CENA INT. TEMPLO DE PETRONIKUS - NOITE - CONTINUANDO
Gabrielle desliza para fora da viga. Ela se agarra em um pedaço de madeira, mas ele se quebra em suas mãos e ela vai em direção ao chão que fica a dois andares abaixo.
XENA
Ga...
Xena se joga para fora das vigas.
Abruptamente, o vôo de Gabrielle é interrompido quando ela é pega pela perna e pelo cangote de seu pescoço, e é segurada oscilando em pleno ar.
Xena tem as pernas enroladas em volta de um suporte do telhado, e está segurando Gabrielle sobre a cabeça dos homens lá embaixo.
GABRIELLE
(sibilando)
Xena!
XENA
Shi!
Os homens terminam de bater palmas, e o aposento se silencia.
ALSTAN
Tudo certo, homens, vamos deixar este
lugar pronto para o que eu espero que seja
muitas substanciais adições ao nosso estoque.
Alstan se vira para partir. Xena segura Gabrielle mais firme e olha para cima quando um pedaço do suporte do telhado se quebra e pousa em sua cabeça.
HOMEM
Senhor, o senhor falaria as palavras
do observador amanhã à noite?
ALSTAN
Eu falarei. Eu recebi um novo
pergaminho de mensagens.
Amanhã vocês as ouvirão.
Os homens assentem.
Outro pedaço de madeira cai e quica para fora do ombro de Xena. Xena habilmente o apanha em pleno ar com seus dentes para que não caia na cabeça de Alstan.
Gabrielle continua absolutamente imóvel, tentando não balançar. Seus olhos estão densamente fechados.
HOMEM
Eu sei que temos nossa missão aqui, mas
eu amo ouvir as palavras, senhor. Amo.
Alstan dá um tapinha no ombro do homem.
ALSTAN
Bem, isso é ótimo, meu filho.
Agora volte ao trabalho.
Alstan começa a partir, depois pára, olhando para o chão. Há pedaços de madeira lá. Ele olha para a madeira, depois olha em volta.
Xena dá uma minúscula sacudida em Gabrielle e Gabrielle abre os olhos. Ela vê Alstan diretamente abaixo dela, olhando para os fragmentos.
Simplesmente com vergonha de olhar para cima, Alstan dá de ombros e vai embora em vez de fazê-lo, seguido pelos outros homens. Eles não se apressam, cada um caminhando abaixo de onde Gabrielle está pendurada.
Finalmente, eles foram embora, e a porta bate se fechando atrás deles. Depois de um segundo, Xena cospe o pedaço de madeira da boca e ele salta para fora.
GABRIELLE
(sussurrando)
Filho de uma bacante.
XENA
Ou de outras palavras que vieram à minha mente.
(grunindo)
Ouça, não há...
GABRIELLE
Apenas me deixe cair.
Xena olha para baixo.
XENA
Esse chão parece duro.
Gabrielle olha em volta e vê poucas opções.
GABRIELLE
Bem, você pode simplesmente
me deixar cair de pé.
XENA
Agüenta aí... apenas me acompanhe.
Gabrielle faz careta. Xena se alça para cima, depois solta a perna de Gabrielle. Gabrielle tomba no ar, e estende suas mãos para cima para encontrar as de Xena enquanto ela cai. Elas se prendem pelos pulsos, e agora Gabrielle está balançando em uma posição muito melhor.
GABRIELLE
Okei.
XENA
Vá.
Xena a solta e Gabrielle se solta dela. Gabrielle aterrissa duro, mas mantém seu equilíbrio e espera enquanto Xena deixa o telhado e dá uma cambalhota em pleno ar para aterrissar ao lado dela.
Passos se aproximam novamente, e vozes ficam mais altas do lado de fora da porta. Xena e Gabrielle deslizam para os dois lados da porta e se achatam contra a parede. Xena desembainha sua espada. Gabrielle desembainha um sai.
O trinco da porta começa a mexer. A porta começa a se abrir.
Elas ouvem um grito de mais longe, e a porta bate fechada enquanto os passos retrocedem e somem.
Xena e Gabrielle relaxam. Gabrielle flexiona a perna e estremece, depois embainha seu sai.
Xena guarda a espada e começa a examinar o aposento.
GABRIELLE
Acho que não há muita dúvida
sobre esses caras, né?
Xena levanta um pedaço de pergaminho e o ergue na direção da luz. Depois de um momento, ela o atira para Gabrielle.
XENA
Não muita.
Xena olha em volta, depois põe as mãos na cintura. Sua expressão é algo entre o desgosto e o profundo incômodo.
GABRIELLE
Então, o que faremos? Vamos
simplesmente afugentá-los? Há
muitos deles, Xena, mas...
XENA
Mas há duas de nós, sim.
Xena olha em volta de novo.
XENA
(continua)
Se os afugentarmos, eles simplesmente
voltarão. Além disso, há algo
maior por trás disso.
Gabrielle solta o pergaminho dentro da caixa.
GABRIELLE
Então teremos que ir à fonte.
Xena assente.
XENA
Agora nós apenas temos que
fazê-los nos levar a ela.
Xena vai até a parede e sobe em algumas caixas. Ela estende uma mão para Gabrielle subir.
GABRIELLE
A porta simplesmente não é boa o suficiente, né?
Gabrielle sobe nas caixas e toma a mão de Xena enquanto escala para dentro do teto e desaparece.
ESVANECE PARA:
CENA INT - ESTALAGEM DE PETRONIKUS - MANHÃ
A estalajadeira está ocupada assando pão. Acabou de amanhecer, e o sol está brilhando na janela.
Gabrielle entra pelos fundos, parecendo ter recentemente se lavado e estar bem acordada. Ela assobia suavemente enquanto cruza até a área da cozinha.
GABRIELLE
Bom dia!
A estalajadeira parece surpresa em vê-la.
ESTALAJADEIRA
Oh! Bom dia! Eu não vi você
e sua amiga voltarem noite
passada, então pensei...
GABRIELLE
Nós entramos pela porta dos fundos.
A estalajadeira parece confusa.
ESTALAJADEIRA
Mas nós não temos uma porta nos fundos.
GABRIELLE
Claro que têm. Agora.
(pausa)
O que é isso que você está
fazendo, pão de passas?
A estalajadeira olha em volta da mesa. Ela está coberta de pães, há pelo menos uma dúzia deles.
ESTALAJADEIRA
Sim, tenho que começar cedo. Isso leva tempo.
GABRIELLE
(sorrindo)
Deve ser uma escolha popular por aqui.
ESTALAJADEIRA
(franzindo as sobrancelhas)
Bem, na verdade não, mas eles aderem muito
bem. É pela glória daquele que observa. Os
irmãos os levam para seus trabalhos.
Gabrielle cruza os braços e examina os pães com o olhar.
GABRIELLE
Mas eles pagam você por eles, certo?
ESTALAJADEIRA
Oh, não, não, claro que não.
É o meu presente a eles.
Gabrielle pega um pão e o examina.
GABRIELLE
Mas eles os vendem, não vendem?
ESTALAJADEIRA
Bem... Sim.
GABRIELLE
Então... Eles são pagos pelo seu trabalho.
O que você leva com isso?
A estalajadeira parece bastante perturbada. Ela volta a assar seus pães, virando as costas para Gabrielle. Gabrielle rouba uma passa de um pão e a mordisca.
CORTA PARA:
CENA EXT. LOTE DE PETRONIKUS - MANHÃ
Xena cavalga em Argo II ao longo de um sujo caminho. Dos dois lados dela há campos de grãos e outras coisas crescidas sendo colhidas. Do lado do caminho está uma grande carroça, com um número de cidadãos trabalhando em volta dela.
Xena diminui o ritmo enquanto se aproxima deles, e os homens erguem os olhos de seu trabalho.
XENA
Bom dia.
Um dos homens se aproxima dela.
CIDADÃO
É uma linda égua essa.
Para a sorte de Gabrielle, o caminho para o coração de Xena não é através de elogios a seu cavalo, mas isso nunca faz mal.
XENA
Obrigada. Parece que vocês
conseguiram uma boa safra aí.
Os homens olham para seu trabalho, depois para a carroça.
CIDADÃO
Sim, é sim. Nós estamos agradecidos por
nossas preces terem sido atendidas.
Xena sai de Argo II e vai até a carroça. Ela levanta um pouco do grão colhido.
XENA
Vocês rezaram por isso?
Os homens todos se reúnem em volta de Xena, mais do que levemente intrigados por sua aparição.
CIDADÃO
Nós tivemos dias difíceis desde que os velhos
deuses nos deixaram. Mas nesta estação,
os irmãos vieram e nos disseram a
mensagem daquele que observa.
Isso nos deu esperança.
Xena se encolhe levemente ao ouvir essa palavra.
SEGUNDO CIDADÃO
Desde que eles vieram pra cá, as colheitas
têm aumentado. A vida é melhor.
XENA
Vocês não acham que isso
pode ter sido uma coincidência?
Todos os homens franzem as sobrancelhas.
CIDADÃO
Como poderia ser?
XENA
(dando de ombros)
O tempo tem estado bom. Eu tenho visto grandes
colheitas por todo o caminho da costa até aqui.
(pausando)
Para onde isso tudo está indo? Vocês têm um
grande armazém? Provavelmente vendem o
que não precisam e têm um rendimento.
Os homens murmuram uns aos outros.
SEGUNDO CIDADÃO
Oh não. Isto é para aquele que observa.
Nosso tributo pela boa colheita.
Xena caminha para trás, olha para a carroça, olha para os homens, olha de novo para a carroça, e assume uma expressão muito cética.
XENA
Ã-ram. Okei. Tenho que ir.
Xena salta de novo em Argo II e dá mais uma olhada na carroça, balançando sua cabeça. A atenção dos homens se gruda nela e ela está ciente disso. Xena acena e vai embora, ainda balançando a cabeça. Os homens a observam partir, depois se reúnem em volta da carroça, com vozes se erguendo em um debate de muito pouca ordem.
CORTA PARA:
CENA EXT. ESTALAGEM DE PETRONIKUS - FINAL DA TARDE
Gabrielle está sentada do lado de fora da estalagem, na grama, escrevendo em um pergaminho. Ela está inclinada contra uma árvore, mas está observando a quadra com sua visão periférica.
Heriet sai de sua casa, e começa a se dirigir para o caminho do templo. Ela avista Gabrielle sentada na grama e pára, observando-a.
GABRIELLE
E Xena matou o gigante malvado,
salvando o vilarejo da destruição.
Heriet ouve as palavras e se desvia para mais perto.
HERIET
O que você está fazendo?
GABRIELLE
Escrevendo uma história sobre
algo que aconteceu conosco.
Heriet se aproxima e se senta ao lado de Gabrielle.
HERIET
Meu pai diz que contar histórias é do mal.
Gabrielle ergue os olhos.
GABRIELLE
Por quê?
HERIET
Porque te tira tempo do trabalho e espalha
mentiras. Ele diz que a única história que nós
deveríamos ouvir são as daquele que observa.
Gabrielle coloca sua pena no chão e sopra o pergaminho para secar a tinta.
GABRIELLE
Você acredita mesmo nisso?
Heriet dá de ombros.
GABRIELLE
(continua)
O que torna as histórias do seu observador
mais verdadeiras do que as minhas?
HERIET
(ofendida)
Elas são a palavra de deus!
Gabrielle não parece intimidada, naturalmente.
GABRIELLE
Bem, eu aprendi da maneira mais difícil que a
palavra de um deus e a palavra de um de
nós é meio que igualmente confiável.
Heriet se levanta e se afasta.
HERIET
Você não fala nada além de mentiras
indignas. Meu pai está certo.
Heriet sai enfurecida, deixando Gabrielle sentada na grama. Gabrielle enrola seu pergaminho e o encosta do lado do pescoço enquanto pondera.
Bem antes de desaparecer no caminho para o templo, Heriet pára, e olha para trás, incerta.
Gabrielle sorri, e a saúda com o pergaminho. Heriet franze a testa e sai correndo.
CORTA PARA:
CENA INT. ESTALAGEM DE PETRONIKUS - QUARTO DOS FUNDOS - COMEÇO DA NOITE
Xena está espalhada na cama pequena e relativamente baixa do quarto. Gabrielle está empacotando o último de seus pertences em uma bolsa de carga.
GABRIELLE
Você acha que isso vai funcionar?
Xena tem uma maçã equilibrada na barriga. Ela a faz saltar para cima e para baixo algumas vezes, à toa.
XENA
É difícil dizer. Nós plantamos algumas
sementes. Vamos ver o que colhemos.
Gabrielle caminha até lá e se senta ao lado dela. Ela retira a maçã e dá uma mordida nela, depois a entrega de volta.
GABRIELLE
As bolsas estão arrumadas. Você quer levá-las
para fora, e eu te encontro perto do templo?
Xena dá uma mordida na maçã.
XENA
Você está pronta para isso?
GABRIELLE
(suspirando)
Como sempre estarei. Vamos.
Xena levanta as bolsas e se vira para pular pela janela. Gabrielle salta depois dela e elas desaparecem dentro da escuridão.
CORTA PARA:
CENA EXT. TEMPLO DE PETRONIKUS - NOITE
O pátio do templo está cheio de cidadãos. Uma plataforma foi armada do lado de fora das portas, apressadamente decorada com fitas e amostras de tecido. Uma peça de tábua com o selo do sol coroado está escorado na frente da plataforma. Há tochas dos dois lados, iluminando a área.
A porta para o templo se abre e uma dúzia de homens vestindo túnicas emerge. Eles tomam posição dos dois lados da plataforma e ficam esperando.
CORTA PARA:
CENA EXT. ÁRVORES EM VOLTA DA ESTALAGEM DE PETRONIKUS - NOITE - AO MESMO TEMPO
Xena e Gabrielle estão atrás de uma árvore, observando a multidão. Xena endireita o casaco de Gabrielle e ajeita suas franjas um pouco mais uniformemente. Gabrielle lhe lança o tipo de olhar normalmente dado a mães que tentam limpar a sujeira com um polegar cheio de cuspe.
Vendo isso, Xena se inclina e beija Gabrielle nos lábios.
Gabrielle fica muito mais feliz com essa abordagem, e aparentemente perdoa Xena pelo exagero.
CORTA PARA:
CENA EXT. TEMPLO DE PETRONIKUS - NOITE
Alstan caminha para fora do templo e vai até a plataforma. Toda a multidão se curva respeitosamente, e ele ergue sua mão enquanto todos seus homens celebram.
ALSTAN
A paz do observador esteja com vocês,
meus amigos. Vocês têm aprendidos suas
lições bem, e nós temos prosperado. Sejamos
agradecidos a aquele que nos observa.
MULTIDÃO
Assim seja.
ALSTAN
A mensagem do observador nos diz para
cuidarmos um dos outros, obedecer aqueles
que conhecem a palavra do observador,
e dar ao observador tudo além do
necessário para nosso corpo.
HOMENS DE ALSTAN
(juntos)
Obedeçam o observador!
ALSTAN
Isso tem nos dado paz, e uma boa
colheita. O que mais podemos pedir?
(esperando)
Não podemos pedir nada. Mas o observador nos
enviou uma nova mensagem, e nós devemos
ouvir e obedecer sua nova mensagem, para
que nossa recompensa possa continuar.
A multidão murmura.
HOMENS DE ALSTAN
(juntos)
Toda a atenção à mensagem e ao mensageiro!
ALSTAN
Nós temos que fazer mais para levar a
mensagem aos outros! Não é suficiente conhecê-la
para nós, nós devemos gritá-la de todos os cantos,
para que nossos vizinhos e os seus vizinhos
possam escutá-la e ouvir a sua sabedoria!
Esse é o caminho para a verdadeira iluminação.
HOMEM NA MULTIDÃO
Mas... Nós fizemos tudo o que nos foi pedido.
Quando poderemos nos dedicar a viver nossas vidas?
Alstan aponta para ele.
ALSTAN
São pessoas como você que ameaçam
a nossa mensagem! Vejam! Entre nós,
participando da nossa recompensa, há
dúvida! Isso irrita o observador!
A multidão sussurra desconfortável. Eles se afastam do homem.
ALSTAN
(continua)
Vocês só conhecerão a paz através da
obediência à palavra do observador!
Gabrielle sai de detrás das árvores e caminha até ficar parada do lado oposto a Alstan.
GABRIELLE
Obediência a alguém que
nunca trouxe paz a ninguém.
A multidão reage em choque. Alstan também está chocado.
ALSTAN
Quem é você? Como ousa vir
aqui neste lugar sagrado
e blasfemar?!
GABRIELLE
Meu nome é Gabrielle. Eu viajei o
mundo, e sei mais sobre deuses do
que vocês podem sequer imaginar.
(apontando)
Blasfêmia depende de
quem está falando.
Os homens de Alstan se agitam de raiva.
ALSTAN
Forasteira, não há lugar para você aqui. Vá
embora, antes que você irrite o observador.
Você não consegue sentir o amor da
mensagem do observador.
GABRIELLE
Meu lugar é onde quer que os medos de
pessoas comuns estejam sendo usados
para tirar vantagem delas.
ALSTAN
(irado)
Você não ouve a mensagem!
A multidão começa a se aglomerar em torno de Gabrielle. Os homens de Alstan se reúnem em torno dele.
GABRIELLE
(em voz mais alta)
A mensagem é : dêem-me tudo o que
vocês têm para que eu possa vendê-lo
e tirar proveito. Por que não mostrar
a elas o que há em seu templo?
ALSTAN
Você é uma inimiga do observador!
Homens! Irmãos, irmãs... Atendam a
mensagem e defendam o mensageiro!
Ergam suas pedras!
Gabrielle vira de costas para eles e encara a multidão.
GABRIELLE
Eu sou uma inimiga? Pensem sobre o
que tem sido pedido de vocês! Obedecer
sem questionar? Desistir de seus lucros tão
duramente conquistados? Fazer estes homens
enriquecerem com os esforços de vocês? É
essa a mensagem que vocês escutam?
ALSTAN
Defendam o mensageiro! Apedrejem-na!
A multidão levanta pedras do chão, se movendo irritadamente enquanto os homens de Alstan correm para agarrar pedaços de pau de uma pilha próxima.
Gabrielle fica presa entre os dois grupos.
FADE OUT.
FIM DO TERCEIRO ATO
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