terça-feira, 15 de julho de 2008

Ecos - Prólogo

CENA EXT. ESTRADA MUITO EMPOEIRADA - FINAL DA TARDE

É uma noite escura e ameaçando ser tempestuosa. Xena e Gabrielle estão caminhando outra vez subindo por uma extensa série de acidentadas pistas de carroça ao fim de ainda outra longa série de dias intermináveis.

Xena chuta uma pedra na frente dela. Gabrielle está praticando malabarismo, usando três pequenas pinhas. Argo II anda a passo lento bem atrás delas.

GABRIELLE
Quer tentar fazer uma
casa de árvore esta noite?

Xena chuta a pedra ainda mais à frente.

XENA
Casa de árvore?

GABRIELLE
É, você sabe, como vimos aqueles
macacos fazerem daquela vez. É
só algo diferente pra variar.


XENA
Você está dizendo que meus
acampamentos são chatos?

Gabrielle continua fazendo malabarismo, em silêncio.

XENA
(continua)
Gabrielle?

Gabrielle atira uma pinha para Xena. Xena a apanha, depois a arremessa de volta. Elas começam a fazer malabarismo entre elas.

GABRIELLE
É você quem vive dizendo
que precisa de variedade.

Xena coleta todas as três pinhas. Ela as atira por sobre a cabeça para dentro da floresta, e se junta a Gabrielle no centro da estrada.

XENA
Que tal nós brincarmos de macaco
algum outro dia? Há uma cidade à
beira-mar bem acima desta estrada.

Ela pára e olha para o céu.

XENA
(continua)
Com estas nuvens, eu iria preferir
estar debaixo de um teto.

Gabrielle se apruma.

GABRIELLE
É. Eu realmente preferiria algo
mais macio do que... hum....

Xena passa o braço por sobre os ombros de Gabrielle.

XENA
Do que?

Gabrielle dá tapinhas em várias partes da anatomia de Xena, que começa a assobiar.

GABRIELLE
Ei, você jogou fora
minhas pinhas.

XENA
Achei que você já tivesse
terminado de usá-las.

Gabrielle franze as sobrancelhas.

GABRIELLE
Ei, estou compreendendo o quê da coisa.
Acho que passar um tempo no seu
corpo tirou isso de mim.

XENA
Hum. Ainda não consegue
pressentir a chuva, né?


Gabrielle faz uma careta.

GABRIELLE
Essa parte de estar no
seu corpo eu não perdi.

XENA
(fazendo-se de insultada)
Ah hah. Você perdeu alguma parte?

Gabrielle olha para Xena, depois sorri maliciosamente.

CORTA PARA:

CENA EXT. SOSSEGADA E INDESCRITÍVEL CIDADE À BEIRA-MAR - PÔR-DO-SOL

O céu está agora cheio de nuvens de tempestade, quase obscurecendo o pôr-do-sol. Porém, isso produz um lindo visual sobre a água. Gabrielle observa enquanto elas caminham na direção da entrada da cidade.

GABRIELLE
Não é lindo?


XENA
Não para um marinheiro.

Gabrielle pára. Xena vem parar ao lado dela. O vento aumenta, e sopra seus cabelos para trás enquanto elas observam o sol colorindo as ondas de carmim.

GABRIELLE
Então estou feliz de não ser um marinheiro.

Xena segura no ombro de Gabrielle. Elas se viram e caminham na direção dos portões. O lugar parece bastante deserto. Uma galinha corre pela estrada na frente delas, e várias gaivotas giram sobre suas cabeças.

XENA
Que quieto.

GABRIELLE
É.

Há pequenas cabanas espalhadas pelo vilarejo. Redes de pesca estão penduradas para secar na frente de muitas delas, mas outras parecem vazias e abandonadas. Um mercado vazio fica de frente para a água, com apenas um par de caixas e um feixe de palha esquecido dentro dele.

Os cascos de Argo II soam muito alto na estrada empoeirada.

Perto da beira da cidade, há uma pequena construção, de um único andar, mas com vários aposentos fixados a ângulos indefinidos em direções diferentes. Uma porta se abre na frente e um homem se lança para fora, avistando-as e correndo na direção delas.

XENA
Você acha que isso é um bom sinal?

GABRIELLE
Imagino que iremos descobrir.

O homem as alcança.

HOMEM
Bem-vindas, viajantes! Bem-vindas!

GABRIELLE
(à parte)
Até agora muito bom.


XENA
Obrigada. Estamos procurando
um lugar para ficar por...

HOMEM
Um quarto? Um quarto para a noite? Oh, sim!
Sim, nós temos um! Nós temos vários...
Temos grandes e um pequeno. Não
querem vir comigo? Tenho certeza que nós
podemos deixar vocês muito, muito confortáveis!

Xena e Gabrielle trocam olhares.

GABRIELLE
Claro. Parece ótimo. Obrigada!

O homem as leva na direção do prédio térreo, se virando a cada alguns passos para observá-las seguindo-o, sua expressão é quase ansiosa.

CORTA PARA:

CENA INT. ESTALAGEM DA CIDADE - NOITE

O trovão ressoa sobre suas cabeças, sacudindo as paredes um pouco. Xena e Gabrielle relaxam a uma mesa, a única mesa ocupada na estalagem inteira. Elas têm o lugar todo para elas.

GABRIELLE
Está... hum....

XENA
Quieto.

GABRIELLE
É.

XENA
Eu gosto disso.

Xena toma um gole de sua caneca. O estalajadeiro entra e corre até elas.

ESTALAJADEIRO
Bem, bem, tudo está certo?

GABRIELLE
Simplesmente ótimo. Você disse
algo sobre um quarto?

ESTALAJADEIRO
Sim! Oh, sim. Eu tenho um maravilhoso,
um lindo quarto para vocês.
(pausa)
E.... e....

XENA
Sim?

O estalajadeiro parece um pouco nervoso enquanto ouve a chuva.

ESTALAJADEIRO
Uma vez que vocês são minhas primeiras clientes desta
noite, eu tenho uma proposta especial para vocês.

Xena espia o aposento vazio, depois olha para o estalajadeiro ceticamente.

XENA
Primeiras clientes? Únicas
clientes, eu aposto.


GABRIELLE
Shhi, Xena.
(para o estalajadeiro)
Qual a proposta?

ESTALAJADEIRO
Nosso famoso banho de lama
termal! Vou colocar de graça!

Xena e Gabrielle olham uma para a outra.

GABRIELLE
Banho de lama?

XENA
Você cobra por um banho de lama?
Eu posso ir lá fora e tomar uma
dúzia deles, sem pagar nada.

O estalajadeiro ri nervosamente.

ESTALAJADEIRO
Não não... Esta é uma lama especial.
Faz muito bem para a derme!

Ele olha de Gabrielle para Xena.

ESTALAJADEIRO
(continua)
Realça a sua beleza, entende?
Vamos lá. É uma coisa muito boa!

Xena coça a linha do queixo.

GABRIELLE
(examinando Xena)
Você tem uma derme?

As sobrancelhas de Xena saltam para cima.

XENA
Que Hades. Eu vou experimentar qualquer coisa.

Ela fita uma maliciosamente sorridente Gabrielle.

XENA
(continua)
Ou quase.

ESTALAJADEIRO
Eu vou preparar tudo!
Você não vai se arrepender!

O estalajadeiro parte. Xena e Gabrielle terminam a leve refeição na mesa diante delas. A quietude do aposento é quase opressiva. Apenas o ritmo da chuva a interrompe.

GABRIELLE
Este lugar não te
dá arrepios?


Xena dá de ombros.

XENA
E o que é que nos dá arrepios?

Gabrielle morde uma maçã, pensativa.

GABRIELLE
Hunf.

Ela oferece a maçã para Xena.

GABRIELLE
(continua)
Qufrr proffar?

Xena se inclina e dá uma mordida.

CORTA PARA:

CENA INT. QUARTO DA ESTALAGEM - NOITE

O trovão agora realmente sacode o prédio. As velas tremem. As folhas de madeira da janela batem contra as paredes.

O quarto é grande, relativamente plano, e tem uma imensa banheira no centro dele. Dentro da banheira, Xena está sentada, enterrada até o pescoço na lama. A expressão em seu rosto diz tudo.

Gabrielle entra. Ela circula a banheira duas vezes, depois se inclina nela.

GABRIELLE
Sabe, Xena...


XENA
Não diga nada. Nem pense
nisso. Ou em outra coisa.

Gabrielle tira um dedo cheio de lama e a examina.

GABRIELLE
Isso na verdade não é mesmo lama.
É mais como um...

XENA
Pudim.

GABRIELLE
É.

XENA
Já chega. Estou fora disso.

Xena sai da banheira. Ela está coberta da cabeça aos pés no gelatinoso barro. Ela sai da banheira fazendo um som de sucção e balança o pé se livrando de vários globos de lama.

XENA
(continua)
Ótimo. Simplesmente ótimo.


Gabrielle está tentando reprimir uma risada. Xena esfrega a costa da mão pelo rosto, ficando com lama nos lábios.

XENA
(continua)
Bah… pfft.... ahm?

Xena lambe os lábios. Sua expressão se altera. Gabrielle se aproxima dela curiosamente.

GABRIELLE
O quê?

XENA
Hum. Isso não é nada mal.

Gabrielle toca levemente em um pouco de lama da pele de Xena e a cheira. Cuidadosamente, ela prova o gosto. Intrigada, ela cutuca Xena levando-a na direção da cama.

GABRIELLE
E está por você toda.


XENA
É. Eu terei que ir lá fora
na chuva para tirar isso.

Gabrielle começa a sorrir.

GABRIELLE
Isso é... Doce.
(pausa)
Acho que eu gosto.

Lentamente, Gabrielle empurra Xena para baixo, na cama, depois escala para cima e monta de pernas abertas sobre Xena quando ela se deita estirada de costas.

XENA
O que você está fazendo?

Gabrielle deixa cair sua camisa de dormir e meneia os dedos, com um sorriso diabólico em seu rosto.

GABRIELLE
Pegando minha sobremesa.


A tempestade se intensifica lá fora. Bem longe, ouve-se o som de um sino marinho, mas seu tom é é praticamente apagado por um ribombo de trovão. Xena se estica e apaga a vela, sorrindo enquanto Gabrielle se inclina sobre ela.


Na escuridão, o sino soa novamente.

FADE OUT.

FIM DO PRÓLOGO

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