
(com um toque de humor negro)
Hum. Uma delas é mais do que você imagina
que possamos. Sua mãe está viva.

Eva fita Gabrielle em choque.

GABRIELLE
(continua)
E nós não estamos aqui para uma reunião de família.

CORTA PARA:

CENA EXT. PRISÃO DO ESTALEIRO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Xena pousa nas sombras em um lado do pátio interno da prisão. Ela se aperta contra o muro e observa enquanto dois homens passam correndo e carregando varas. Eles corre até os portões e encontram os dois guardas lá. Todos os quatro homens começam a conversar animadamente.

Xena desliza além deles sem fazer um ruído. Ela caminha até onde os trabalhadores estão e se esconde atrás de uma pilha de caixas, observando-os.


O homem mais próximo de Xena está construindo um caixote de madeira. Em um dos lados está pintado o selo do sol coroado. Quando ele termina uma caixa, ele a adiciona à pilha atrás da qual Xena está escondida.

O homem pára e esfrega a testa. Ele está visivelmente cansado e coberto de serragem e sujeira em geral.

GUARDA
Volte ao trabalho!

PRISIONEIRO
Escuta, você...

O guarda caminha até ele e dá uma pancada nas costas da cabeça do homem com a sua vara.

GUARDA
Cale-se! Da próxima vez você vai pensar duas
vezes antes de trapacear aquela que escuta!

PRISIONEIRO
Eu não trapaceei ninguém!
Aquele dinheiro era todo meu!

O guarda o atinge novamente.

GUARDA
Você não ouviu sobre a partilha?
Nada é todo seu. Nós tomaremos
nossa parte de um jeito ou de outro.
Este é o outro jeito.

O prisioneiro volta à sua tarefa, olhando furioso para o guarda. O guarda fica parado ao lado da pilha de caixas, inclinando-se contra elas nem sequer a um braço de distância de Xena.

O prisioneiro solta um pedaço de madeira e ele cai no chão. O guarda vai bater nele com a vara de novo, mas vê que sua mão está vazia.

Ele se vira e olha em volta, depois olha para o chão, tentando encontrar sua vara.

GUARDA
(continua)
Ei!


O prisioneiro ergue os olhos e vê o guarda procurando. Ele pára de trabalhar para observar. O guarda desempilha todas as caixas, empilhando-as em outro monte bem ao lado do anterior. Xena se ajoelha enquanto ele retira as caixas, depois rapidamente se move para a outra pilha, e se levanta quando ele coloca a última caixa no lugar. Ele ainda não pode vê-la. Ela está segurando a vara.

O guarda se vira em um círculo, depois coça a cabeça. Repentinamente, a vara aparece entre suas pernas, movendo-se rapidamente para cima.

O guarda grita a esse impacto, e cai de joelhos. A vara cai com um estrondo no chão perto dele e fica ali, aparentemente tendo atacado o guarda sozinha.

Os prisioneiros observam em fascinação.

PRISIONEIRO
Ei. Tem certeza que você pagou seus impostos? Talvez
o altíssimo ora-bolas tenha ouvido dizer que não.

Os prisioneiros todos riem. Xena desliza entre as sombras e entre uma arcada que leva para mais dentro da prisão, desparecendo de vista.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - CÂMARA INTERNA - DIA

Gabrielle está sentada em um banco baixo perto da porta. Eva não está de frente para ela, e sim fitando a parede oposta.

EVA
Não consigo acreditar.

Gabrielle se levanta e caminha até ela. Ela coloca uma mão nas costas de Eva.

GABRIELLE
Foi uma longa e dura estrada. Nós não sabíamos
que você tinha vindo para estas bandas.

Eva se vira de frente para ela.

EVA
Vocês voltaram faz tempo?

GABRIELLE
(suspirando)
Nós estivemos em um monte de lugares.


EVA
O monge com o qual eu falei estava
tão certo do que tinha acontecido.
(pausando)
Mas eu deveria saber que ela
descobriria um jeito de sair dessa.

GABRIELLE
Não foi exatamente...

EVA
Onde ela está? Aqui? Na cidade?

Uma batida na porta as interrompe. Eva olha para a porta, ela se abre e revela um jovem homem em um manto como o dela e de sandálias.

ACÓLITO
Iluminada, o hospital está pedindo para
você vir falar aos doentes, para
dar-lhes esperança.

Eva hesita. Gabrielle toca seu braço.

GABRIELLE
Vá. Isso lhe dará uma chance
para pensar, afinal.

EVA
Por que você não vem comigo? Você
conhece bem a mensagem que estou tentando
propagar aqui... provavelmente melhor do que eu.

O acólito parece escandalizado. Gabrielle apenas parece pensativa.

GABRIELLE
(murmurando)
Espero que sim.
(mais alto)
Tudo bem.

Eva parece se recompor.

EVA
Depois você pode me levar aonde
ela está. Preciso falar com ela.


Gabrielle assente, enquanto segue Eva para fora do aposento.

GABRIELLE
(em voz baixa)
Isso se ela não nos encontrar primeiro.


CORTA PARA:

CENA INT. PRISÃO DO ESTALEIRO DA CIDADE DE HEDELON - DIA

Xena se esquiva furtivamente ao longo do corredor, parecendo se misturar com as sombras. Há janelas espaçadas a uma altura freqüente nas paredes, mas a maioria da iluminação vem de velas em candeeiros.

Há portas com barras também igualmente espaçadas. Xena espia dentro de uma delas.

Dentro há um homem sentado, vestido em trapos. Ele tem um catre plano de madeira para dormir nele e só. O aposento, por outro lado, está vazio, exceto por uma tábua de madeira com o símbolo do sol coroado.

XENA
Ei.

O homem ergue os olhos, assustado.

PRISIONEIRO
Quem... quem está aí? O que você quer?
Não é hora de eu trabalhar, é?

XENA
Não. Venha cá.

O homem olha em volta, depois se levanta do catre e manca até a porta. Ele envolve suas mãos nas barras da porta e espia entre elas, se lançando para trás em surpresa quando vê Xena.

PRISIONEIRO
Oh! Você é uma mulher!

XENA
(fazendo graça)
Obrigada por notar.
Pelo que você está aí dentro?

O homem parece desconfiado.

PRISIONEIRO
Por que você está perguntando? Se
você está aqui, e não está trancada, você
sabe porque todos nós estamos aqui.

XENA
Finja que eu sou burra.


O prisioneiro olha para ela muito ceticamente.

PRISIONEIRO
Eu vim aqui para vender os bens que teci.
Eles quiseram ficar com metade do que
eu consegui. Eu recusei. E aqui estou.

XENA
Metade?

PRISIONEIRO
É isso aí. Eu ficaria com menos do que me
custou para fazer os bens. Então eu tentei
fugir, mas eles me pegaram. Agora eu tenho
duas luas de trabalho duro, e nenhum dinheiro.
Da próxima vez eu já sei o que fazer.

XENA
Não vender mais aqui?

PRISIONEIRO
Nao. Juntar-me ao templo. Eu ouvi dizer que se
você ficar bem com eles, você consegue uma
parte, em vez de ter que pagar.

Passos se aproximam. Xena se afasta da porta e se aperta em um canto escuro. Três homens de manto caminham passando vivamente, chegando tão perto que até roçam Xena com o tecido das vestes que usam.

HOMEM DE MANTO
Eu acho que aqueles guardas beberam cerveja demais,
com essa de achar que viram alguém pular o cercado.
Quem iria querer ENTRAR em uma prisão?

SEGUNDO HOMEM DE MANTO
É. Vamos precisar de outro se isso
continuar. Foi uma grande idéia dos
Branton lograr cinqüenta por cento
de todos. Ou eles pagam...

HOMEM DE MANTO
Ou pagam duas vezes!

Os homens riem, e continuam caminhando. Xena os observa partir.

PRISIONEIRO
Eles dizem que é preciso termos
algo no qual acreditar de novo.
(rindo sombriamente)
'Tá. Dê-me Ares então.

Xena reage ao nome, depois olha para o prisioneiro.

XENA
Cuidado com o que você deseja.


Xena se vira e vai embora. Inesperadamente, dois homens aparecem no final do corredor e a avistam.

GUARDA
Ei! Você aí!

Em vez de correr, Xena pára no meio do corredor, e coloca as mãos na cintura.

XENA
Está falando comigo?

GUARDA
É! Não se mova!

XENA
Eu nem pensaria nisso.

SEGUNDO GUARDA
Pegue-a!

Xena alegremente encontra os dois guardas, agarrando a vara das mãos de um e atirando longe a arma do segundo com ela. Xena gira a vara e roda ao mesmo tempo, atingindo ambos os homens com as duas pontas repetidamente.

XENA
Iáá!

Xena termina com a vara sob o braço, e os dois homens amontoados no chão.

PRISIONEIRO
Uau. Não acho que aquela mulher
profeta vá gostar de você.

XENA
É melhor ela gostar de mim. Eu sou mãe dela.


Está quieto por alguns segundos, depois um trovão de passos se escuta, e um contingente inteiro de guardas dobra a esquina, indo direto para Xena.

XENA
(continua)
Todo mundo tem que entrar na ação.

Xena ergue a vara do segundo guarda e se dirige aos homens que estão vindo, soltando seu grito de batalha a todo o volume.

CORTA PARA:

CENA INT. HOSPITAL DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - FINAL DA TARDE

Gabrielle se ajoelha ao lado de um garoto ferido. Ela tem um pedaço de linho sobre o ombro e acabou de trocar a bandagem de sua perna. Ela sorri para o garoto, e ele sorri de volta para ela, timidamente.

GABRIELLE
Como você se machucou?

GAROTO
Eu estava trazendo algumas ervas para
minha mãe e uma carroça me atropelou.

GABRIELLE
Uau. Aposto que doeu.

GAROTO
É. Um pouco.
(olhando para a perna)
Você fez isso aí bem rápido. Você
pode fazer isso o tempo todo? Aqueles
outros caras demoram demais e isso dói.

Gabrielle bagunça o cabelo do garoto.

GABRIELLE
Eu tenho muito mais prática
do que eles, aposto.


Eva se aproxima e se ajoelha ao lado de Gabrielle. O garoto olha para Eva com uma mistura de temor e apreensão.

EVA
Bem, Ivan... Vejo que
você já foi cuidado.

IVAN
Sim, senhora. Esta moça é legal.

Eva olha para Gabrielle.

EVA
Sim, ela é. Aposto que se você pedisse,
ela até lhe contaria uma história.

IVAN
(para Gabrielle)
Contaria?

Gabrielle sorri para o garoto.

GABRIELLE
Claro. Só me dê alguns
minutos, okei?

Gabrielle se levanta para jogar a velha bandagem fora. Eva vem e pára ao lado dela e elas olham para o hospital. Há catres espalhados pelo aposento de uma forma ordenada, e atendentes de manto vão de um a outro leito, confortando os homens e mulheres deitados ali.

Gabrielle percebe que dois ou três guardas deslizam para dentro do aposento e tomam posição perto da parede discretamente. Eles observam Eva de perto, mas Eva não parece estar ciente disso.

EVA
(suspirando)
É tanta gente precisando
de tanta coisa.

Gabrielle cruza os braços, e lança a Eva um olhar rápido e lateral.

GABRIELLE
Como você começou com isso,
Eva? Eu sei que você foi à China para
espalhar o ensinamento de Elai, mas...

EVA
Eu não fui longe. A mensagem dele...
era simplesmente diferente demais.
Eu fui bastante criticada.

A expressão de Eva é desapaixonada.

GABRIELLE
Então você voltou para cá?


EVA
Eu sabia que havia uma carência aqui.

Os olhos de Gabrielle se estreitam levemente.

GABRIELLE
Os velhos deuses se foram.

Eve assente, confirmando.

EVA
As pessoas estavam procurando por algo
em que acreditar. Eu dei isso a elas.

Ela olha para Gabrielle.

EVA
(continua)
Estou orgulhosa disso.

Gabrielle parece perturbada. Ela revê o hospital por vários momentos em silêncio. Ela está para responder, quando dois mais guardas entram correndo, olham em volta largamente, avistam Eva, e irrompem na direção delas.

GUARDA
Iluminada, por favor. Há um certo
transtorno na cidade. Nós temos
que levá-la de volta ao templo.

EVA
(franzindo a testa)
Que tipo de transtorno?
O que está acontecendo?


GUARDA
Eu... Eu não sei. Só me disseram para
vir buscar você e levá-la de volta...
por favor, Iluminada...

EVA
(relutantemente)
Tudo bem. Gabrielle...

Gabrielle tem uma idéia bastante boa do que é esse transtorno, e não está superpreocupada com a segurança de Eva no momento.

GABRIELLE
Eu tenho uma história para contar.
Estarei lá assim que eu terminar.

Eva parece perturbada, mas assente, e então segue os guardas para fora do hospital. Gabrielle a observa partir. Vários dos pacientes ali perto estão observando-a curiosamente. Gabrielle volta para perto de Ivan e se senta no banquinho ao lado dele.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - CÂMARA DE EVA

Os aposentos de Eva são austeros e modestos. Há uma cama simples e pequena de um lado, uma tigela para se lavar, com toalha, em uma mesa de madeira do outro lado, e alguns pequenos efeitos pessoais espalhados por todo o lugar.

Eva entra, seguida por um homem com uniforme de guarda.

EVA
Mercanius, eu não entendo do que se
trata. Você está me dizendo que há
pessoas atacando a cidade? Por quê?

MERCANIUS
Iluminada, eu não sei dizer. Só sei
que alguns dos seus fiéis seguidores
foi ferozmente atacado perto do porto,
e nós ainda não pegamos aqueles que
fizeram isso. É a sua segurança
o que nos preocupa.

EVA
A minha? Por quê?

MERCANIUS
(cautelosamente)
Nós, ah... é que parece que foi a
sua visão... sua mensagem...
que estava sendo atacada.

EVA
Isso é ridículo. Alguém provavelmente
bebeu cerveja demais, e só. Mercanius,
por favor, me deixe sozinha. Se isso
faz você se sentir melhor, ficarei
aqui até a refeição da noite.

MERCANIUS
Eu vou pôr um de meus homens do
lado de fora de sua porta, Iluminada.

EVA
Não, não porá. Agora apenas saia. Por favor.

Mercanius parte. Eva se senta em sua cama e fita a parede oposta, com uma expressão perturbada.

EVA
(continua)
Tudo simplesmente começou a correr para outro
lado de repente. Não consigo explicar isso.

Xena sai de detrás do simples lenho de madeira pressionado contra a parede.

XENA
Aposto que consegue.


FADE OUT.
FIM DO SEGUNDO ATO

Quem Observa o Observador Parte 2 - Primeiro Ato

CENA EXT. CIDADE DE HEDELON - PASSAGEM ESTREITA ENTRE EDIFÍCIOS - DIA

Xena e Gabrielle se escondem em um beco sem saída. Xena está sentada em uma caixa, com as mãos enganchadas à sua frente. Gabrielle se agacha ao lado dela, com uma mão pousando no ombro de Xena.

GABRIELLE
Okei, aquilo foi um choque.


XENA
É.

Gabrielle esfrega o braço de Xena.

GABRIELLE
Bem, ao menos isso torna as coisas mais fáceis.
Nós podemos simplesmente entrar lá e falar com ela.

XENA
Podemos?


GABRIELLE
Claro. Quer dizer, se realmente for ela no
meio disso, talvez seja tudo apenas um
imenso mal-entendido. Você sabe
como isso pode acontecer.

Xena está olhando direto para frente.

XENA
E se não for?

GABRIELLE
(franzindo a testa)
Se não for? Não entendo, Xena. Você
não está mesmo achando que a Eva
está por trás desses caras, está? Ela
é sua filha... como você poderia?

Xena olha muito sombriamente para Gabrielle.

XENA
Porque ela é minha filha.

Gabrielle cai em silêncio. Depois de um momento olhando dentro dos olhos de Xena, ela simplesmente ergue a mão e passa a costa dos nós de seus dedos pela bochecha de Xena.

GABRIELLE
Acho que ela iria achar o que esses caras
estão fazendo tão podre quanto achamos.

Xena exala pesadamente.

XENA
Talvez. Mas é melhor esperarmos escurecer
antes de tentarmos entrar, só por garantia.


Gabrielle olha em volta.

GABRIELLE
Certo. Vamos encontrar um lugar
para nos enfiarmos até lá. Estamos
chamando muita atenção nesta multidão.

Xena se levanta e puxa seu capote em torno de si, escondendo sua armadura e armas.

XENA
Que tal se nós lhe arrumarmos um novo
manto elegante, aí você pode...

GABRIELLE
Eu posso?

XENA
(se retorcendo)
Mesmo nas roupas certas, você chama
um pouco mais de atenção do que eu.

GABRIELLE
(sorrindo)
Essa foi uma piadinha, não foi?


Xena esboça um sorriso em retribuição.

XENA
Nunca. Venha.

Xena e Gabrielle vão para a beira do muro e espiam cuidadosamente. Elas vêem apenas alguns ambulantes, então elas saem do beco e se juntam ao fluxo mais pesado do tráfego.

Elas realmente atraem a atenção. Vários homens assentem com a cabeça e apontam para elas enquanto elas esvanecem para dentro da multidão.

CORTA PARA:

CENA EXT. CIDADE DE HEDELON - TARDE

Gabrielle está caminhando pelas ruas da cidade. Ela agora está vestida em um manto cor de aveia sem qualquer adorno ou sandália. Ela se mistura entre a multidão, e atrai menos atenção.


Ela avista um imenso prédio afastado da rua, com degraus que levam à entrada. Pessoas em mantos com o selo do sol estão sentadas nos degraus, alguns falando com os transeúntes.

GABRIELLE
Parece um lugar tão bom quanto qualquer um para começar.

Gabrielle vagueia casualmente adiante e se senta nos degraus, perto de um grupo de homens e mulheres, perto o suficiente para ouvir a conversa deles.

CORTA PARA:

CENA INT. ESTALAGEM DA CIDADE DE HEDELON - TARDE

Xena agora está vestida em uma simples e tosca túnica, mais parecida com os trabalhadores das ruas da cidade. Ela acabou de entrar na estalagem, e toma um assento a uma mesa perto dos fundos.

A estalagem está três-quartos cheia, a maioria com pessoas que trabalham para a cidade. Há ali mercadores, marinheiros, condutores de carroça, donos de estábulo - a classe média trabalhadora. Xena não se distingue da multidão, mas atrai alguns olhares quando toma um assento nos fundos.

Uma criada termina de servir uma bebida e vai até a mesa de Xena.

CRIADA
Em que posso serví-la?

XENA
Leite de cabra.

A criada fita Xena, confusa.

XENA
(continua)
Cerveja e um pouco de pão.


CRIADA
Okei, isso nós temos.
Nova na cidade?

XENA
Acabei de chegar.
Parece um lugar agradável.

Dois dos mercadores ali perto estiveram escutando. Um agora se vira de frente para Xena. A criada sai para atender seu pedido.

MERCADOR
Claro que é.
(pausa)
Ao menos que você trabalhe em vez de conversar o
dia todo. Você é uma trabalhadora ou uma faladeira?

Xena coloca a bota sob um imenso saco de grão perto da mesa e o ergue com uma simples flexão da perna. Ela o põe de volta no chão.

XENA
O que você acha?

Os homens riem disfarçadamente. A criada volta com uma caneca para Xena, e um prato de madeira com pão.

XENA
(continua)
Então, por que este é um mau
lugar para o trabalho honesto?

CRIADA
Não é. Ele simplesmente
reclama de tudo.

MERCADOR
É? Então você deve gostar de dar aos
caras de manto os seus dinares, não é?

A criada parte. Xena se levanta e leva sua caneca e prato para a mesa dos mercadores. Ela se senta ao lado deles.

XENA
Contem-me sobre
os caras de manto.

Os mercadores olham em volta, depois se inclinam mais perto dela, abaixando suas vozes.

MERCADOR
Não fale tão alto. Eles falam muito sobre
amor e tolerância, mas eu já vi pessoas
que cruzaram com eles serem levadas
para alguns lugares bem desagradáveis.

XENA
É?

MERCADOR
É. Isto aqui era apenas um remanso
afastado. Daí esses caras apareceram e
começaram a falar sobre toda essa conversa
de partilha e amor e as pessoas caíram nessa.

XENA
Partilhar não é algo ruim.

MERCADOR
Não, se todos fizerem isso.
(se retorcendo)
A questão é que foi assim que começou, mas
agora a partilha está mais para esses caras
recebendo, e dando muito pouco em troca.

XENA
Ã-ram. Então eles pedem por doações?


MERCADOR
Pedem?
(rindo)
Se você vender ou comprar qualquer coisa nesta
cidade, você paga a eles uma porcentagem.
Acho que eles impuseram isso como uma
obrigação depois que ergueram o lugar.

XENA
E se você não pagar?

O mercador olha em volta cuidadosamente.

MERCADOR
Eu poderia lhe contar, mas eu não quero
ver minha língua pendurada no portão.

As sobrancelhas de Xena se erguem.

MERCADOR
(continua)
(sussurrando)
Mas eu vou lhe mostrar, se
você ousar vir comigo.

Xena olha pensativamente para o mercador. Então ela atira uma moeda na mesa e se levanta, parando para esperá-lo juntar-se a ela.


CORTA PARA:

CENA EXT. DEGRAUS DO TEMPLO DA CIDADE DE HEDELON - TARDE

Gabrielle se juntou agora ao grupo sentado nos degraus. Dois dos homens com os mantos que têm o selo do sol estão de cada lado dela, e dois dos outros se sentam ao longo dos degraus.

GABRIELLE
Mas San, você disse que
estava ensinando...

SAN
Eu não, Gabrielle. Eu não ensino; eu
simplesmente apresento questões.

GABRIELLE
(sorrindo)
Okei. A questão que você apresentou foi:
‘Você pode amar seu próximo sem
amar a si mesmo primeiro?’

SAN
Sim.

GABRIELLE
Minha questão para você é... : Se o amor é
realmente uma dádiva, não é egoísmo dar a si
mesmo esse presente antes de dá-lo aos outros?


San reflete sobre isso. O outro homem com o selo do sol no manto rabisca algo num pergaminho. Os outros dois espectadores escutam com interesse.

SAN
Essa é certamente uma questão, Gabrielle.
Eu não sei se posso respondê-la, mas
eu sei que nosso líder poderia.

GABRIELLE
Eva?

Ambos homens de manto olham para ela com um leve desconforto. Os dois espectadores também parecem chocados.

SAN
Ah... Sim, embora nós a
chamemos de A Iluminada,
ou Aquela que Escuta.

GABRIELLE
Bem, talvez eu possa
perguntar a ela.

Os dois homens se entreolham.

GABRIELLE
(continua)
Claro que não tomaria muito tempo.

SAN
(dando de ombros)
Nós podemos ver se A Iluminada está
disposta. Mas não há modo de saber.
Você poderia se desapontar.

GABRIELLE
É a única forma de descobrir.


Eles se levantam, e os dois homens de manto começam a subir os degraus, conduzindo Gabrielle na direção da entrada do templo.

CORTA PARA:

CENA EXT. ESTALEIRO DA CIDADE DE HEDELON - FINAL DA TARDE

Xena e o mercador andam furtivamente junto a um beco perto do estaleiro. Quando eles atingem a esquina, o mercador pára e se aperta contra o muro. Xena faz o mesmo.

MERCADOR
Bem ali.

Xena cuidadosamente espia pela esquina e observa. Perto do final da estrada está um extenso prédio com um muro em volta dele. No muro há um portão, e sobre o portão está o selo do sol coroado. Há guardas ao portão, usando túnicas que também carregam o selo.

XENA
O que é isso?

MERCADOR
Esse é o lugar para onde as pessoas que
discordam com os caras de manto são levadas.

Xena examina a estrutura.

XENA
Como você sabe?

O mercador parece momentaneamente abalado. Ele se vira e se move um pouco para trás, afastando-se de Xena, mas não vai embora.

MERCADOR
Eu tenho um irmão lá dentro.

Xena observa enquanto dois homens de manto se aproximam do portão. Eles são saudados pelos guardas, que abrem as portas respeitosamente a eles. Eles entram, e os portões são fechados atrás deles.

XENA
Por que está me contando isso tudo?


O mercador ri disfarçada e suavemente.

MERCADOR
Porque eu sei quem você é, Xena.

Xena não parece surpresa. Ela observa os portões se abrirem novamente, e desta vez os dois homens de manto emergem com uma figura entre eles, vestida em trapos.

XENA
Entendo.

MERCADOR
Eu sei que você não é amiga dos deuses.

XENA
E o que faz você pensar
que eu sou sua amiga?

O mercador dá outro passo para trás.

MERCADOR
Digamos apenas que eu ouvi histórias.
De qualquer forma, você queria
ver a verdade. Aí está ela.

O mercador se vira e corre para fora do beco, desaparecendo rapidamente em uma leve nuvem de poeira.

Xena suspira e volta a examinar o prédio. Depois de um momento, ela dá um passo para trás e baixa o olhar para si mesma, abrindo os braços em questionamento. Ela balança a cabeça, depois se move pela esquina e começa a esquivar-se na direção do prédio, esforçando-se ao máximo para não chamar atenção.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - FINAL DA TARDE

Gabrielle caminha com San e seu amigo através do templo. É um prédio de pedra com paredes brancas e lisas, e um chão meticulosamente limpo.

Dos dois lados do corredor principal há câmaras. Gabrielle olha dentro de uma enquanto passa e vê várias pessoas de manto, homens e mulheres, sentados em tapetes de lã no chão, estudando pergaminhos.

Há tochas nas paredes, mas a atmosfera é de austeridade e moderação. Gabrielle se estica para tocar uma das tochas da parede enquanto caminha. Ela puxa sua mão de volta e descobre nada mais do que uma mancha de sujeira em seus dedos.

GABRIELLE
Há quanto tempo você esteve aqui?


San se vira, surpreso com a pergunta.

SAN
Eu? Há três luas apenas.

GABRIELLE
E quanto a outras pessoas?
Este lugar?

SAN
Ah. Duas colheitas, acho.
Estou certo, Temis?

Gabrielle olha para cima do prédio.

TEMIS
Acho que sim. Este lugar costumava ser o
palácio de um nobre. A Iluminada deu ao
nobre a mensagem, e ele o entregou a ela
para que ela o usasse em seus trabalhos.

GABRIELLE
Ah. Entendo.

Eles caminham, passando por aposento após aposento. A maioria está vazia e em silêncio. Alguns estão ocupados com pessoas meditando. Todos parecem limpos e quase estéreis.

Eles sobem por um andar de degraus. Ao topo da escada está um par de portas ornadas, pesadamente entalhadas e forjadas de ouro e prata. Este é o único sinal de riqueza até agora.

SAN
Este é o lugar onde escutamos
as mensagens que ela nos dá.

Gabrielle os segue pelos degraus. Ao topo da escada, San abre a grande porta e eles entram.

CORTA PARA:

CENA EXT. TOPO DO TELHADO DO ESTALEIRO DA CIDADE DE HEDELON - AO MESMO TEMPO

Um telhado cobre o prédio do estaleiro. Um par de mãos repentinamente se revela em torno da beirada do telhado e, imediatamente depois, Xena salta para cima, sobre a beirada, e pousa no topo do telhado com um baque surdo. Ela sacode a poeira das mãos e vai para a beirada oposta, se ajoelhando e espiando o templo por cima.


O prédio onde ela está é mais alto que os muros, e ela agora pode ver sobre eles. Ela faz sombra nos olhos com as mãos e observa um grupo de homens em trapos que estão perto do lado de dentro do muro, todos ocupados trabalhando em várias tarefas.

Observando-os há guardas com túnicas marcadas pelo selo. Os homens trabalhando estão em roupas esfarrapadas e parecem magros. Um deles se vira para apontar para um poço no canto do pátio, mas os guardas gesticulam ferozmente para ele e ele volta a trabalhar.

XENA
Parece que eles conseguem os
dinares de um jeito ou de outro.

Xena escala a beirada do telhado e pára, depois se joga pelo espaço em direção ao próximo telhado, este mais perto do prédio do templo.

Ela pousa e se arrasta até a outra beirada, espiando cuidadosamente os muros do outro lado.

Um guarda olha para cima, e ela se abaixa, esperando por um alarme.

Continua quieto. Lentamente, ela levanta a cabeça novamente e espia. Os guardas foram embora para vigiar a estrada que leva aos portões.

Xena espera mais alguns segundos. Então ela escala o muro baixo em volta deste telhado, e balança ali, se preparando para saltar no muro.

Os guardas repentinamente se viram e vêm na direção em que ela está. Xena pensa rápido e salta sobre as cabeças deles enquanto eles correm para a porta do prédio em que ela esteve parada. Ela aterrissa no muro quando eles atingem a porta e começam a bater.

Xena corre pelo topo do muro, depois salta para dentro do pátio interno.

CORTA PARA:

CENA INT. TEMPLO PRINCIPAL DA CIDADE DE HEDELON - CÂMARA INTERNA

Gabrielle espera sozinha em uma pequena câmara dentro da área principal do templo. Como o resto do prédio, esta câmara é modesta e austera, embora haja um tapete de lã no chão de pedra e várias cadeiras de madeira.

Gabrielle ergue os olhos para um mosaico na parede. Ele é feito de telhas comuns de cerâmica e contorna o selo do sol coroado com um par de linhas onduladas abaixo dele.

A porta interna se abre e Gabrielle se vira, mas é uma jovem garota em um manto simples quem entra. A garota parece tão surpresa em ver Gabrielle quanto Gabrielle está em vê-la.

GAROTA
Oh! Desculpe-me. Eu não sabia
que tinha alguém aqui dentro.

GABRIELLE
Está tudo bem.

GAROTA
(hesitante)
Você está esperando para ver A Iluminada?
Acho que ela está meditando.

GABRIELLE
Sim, estou. Você mora aqui?

A garota se aproxima dela, aparentemente tranqüilizada. Ela está no começo da adolescência, é magra, e tem o cabelo quase da mesma cor que o de Gabrielle.

GAROTA
Sim. Eu costumava viver nas ruas daqui,
mas A Iluminada me encontrou,
e me ensinou as palavras.

GABRIELLE
Você gosta de ser uma parte disso tudo?

A garota olha para Gabrielle estranhamente.

GAROTA
Você não gostaria? É por isso
que você está aqui, não é?

GABRIELLE
Não exatamente.


Vozes repentinamente soam no quarto interno. A garota se vira, correndo de volta para a porta quando as vozes se aproximam.

Gabrielle permanece em silêncio, cruzando os braços sobre o peito.

Várias vozes são agora audíveis, embora as palavras não sejam inteiramente claras. A jovem garota puxa a porta, abrindo-a, e agora as vozes se tornam claras.

VOZ DE HOMEM
Iluminada, só mais uma
pergunta, por favor...

SAN
Eldren, por favor, a visitante está esperando.

VOZ DE MULHER
Você não deveria ficar trazendo gente de fora aqui para
dentro assim, San! No que você estava pensando??

Uma multidão de pessoas irrompe para dentro do aposento, com Eva no centro delas. Gabrielle continua quieta, observando atentamente. As pessoas em volta de Eva falam todas ao mesmo tempo, cercando-a com um rumor de sons e caos. Eva veste um conjunto de mantos simples, sem nenhuma insígnia de qualquer tipo.

SAN
Qualquer um com uma pergunta é bem-vindo,
você me disse. Eu pensei que o objetivo era...

HOMEM
Sim, mas todos nós temos perguntas.
Há tanto tempo dentro de um dia!

MULHER
Iluminada, sua agenda...

GAROTA
Você recebeu nova mensagem, Iluminada?
Achei que você tinha dito que...

GABRIELLE
(claramente)
Eva.


No meio de todo o barulho e atividade, Eva repentinamente ergue os olhos e os passa pelo aposento. Seus olhos encontram os de Gabrielle.

Os murmúrios esvanecem até o silêncio, e todos olham para Eva, depois, incertos, se viram para olhar para Gabrielle.

EVA
Com aquela pergunta, eu
deveria saber que era você.


FADE OUT.
FIM DO PRIMEIRO ATO

Quem Observa o Observador Parte 2 - Prólogo

NA SEMANA ANTERIOR, EM XENA...

CENA EXT. CIDADE DE HEDELON - DIA - UMA SEMANA DEPOIS

A Cidade de Hedelon fica no fim de uma estrada alinhada de pedras. Ela é extensa, e tem densos muros de pedra. O selo do sol coroado está pintado em vários lugares proeminentes, e muitas pessoas caminham entrando e saindo da cidade também usando o selo em seus mantos.

Alstan e seu pessoal entram pelos portões. Eles são saudados pelos homens parados ali perto com acenos e gritos calorosos.

GUARDA
Alstan! Irmão! Nós não esperávamos
você antes da próxima lua!

ALSTAN
Ah, meu amigo. Preciso de uma assembléia!
Tem havido desafio à mensagem, e eu vim
buscar por sabedoria em como defendê-la.

Vários homens se reúnem em torno dele. Desapercebidas, Xena e Gabrielle param nas sombras dos muros para ouvi-los. Elas olham em volta sem acreditar no tamanho da cidade e no número de pessoas.

GABRIELLE
Xena, isso é muito maior do que eu imaginei.


XENA
Eu também. É difícil de acreditar que algo assim
cresceu tão rápido... Bem debaixo de nossos narizes.

O guarda coloca o braço em torno dos ombros de Alstan.

GUARDA
Problemas? Difícil de acreditar. A palavra
atingiu a terra, e muitos têm vindo aqui
para celebrá-la. Olhe em volta!

Alstan se vira e olha. A cidade parece cheia de peregrinos.

ALSTAN
É um colírio para os olhos. Mas não importa,
é apenas um pequeno revés. Venha. Vamos
para o templo, para que eu possa ouvir de
novo a mensagem e me recuperar.

O grupo de viajantes se dirige a uma larga avenida. Quando eles passam por uma estátua, eles se viram e se curvam respeitosamente a ela, depois continuam. Xena e Gabrielle vão atrás deles.

GABRIELLE
Nós precisamos descobrir quem está por trás disso,
Xena. Não podemos tomar uma cidade inteira. E
essas pessoas realmente parecem que... Ei!

Xena parou repentinamente. Gabrielle colide com ela e quica para trás, segurando no braço de Xena para se estabilizar.

XENA
(de cara fechada)
Acabamos de descobrir.


Gabrielle se vira e fita a estátua.

É Eva.

FADE OUT.
FIM DO PRÓLOGO

Quem Observa o Observador Parte 1 - Quarto Ato

CENA EXT. TEMPLO DE PETRONIKUS - NOITE - CONTINUANDO

Gabrielle ergue a mão.

GABRIELLE
Vocês podem atirá-las.
Mas eu atirarei de volta.
(pausando)
Pensem! Por que um deus
precisaria de grãos?

ALSTAN
Sim! Pensem! Mas pensem sobre a
paz que a mensagem do observador
nos trouxe a todos. A mensagem
de amor, de fraternidade...

Gabrielle se vira novamente de frente para ele.

GABRIELLE
E de roubo?


ALSTAN
Meus irmãos, detenham a língua dela. O
observador me ordena a isso. Agora!

CORTA PARA:

CENA EXT. ÁRVORES EM VOLTA DA ESTALAGEM DE PETRONIKUS

Xena se prepara para saltar.

XENA
Abaixe-se, baby. Abaixe-se.


CORTA PARA:

CENA EXT. TEMPLO DE PETRONIKUS - NOITE

Os homens correm na direção de Gabrielle. Gabrielle desvia do caminho, enquanto pedras começam a voar.

Mas as pedras não estão sendo direcionadas para Gabrielle. Elas atingem os homens de túnica, em vez disso. A multidão solta um grito.

MULTIDÃO
Ahh!!!

Os homens em túnicas reagem, atacando a multidão. Gabrielle, presa entre os dois grupos, pega uma bastão e golpeia um dos irmãos com ele.

GABRIELLE
Está sentindo o amor?


ALSTAN
Em nome do observador, eu
ordeno que vocês dispersem!

Xena salta sobre a maioria da multidão e aterrissa ao lado de Gabrielle. Ela agarra um dos homens atacando e o gira, esmagando-o contra a plataforma. O selo do sol coroado voa longe para os arbustos.

A multidão não está muito acostumada, mas eles atiram paus e pedras, meio com medo e meio excitados enquanto os irmãos começam a cair para trás diante do ataque de Xena e Gabrielle.

ALSTAN
(continua)
Detenham-nas, meus irmãos!
A palavra sagrada está com vocês!

GABRIELLE
Cuidado!

A estalajadeira está se debatendo segurada por dois dos irmãos. Ela grita em terror. Gabrielle se esquiva sob um dos braços de um irmão e o soca nas entranhas. Ele capota. Gabrielle gira e pega o segundo homem com um chute circular do lado da cabeça. A estalajadeira cambaleia para longe, meio histérica.

ALSTAN
Peguem-nas! Peguem-nas!

XENA
Pegue isso!

Xena agarra a beirada da plataforma e a faz se erguer. Alstan tomba e vem a cair no chão.

Dois dos irmãos seguram Alstan e disparam para as portas do templo. O resto cai para trás, defendendo-se das pedras da multidão agora encorajada.

GABRIELLE
Corram! Fujam como os covardes que são.
Onde quer que vocês espalharem suas falsas
palavras, nós os encontraremos e deteremos vocês!

Os homens disparam para dentro do templo e batem a porta, fechando-a. Ouve-se um grande trinco sendo atirado para trancá-la.

Xena desembainha sua espada e a deixa voar. Ela se enterra a trinta centímetros de profundidade na porta de madeira e um tênue grito se ouve através dela.

XENA
E não se esqueçam disso.

Cresce o silêncio no pátio. A multidão parece incerta do que fazer agora que a luta acabou. Eles também parecem um pouco duvidosos do que fizeram.

GABRIELLE
Obrigada por não me apedrejarem.

A estalajadeira se aproxima. Seu vestido está rasgado, e ela está arranhada do seu intercurso com os dois homens.

ESTALAJADEIRA
O que nós fizemos?

HOMEM
E se ele estava certo e o
observador agora nos odeia?

Um nervoso sussuro começa a se erguer.

XENA
Não tenho certeza de que tipo de mensagem
ele estava dando a vocês, mas eu conheço
um bando de vigaristas quando vejo
um, e eu acabei de vê-lo.


ESTALAJADEIRA
Isso não começou desse jeito! Quando eles
chegaram, eles falaram sobre o quão vazias
nossas vidas têm sido desde que os deuses
nos deixaram, e que agora nós deveríamos
nos unir e amar uns aos outros....

SEGUNDO HOMEM
Isso soava bem.

ESTALAJADEIRA
Pois é... mas depois de um tempo eles
começaram a pedir mais e mais e...

A multidão resmunga e concorda.

SEGUNDO HOMEM
Se você dissesse não, os irmãos
viriam até você e lhe convenceriam.

Xena assente. Ela já viu isso tudo várias vezes antes.

XENA
Eles tiravam vantagem de vocês.

ESTALAJADEIRA
Vocês devem achar que somos tolos.

GABRIELLE
Não. Querer acreditar em algo não
é tolice. Nós todos queremos isso.

A multidão parece desconfortável no templo.

SEGUNDO HOMEM
Bem, e agora? Eles vão sair de lá
em breve, e então estaremos
em grandes apuros.

Xena caminha até a porta e fica à luz da tocha.

XENA
Não, não estarão. Nós colocaremos uma guarda
nesta porta para ninguém sair, certo?

A multidão parece disposta e interessada em seguir esta nova líder entre eles.

SEGUNDO HOMEM
Certo, e então...

XENA
E então, amanhã, eu e Gabrielle
iremos entrar lá e limpar o lugar.

ESTALAJADEIRA
Por que vocês fariam isso por nós?
Nós sequer lhes conhecemos.

Xena olha para Gabrielle, que sorri.

GABRIELLE
Simplesmente é o que fazemos.


A multidão se movimenta. Três ou quatro grandes homens emergem, e se dirigem até a porta. Eles todos têm algo robusto parecendo com bastões em suas mãos, e eles se plantam dos dois lados da porta para guardá-la.

XENA
É isso. Seus homens ficam aqui, e se
vocês ouvirem alguém tentando abrir
essa porta, comecem a gritar.

Os homens assentem. Xena dá um tapinha nas costas de Gabrielle, e elas começam a se dirigir ao caminho que leva ao centro da cidade.

CORTA PARA:

CENA EXT. QUADRA DA CIDADE DE PETRONIKUS - NOITE

Enquanto a multidão se move pela quadra, a esposa de Alstan e sua filha Heriet se escondem atrás de uma árvore, parecendo aborrecidas e apavoradas.

Vindo por último, Gabrielle as avista quando elas tentam escapar na direção do templo. Seus olhos encontram os de Heriet.

Não há nada além de raiva e ódio nos olhos da garota. Gabrielle se vira e continua a caminhar.


CORTA PARA:

CENA EXT. TEMPLO DE PETRONIKUS - RETAGUARDA - NOITE

Está escuro. A lua está atrás das árvores. A cidade está em absoluto silêncio, exceto pelas tochas que continuam queimando na frente do templo, junto com o som de homens conversando ali perto.

Na parede traseira do templo, um painel muito lentamente começa a se abrir.

Depois de alguns segundos, a cabeça de um dos irmãos espia para fora e olha em volta, cuidadosamente. Não vendo ninguém, ele sai para trás do prédio, seguido por alguns dos outros.

Eles param e se apertam contra o muro do prédio e escutam.

Nada perturba o silêncio. Um homem assente com a cabeça. Um segundo faz um sinal com a mão na abertura de detrás do templo. Mais homens emergem, junto com Alstan.

Todos carregam pacotes nas costas, abarrotados. Depois de alguns mais momentos de escuta, eles partem para as árvores depois de fechar o painel traseiro do templo.

CORTA PARA:

CENA EXT. VISTA DO LADO DE FORA DE PETRONIKUS - NOITE

Alstan e seus homens caminham ao longo da cordilheira. Atrás deles, várias outras figuras cambaleiam... É a esposa e a filha dele e duas outras mulheres que os seguem para fora da cidade.

ALSTAN
(com raiva)
Hereges.

IRMÃO
Senhor, não foi o povo. Foram
aquelas... aquelas mulheres.

ALSTAN
Eu sei.

IRMÃO
O senhor ouviu o que elas disseram?
Elas irão a outros lugares...

ALSTAN
Eu ouvi. É por isso que estamos indo direto
para o local sagrado. O guarda do observador
saberá o que fazer, e deve ser alertado.

Ele pára e dá uma olhada para trás.

ALSTAN
(continua)
Então nós voltaremos lá e re-ensinaremos
a eles a nossa mensagem.

IRMÃO
E quanto àquelas mulheres?

ALSTAN
(sorrindo severamente)
Cuidaremos delas. A palavra do
mensageiro não será negada.

O pequeno grupo anda, descendo pelo caminho.

CORTA PARA:

CENA EXT. VISTA DO LADO DE FORA DE PETRONIKUS - NOITE

Xena e Gabrielle se agacham em uma cordilheira do caminho. Elas observam Alstan e seu povo passarem por elas.

GABRIELLE
Lá vão eles.


XENA
Com alguma sorte, direto para
onde essa coisa começou.

Xena e Gabrielle se levantam e seguem o grupo, caminhando ao longo da cordilheira pelo caminho, só que fora de vista.

CORTA PARA:

CENA EXT. CIDADE DE HEDELON - DIA - UMA SEMANA DEPOIS

A Cidade de Hedelon fica no fim de uma estrada alinhada de pedras. Ela é extensa, e tem densos muros de pedra. O selo do sol coroado está pintado em vários lugares proeminentes, e muitas pessoas caminham entrando e saindo da cidade também usando o selo em seus mantos.

Alstan e seu pessoal entram pelos portões. Eles são saudados pelos homens parados ali perto com acenos e gritos calorosos.

GUARDA
Alstan! Irmão! Nós não esperávamos
você antes da próxima lua!

ALSTAN
Ah, meu amigo. Preciso de uma assembléia!
Tem havido desafio à mensagem, e eu vim
buscar por sabedoria em como defendê-la.

Vários homens se reúnem em torno dele. Desapercebidas, Xena e Gabrielle param nas sombras dos muros para ouvi-los. Elas olham em volta sem acreditar no tamanho da cidade e no número de pessoas.

GABRIELLE
Xena, isso é muito maior do que eu imaginei.

XENA
Eu também. É difícil de acreditar que algo assim
cresceu tão rápido... Bem debaixo de nossos narizes.

O guarda coloca o braço em torno dos ombros de Alstan.

GUARDA
Problemas? Difícil de acreditar. A palavra
atingiu a terra, e muitos têm vindo aqui
para celebrá-la. Olhe em volta!

Alstan se vira e olha. A cidade parece cheia de peregrinos.

ALSTAN
É um colírio para os olhos. Mas não importa,
é apenas um pequeno revés. Venha. Vamos
para o templo, para que eu possa ouvir de
novo a mensagem e me recuperar.

O grupo de viajantes se dirige a uma larga avenida. Quando eles passam por uma estátua, eles se viram e se curvam respeitosamente a ela, depois continuam. Xena e Gabrielle vão atrás deles.

GABRIELLE
Nós precisamos descobrir quem está por trás disso,
Xena. Não podemos tomar uma cidade inteira. E
essas pessoas realmente parecem que... Ei!

Xena parou repentinamente. Gabrielle colide com ela e quica para trás, segurando no braço de Xena para se estabilizar.

XENA
(de cara fechada)
Acabamos de descobrir.


Gabrielle se vira e fita a estátua.

É Eva.

(Continua)...

Quem Observa o Observador Parte 1 - Terceiro Ato

CENA INT. TEMPLO DE PETRONIKUS - NOITE - CONTINUANDO

Gabrielle desliza para fora da viga. Ela se agarra em um pedaço de madeira, mas ele se quebra em suas mãos e ela vai em direção ao chão que fica a dois andares abaixo.

XENA
Ga...


Xena se joga para fora das vigas.

Abruptamente, o vôo de Gabrielle é interrompido quando ela é pega pela perna e pelo cangote de seu pescoço, e é segurada oscilando em pleno ar.

Xena tem as pernas enroladas em volta de um suporte do telhado, e está segurando Gabrielle sobre a cabeça dos homens lá embaixo.


GABRIELLE
(sibilando)
Xena!

XENA
Shi!

Os homens terminam de bater palmas, e o aposento se silencia.

ALSTAN
Tudo certo, homens, vamos deixar este
lugar pronto para o que eu espero que seja
muitas substanciais adições ao nosso estoque.

Alstan se vira para partir. Xena segura Gabrielle mais firme e olha para cima quando um pedaço do suporte do telhado se quebra e pousa em sua cabeça.

HOMEM
Senhor, o senhor falaria as palavras
do observador amanhã à noite?

ALSTAN
Eu falarei. Eu recebi um novo
pergaminho de mensagens.
Amanhã vocês as ouvirão.

Os homens assentem.

Outro pedaço de madeira cai e quica para fora do ombro de Xena. Xena habilmente o apanha em pleno ar com seus dentes para que não caia na cabeça de Alstan.

Gabrielle continua absolutamente imóvel, tentando não balançar. Seus olhos estão densamente fechados.

HOMEM
Eu sei que temos nossa missão aqui, mas
eu amo ouvir as palavras, senhor. Amo.

Alstan dá um tapinha no ombro do homem.

ALSTAN
Bem, isso é ótimo, meu filho.
Agora volte ao trabalho.

Alstan começa a partir, depois pára, olhando para o chão. Há pedaços de madeira lá. Ele olha para a madeira, depois olha em volta.

Xena dá uma minúscula sacudida em Gabrielle e Gabrielle abre os olhos. Ela vê Alstan diretamente abaixo dela, olhando para os fragmentos.

Simplesmente com vergonha de olhar para cima, Alstan dá de ombros e vai embora em vez de fazê-lo, seguido pelos outros homens. Eles não se apressam, cada um caminhando abaixo de onde Gabrielle está pendurada.

Finalmente, eles foram embora, e a porta bate se fechando atrás deles. Depois de um segundo, Xena cospe o pedaço de madeira da boca e ele salta para fora.

GABRIELLE
(sussurrando)
Filho de uma bacante.

XENA
Ou de outras palavras que vieram à minha mente.
(grunindo)
Ouça, não há...

GABRIELLE
Apenas me deixe cair.


Xena olha para baixo.

XENA
Esse chão parece duro.

Gabrielle olha em volta e vê poucas opções.

GABRIELLE
Bem, você pode simplesmente
me deixar cair de pé.

XENA
Agüenta aí... apenas me acompanhe.

Gabrielle faz careta. Xena se alça para cima, depois solta a perna de Gabrielle. Gabrielle tomba no ar, e estende suas mãos para cima para encontrar as de Xena enquanto ela cai. Elas se prendem pelos pulsos, e agora Gabrielle está balançando em uma posição muito melhor.

GABRIELLE
Okei.

XENA
Vá.

Xena a solta e Gabrielle se solta dela. Gabrielle aterrissa duro, mas mantém seu equilíbrio e espera enquanto Xena deixa o telhado e dá uma cambalhota em pleno ar para aterrissar ao lado dela.

Passos se aproximam novamente, e vozes ficam mais altas do lado de fora da porta. Xena e Gabrielle deslizam para os dois lados da porta e se achatam contra a parede. Xena desembainha sua espada. Gabrielle desembainha um sai.

O trinco da porta começa a mexer. A porta começa a se abrir.

Elas ouvem um grito de mais longe, e a porta bate fechada enquanto os passos retrocedem e somem.

Xena e Gabrielle relaxam. Gabrielle flexiona a perna e estremece, depois embainha seu sai.

Xena guarda a espada e começa a examinar o aposento.

GABRIELLE
Acho que não há muita dúvida
sobre esses caras, né?

Xena levanta um pedaço de pergaminho e o ergue na direção da luz. Depois de um momento, ela o atira para Gabrielle.

XENA
Não muita.


Xena olha em volta, depois põe as mãos na cintura. Sua expressão é algo entre o desgosto e o profundo incômodo.

GABRIELLE
Então, o que faremos? Vamos
simplesmente afugentá-los? Há
muitos deles, Xena, mas...

XENA
Mas há duas de nós, sim.

Xena olha em volta de novo.

XENA
(continua)
Se os afugentarmos, eles simplesmente
voltarão. Além disso, há algo
maior por trás disso.

Gabrielle solta o pergaminho dentro da caixa.

GABRIELLE
Então teremos que ir à fonte.

Xena assente.

XENA
Agora nós apenas temos que
fazê-los nos levar a ela.

Xena vai até a parede e sobe em algumas caixas. Ela estende uma mão para Gabrielle subir.

GABRIELLE
A porta simplesmente não é boa o suficiente, né?


Gabrielle sobe nas caixas e toma a mão de Xena enquanto escala para dentro do teto e desaparece.

ESVANECE PARA:

CENA INT - ESTALAGEM DE PETRONIKUS - MANHÃ

A estalajadeira está ocupada assando pão. Acabou de amanhecer, e o sol está brilhando na janela.

Gabrielle entra pelos fundos, parecendo ter recentemente se lavado e estar bem acordada. Ela assobia suavemente enquanto cruza até a área da cozinha.

GABRIELLE
Bom dia!

A estalajadeira parece surpresa em vê-la.

ESTALAJADEIRA
Oh! Bom dia! Eu não vi você
e sua amiga voltarem noite
passada, então pensei...

GABRIELLE
Nós entramos pela porta dos fundos.

A estalajadeira parece confusa.

ESTALAJADEIRA
Mas nós não temos uma porta nos fundos.

GABRIELLE
Claro que têm. Agora.

(pausa)
O que é isso que você está
fazendo, pão de passas?

A estalajadeira olha em volta da mesa. Ela está coberta de pães, há pelo menos uma dúzia deles.

ESTALAJADEIRA
Sim, tenho que começar cedo. Isso leva tempo.

GABRIELLE
(sorrindo)
Deve ser uma escolha popular por aqui.

ESTALAJADEIRA
(franzindo as sobrancelhas)
Bem, na verdade não, mas eles aderem muito
bem. É pela glória daquele que observa. Os
irmãos os levam para seus trabalhos.

Gabrielle cruza os braços e examina os pães com o olhar.

GABRIELLE
Mas eles pagam você por eles, certo?

ESTALAJADEIRA
Oh, não, não, claro que não.
É o meu presente a eles.

Gabrielle pega um pão e o examina.

GABRIELLE
Mas eles os vendem, não vendem?

ESTALAJADEIRA
Bem... Sim.

GABRIELLE
Então... Eles são pagos pelo seu trabalho.
O que você leva com isso?

A estalajadeira parece bastante perturbada. Ela volta a assar seus pães, virando as costas para Gabrielle. Gabrielle rouba uma passa de um pão e a mordisca.

CORTA PARA:

CENA EXT. LOTE DE PETRONIKUS - MANHÃ

Xena cavalga em Argo II ao longo de um sujo caminho. Dos dois lados dela há campos de grãos e outras coisas crescidas sendo colhidas. Do lado do caminho está uma grande carroça, com um número de cidadãos trabalhando em volta dela.

Xena diminui o ritmo enquanto se aproxima deles, e os homens erguem os olhos de seu trabalho.

XENA
Bom dia.


Um dos homens se aproxima dela.

CIDADÃO
É uma linda égua essa.

Para a sorte de Gabrielle, o caminho para o coração de Xena não é através de elogios a seu cavalo, mas isso nunca faz mal.

XENA
Obrigada. Parece que vocês
conseguiram uma boa safra aí.

Os homens olham para seu trabalho, depois para a carroça.

CIDADÃO
Sim, é sim. Nós estamos agradecidos por
nossas preces terem sido atendidas.

Xena sai de Argo II e vai até a carroça. Ela levanta um pouco do grão colhido.

XENA
Vocês rezaram por isso?

Os homens todos se reúnem em volta de Xena, mais do que levemente intrigados por sua aparição.

CIDADÃO
Nós tivemos dias difíceis desde que os velhos
deuses nos deixaram. Mas nesta estação,
os irmãos vieram e nos disseram a
mensagem daquele que observa.
Isso nos deu esperança.

Xena se encolhe levemente ao ouvir essa palavra.

SEGUNDO CIDADÃO
Desde que eles vieram pra cá, as colheitas
têm aumentado. A vida é melhor.

XENA
Vocês não acham que isso
pode ter sido uma coincidência?


Todos os homens franzem as sobrancelhas.

CIDADÃO
Como poderia ser?

XENA
(dando de ombros)
O tempo tem estado bom. Eu tenho visto grandes
colheitas por todo o caminho da costa até aqui.
(pausando)
Para onde isso tudo está indo? Vocês têm um
grande armazém? Provavelmente vendem o
que não precisam e têm um rendimento.

Os homens murmuram uns aos outros.

SEGUNDO CIDADÃO
Oh não. Isto é para aquele que observa.
Nosso tributo pela boa colheita.

Xena caminha para trás, olha para a carroça, olha para os homens, olha de novo para a carroça, e assume uma expressão muito cética.

XENA
Ã-ram. Okei. Tenho que ir.

Xena salta de novo em Argo II e dá mais uma olhada na carroça, balançando sua cabeça. A atenção dos homens se gruda nela e ela está ciente disso. Xena acena e vai embora, ainda balançando a cabeça. Os homens a observam partir, depois se reúnem em volta da carroça, com vozes se erguendo em um debate de muito pouca ordem.

CORTA PARA:

CENA EXT. ESTALAGEM DE PETRONIKUS - FINAL DA TARDE

Gabrielle está sentada do lado de fora da estalagem, na grama, escrevendo em um pergaminho. Ela está inclinada contra uma árvore, mas está observando a quadra com sua visão periférica.

Heriet sai de sua casa, e começa a se dirigir para o caminho do templo. Ela avista Gabrielle sentada na grama e pára, observando-a.

GABRIELLE
E Xena matou o gigante malvado,
salvando o vilarejo da destruição.

Heriet ouve as palavras e se desvia para mais perto.

HERIET
O que você está fazendo?

GABRIELLE
Escrevendo uma história sobre
algo que aconteceu conosco.

Heriet se aproxima e se senta ao lado de Gabrielle.

HERIET
Meu pai diz que contar histórias é do mal.

Gabrielle ergue os olhos.

GABRIELLE
Por quê?


HERIET
Porque te tira tempo do trabalho e espalha
mentiras. Ele diz que a única história que nós
deveríamos ouvir são as daquele que observa.

Gabrielle coloca sua pena no chão e sopra o pergaminho para secar a tinta.

GABRIELLE
Você acredita mesmo nisso?

Heriet dá de ombros.

GABRIELLE
(continua)
O que torna as histórias do seu observador
mais verdadeiras do que as minhas?

HERIET
(ofendida)
Elas são a palavra de deus!

Gabrielle não parece intimidada, naturalmente.

GABRIELLE
Bem, eu aprendi da maneira mais difícil que a
palavra de um deus e a palavra de um de
nós é meio que igualmente confiável.

Heriet se levanta e se afasta.

HERIET
Você não fala nada além de mentiras
indignas. Meu pai está certo.

Heriet sai enfurecida, deixando Gabrielle sentada na grama. Gabrielle enrola seu pergaminho e o encosta do lado do pescoço enquanto pondera.

Bem antes de desaparecer no caminho para o templo, Heriet pára, e olha para trás, incerta.

Gabrielle sorri, e a saúda com o pergaminho. Heriet franze a testa e sai correndo.

CORTA PARA:

CENA INT. ESTALAGEM DE PETRONIKUS - QUARTO DOS FUNDOS - COMEÇO DA NOITE

Xena está espalhada na cama pequena e relativamente baixa do quarto. Gabrielle está empacotando o último de seus pertences em uma bolsa de carga.

GABRIELLE
Você acha que isso vai funcionar?

Xena tem uma maçã equilibrada na barriga. Ela a faz saltar para cima e para baixo algumas vezes, à toa.

XENA
É difícil dizer. Nós plantamos algumas
sementes. Vamos ver o que colhemos.


Gabrielle caminha até lá e se senta ao lado dela. Ela retira a maçã e dá uma mordida nela, depois a entrega de volta.

GABRIELLE
As bolsas estão arrumadas. Você quer levá-las
para fora, e eu te encontro perto do templo?

Xena dá uma mordida na maçã.

XENA
Você está pronta para isso?

GABRIELLE
(suspirando)
Como sempre estarei. Vamos.


Xena levanta as bolsas e se vira para pular pela janela. Gabrielle salta depois dela e elas desaparecem dentro da escuridão.

CORTA PARA:

CENA EXT. TEMPLO DE PETRONIKUS - NOITE

O pátio do templo está cheio de cidadãos. Uma plataforma foi armada do lado de fora das portas, apressadamente decorada com fitas e amostras de tecido. Uma peça de tábua com o selo do sol coroado está escorado na frente da plataforma. Há tochas dos dois lados, iluminando a área.

A porta para o templo se abre e uma dúzia de homens vestindo túnicas emerge. Eles tomam posição dos dois lados da plataforma e ficam esperando.

CORTA PARA:

CENA EXT. ÁRVORES EM VOLTA DA ESTALAGEM DE PETRONIKUS - NOITE - AO MESMO TEMPO

Xena e Gabrielle estão atrás de uma árvore, observando a multidão. Xena endireita o casaco de Gabrielle e ajeita suas franjas um pouco mais uniformemente. Gabrielle lhe lança o tipo de olhar normalmente dado a mães que tentam limpar a sujeira com um polegar cheio de cuspe.

Vendo isso, Xena se inclina e beija Gabrielle nos lábios.

Gabrielle fica muito mais feliz com essa abordagem, e aparentemente perdoa Xena pelo exagero.

CORTA PARA:

CENA EXT. TEMPLO DE PETRONIKUS - NOITE

Alstan caminha para fora do templo e vai até a plataforma. Toda a multidão se curva respeitosamente, e ele ergue sua mão enquanto todos seus homens celebram.

ALSTAN
A paz do observador esteja com vocês,
meus amigos. Vocês têm aprendidos suas
lições bem, e nós temos prosperado. Sejamos
agradecidos a aquele que nos observa.

MULTIDÃO
Assim seja.

ALSTAN
A mensagem do observador nos diz para
cuidarmos um dos outros, obedecer aqueles
que conhecem a palavra do observador,
e dar ao observador tudo além do
necessário para nosso corpo.

HOMENS DE ALSTAN
(juntos)
Obedeçam o observador!

ALSTAN
Isso tem nos dado paz, e uma boa
colheita. O que mais podemos pedir?
(esperando)
Não podemos pedir nada. Mas o observador nos
enviou uma nova mensagem, e nós devemos
ouvir e obedecer sua nova mensagem, para
que nossa recompensa possa continuar.

A multidão murmura.

HOMENS DE ALSTAN
(juntos)
Toda a atenção à mensagem e ao mensageiro!

ALSTAN
Nós temos que fazer mais para levar a
mensagem aos outros! Não é suficiente conhecê-la
para nós, nós devemos gritá-la de todos os cantos,
para que nossos vizinhos e os seus vizinhos
possam escutá-la e ouvir a sua sabedoria!
Esse é o caminho para a verdadeira iluminação.

HOMEM NA MULTIDÃO
Mas... Nós fizemos tudo o que nos foi pedido.
Quando poderemos nos dedicar a viver nossas vidas?


Alstan aponta para ele.

ALSTAN
São pessoas como você que ameaçam
a nossa mensagem! Vejam! Entre nós,
participando da nossa recompensa, há
dúvida! Isso irrita o observador!

A multidão sussurra desconfortável. Eles se afastam do homem.

ALSTAN
(continua)
Vocês só conhecerão a paz através da
obediência à palavra do observador!

Gabrielle sai de detrás das árvores e caminha até ficar parada do lado oposto a Alstan.

GABRIELLE
Obediência a alguém que
nunca trouxe paz a ninguém.

A multidão reage em choque. Alstan também está chocado.

ALSTAN
Quem é você? Como ousa vir
aqui neste lugar sagrado
e blasfemar?!

GABRIELLE
Meu nome é Gabrielle. Eu viajei o
mundo, e sei mais sobre deuses do
que vocês podem sequer imaginar.

(apontando)
Blasfêmia depende de
quem está falando.

Os homens de Alstan se agitam de raiva.

ALSTAN
Forasteira, não há lugar para você aqui. Vá
embora, antes que você irrite o observador.
Você não consegue sentir o amor da
mensagem do observador.

GABRIELLE
Meu lugar é onde quer que os medos de
pessoas comuns estejam sendo usados
para tirar vantagem delas.

ALSTAN
(irado)
Você não ouve a mensagem!

A multidão começa a se aglomerar em torno de Gabrielle. Os homens de Alstan se reúnem em torno dele.

GABRIELLE
(em voz mais alta)
A mensagem é : dêem-me tudo o que
vocês têm para que eu possa vendê-lo
e tirar proveito. Por que não mostrar
a elas o que há em seu templo?

ALSTAN
Você é uma inimiga do observador!
Homens! Irmãos, irmãs... Atendam a
mensagem e defendam o mensageiro!
Ergam suas pedras!

Gabrielle vira de costas para eles e encara a multidão.

GABRIELLE
Eu sou uma inimiga? Pensem sobre o
que tem sido pedido de vocês! Obedecer
sem questionar? Desistir de seus lucros tão
duramente conquistados? Fazer estes homens
enriquecerem com os esforços de vocês? É
essa a mensagem que vocês escutam?

ALSTAN
Defendam o mensageiro! Apedrejem-na!

A multidão levanta pedras do chão, se movendo irritadamente enquanto os homens de Alstan correm para agarrar pedaços de pau de uma pilha próxima.

Gabrielle fica presa entre os dois grupos.

FADE OUT.
FIM DO TERCEIRO ATO