sábado, 5 de julho de 2008

Felizmente Nunca é Tarde - Terceiro Ato

CENA INT. CALABOUÇO (MASMORRA) DO PRÍNCIPE - NOITE.

Está escuro lá dentro. Há muito barulho do lado de fora. Vozes de homens. O som de correntes. Tochas.

VOZES
Joguem-nas na masmorra!Deixem-nas sofrerem!!

A porta se abre, e duas pessoas são jogadas lá dentro. A porta se fecha com um imenso estrondo. A multidão lá fora comemora alegremente.

VOZES
(continua)
Ladras! Recebam sua punição!!!

Há um breve silêncio.

GABRIELLE
(cuspindo algo)
Você está bem?

Há um som de uma flecha sendo puxada para fora de algo que felizmente não é carne.

XENA
Nunca estive melhor. E você?


Gabrielle fica de pé e caminha na escuridão. Ela encontra uma vela.

GABRIELLE
Você tem fogo?

Xena se levanta e caminha pela escuridão. Ela encontra Gabrielle. Ela puxa Gabrielle para um abraço, e a beija apaixonadamente. Um momento depois, a vela espontaneamente se acende ao lado delas.

XENA
(sorrindo)
O que acha?

GABRIELLE
Não tenho certeza.Podemos tentar de novo?

Ela sorri, e olha em volta.

GABRIELLE
(continua)
Não é que nós realmente queiramos ver ointerior de mais uma prisão. As mesmas velhasparedes, as mesmas velhas barras, mesmas velhas...


Gabrielle pegou a vela e a está girando em um círculo. Ela e Xena olham em volta de si.

XENA
As mesmas velhas confortáveiscamas e tapetes no chão??


O interior da 'Masmorra' é mais como um quarto em uma estalagem muito boa. Há uma cama de quatro colunas de um lado, e uma mesa com uma bandeja de gulodices do outro lado. As janelas têm barras, mas há tapetes de pelúcia no chão e cortinas de babados escondendo as barras da janela.

Xena caminha até a mesa e inspeciona a bandeja.

XENA
(continua)
Cheia de cachos de uva. Humm.

Xena pega um cacho de uva e o leva até a cama. Ela cai na cama e coloca seus pés para cima. Gabrielle espia pela janela. Gritos irrompem imediatamente.

VOZES
Sofram! Sofram! Sofram!

Gabrielle se afasta para fora da vista. Os gritos cessam. Ela coloca a cabeça de novo na janela.

VOZES
(continua)
Ladras! Que a ira dos deuses esteja com vocês! Ladras!

Gabrielle se puxa de volta. As vozes param.

GABRIELLE
Acho que nós não vamos sair daqui assim.
(pausa, olhando para Xena)
Então, qual é o plano agora?


Xena lambe os dedos.

XENA
O plano é, você vai pegar aquela bandeja,e colocar seu traseiro bárdico nesta cama.

GABRIELLE
Xena. Nós temos que sair daqui.

Xena olha em volta.

XENA
Por quê? Você tem um lugar melhor para passara noite? Nós só temos dormido no chãonestas últimas três semanas.

Gabrielle lança um olhar para Xena.


XENA
(continua)
(zombeteiramente)
Bem, ao menos *eu*tenho dormido no chão.


Gabrielle desiste. Ela caminha até a mesa, cuidadosamente ladeando a janela, e pega a bandeja de cachos de uva. Ela também pega uma garrafa de vinho que estava perto. Ela traz tudo até a cama e coloca em uma mesa de madeira perto do cotovelo de Xena. Ela passa por cima de Xena, subindo na cama.

GABRIELLE
Xena, essa coisa todanão é meio estranha?

XENA
O quê?

GABRIELLE
Isto. Esta... prisão.Estas pessoas. Esses impostos.

Xena cuidadosamente remove a etiqueta de impostos do seio de Gabrielle.

XENA
De quanto era este aqui?

GABRIELLE
(distraidamente)
Dez dinares.

XENA
Não chega nem perto.


GABRIELLE
O quê?

Xena afofa os travesseiros e arruma Gabrielle em cima deles. Ela pega um cacho de uva da bandeja e coloca na boca de Gabrielle.

XENA
Amanhã, nós iremos pôr as mãos naquelepríncipe e consertar isso. Até lá, aproveite.

Gabrielle se inclina e dá um beijo em Xena. Xena responde. Gabrielle beija Xena de novo, depois pára abruptamente.

GABRIELLE
E se eles estiverem nos observando?

Xena estende o pescoço e olha por cima do ombro de Gabrielle.

XENA
Ou eles irão aprender algo ouficarão cegos. Venha cá.

DISSOLVE PARA:

CENA EXT. MASMORRA DO PRÍNCIPE - MANHÃ.

Três homens estão sentados do lado de fora da masmorra, usando bandagens sobre os olhos. Eles parecem desconsolados. Em volta da masmorra há uma legião de guardas, muito bem armados.

Os portões improvisados em volta das grandes casas se abrem, e outro grupo de guardas marcha. Eles se dirigem para a masmorra.

Quando o grupo de guardas se aproxima, os soldados em volta da masmorra se afastam, abrindo espaço para eles.

Os guardas param diante da casa. A fileira da frente se separa e um homem caminha no meio deles caminha para fora. Uma pequena e saudável mulher com um pergaminho e uma pena o segue.

Ele está vestido em sedas, e usando uma pequena capa. É o PRÍNCIPE. Ele é meio magro, um homem aparentemente fraco, com cabelo castanho na altura dos ombros. Além disso ele também é baixinho.

PRÍNCIPE XERXES
Prisioneiras! Tenham medo!Pois estou aqui para julgar vocês!

Tudo está quieto quando ele pára de falar. Os guardas olham uns para os outros. O príncipe limpa a garganta.

PRÍNCIPE XERXES
(continua)
EU DISSE… PRISIONEIRAS….

Xena aparece na janela. Ela segura nas barras e olha para fora.

XENA
Nós te ouvimos.

Gabrielle se junta a Xena, ajeitando uma alça do seu corpete.

GABRIELLE
Exatamente o sujeito com o qual queríamos falar.

O príncipe anda pomposamente até a janela. Ele agita um chicote de montaria diante de Gabrielle.

PRÍNCIPE XERXES
Eu falo. Vocês escutam!

XENA
Espera um minuto…

O príncipe estala o chicote contra as barras, atingindo os dedos de Xena.

PRÍNCIPE XERXES
Shiu! Shiu! Silêncio, Ladra!

Xena olha para o príncipe, e começa a se arremeter para frente. Gabrielle pega o braço de Xena e faz um gesto calmo de 'deixe-me lidar com isso'.

GABRIELLE
Com licença…

O príncipe bate nas barras de novo. Gabrielle estremece.

PRÍNCIPE XERXES
SILÊNCIO!
(pára, olhando para elas)
Vocês foram pegas roubando o meucoletor de impostos. Cinco anos na prisão.Tenham um bom dia.

O príncipe se vira e anda pomposo de volta aos guardas, que se fecham em volta dele. A escriba escreve no pergaminho e coloca a ponta da língua pra fora, concentrando-se.

XENA
Ei! Espere um minuto!Você não pode nos manter aqui por cinco anos!

O príncipe estende sua cabeça para fora entre dois soldados.

PRÍNCIPE XERXES
Não?
(pausa)
Você está certa.Dez anos pela impertinência!

Os guardas vão embora com o príncipe. Xena e Gabrielle trocam olhares.

XENA
Funcionou
(bufando)
não.

Gabrielle examina as barras. Ela empurra seu dedo contra uma. Ela se move, segurada no lugar pelo que parece ser lodo seco.

GABRIELLE
Eu não acho que nós tenhamosmuito com o que nos preocupar.

A escriba ficou para trás. Ela caminha até a janela e observa atentamente Xena e Gabrielle.

ESCRIBA
Eu preciso de algumas informações sobre vocês.

XENA
Como o que?

ESCRIBA
Quem vocês são, de onde vêm,quais são suas cores favoritas...para a autobiografia do Príncipe.

GABRIELLE
Você está escrevendo isso?

ESCRIBA
Ora, sim!

Gabrielle desaparece da janela. Ela caminha até a porta e a abre. A porta se abre bastante facilmente.

GABRIELLE
Por que você não entra aqui e se senta?

ESCRIBA
Que gentil! Ora, obrigada!

A escriba entra. Gabrielle olha para os soldados lá fora, parados em formação. Balançando a cabeça, ela fecha a porta.

CORTA PARA:

CENA EXT. MASMORRA DO PRÍNCIPE - MANHÃ.

Theresa e Pelenius andam sorrateiramente na direção da masmorra.

PELENIUS
Nós nunca vamos conseguir entrar,meu peixinho amarelo! Veja! Os guardas!

THERESA
Mas, meu favo de mel - nós temos que entrar!Nós não podemos simplesmente deixá-las lá dentro!

Eles se escondem atrás de um barril, e espiam através dele. Os guardas impassivelmente circundam a masmorra, com os braços armados. Pelenius sai de detrás do barril e se arrasta para frente, olhando de um lado e de outro da masmorra. Ele se arrasta de volta.

PELENIUS
Meu pãozinho doce, eu acho que tenho um plano!

THERESA
Eu sabia! Meu herói!

Theresa e Pelenius rastejam para trás da masmorra, fora de vista.

CORTA PARA:

CENA INT. MASMORRA DO PRÍNCIPE - DIA.

Xena se espreguiça na cama, com uma aparência entediada no rosto. Gabrielle está sentada na beira da cama, encarando sua visitante. A Escriba está sentada em uma cadeira, escrevendo.

ESCRIBA
Você pode soletrar isso de novo?Pote… o que?

Xena se senta mais ereta.

XENA
Que tal você nos contar algo primeiro.


GABRIELLE
Xena….

A escriba olha para Xena.

XENA
Por que o príncipe está fazendo isso?Tomando esta cidade. Atormentando essagente até quase a morte. Ele é desequilibrado?

ESCRIBA
(fazendo uma pose nobre)
Dizem que a Terra não se enraivece tantoquanto um homem desprezado! O Príncipe, omais nobre deles, está se vingando porum grande erro que fizeram a ele.

Xena e Gabrielle trocam olhares.

XENA E GABRIELLE
É mesmo?

ESCRIBA
(abaixando a voz)
Querem ouvir sobre isso?

XENA E GABRIELLE
Absolutamente. Comece a falar.

CORTA PARA:

CENA EXT. MASMORRA DO PRÍNCIPE - DIA.

Pelenius e Theresa estão de bruços no chão, atrás de um arbusto. A parte de trás da masmorra está completamente desguardada.

THERESA
Meu cãozinho de botas, eu tenho muitafé em você, mas como vamos botaraquela parede inteira abaixo?

PELENIUS
Nós vamos simplesmente segurare começar a puxar, carinhozinho.Não levará mais que um minuto.

Os dois olham atentamente para a parede.

THERESA
Não seria muito mais divertido senosso amigos nos ajudassem, peixinho?Nós podemos quebrar nossas unhas!

PELENIUS
Boa idéia, florzinha!Vamos chamar todos!

Pelenius e Theresa rastejam para fora dali.

CORTA PARA:

CENA INT. MASMORRA DO PRÍNCIPE - DIA.

A Escriba está agora deitada na cama com as mãos dobradas sobre seu estômago. Gabrielle se senta de um lado, escrevendo no pergaminho. Xena passeia de um lado para o outro, fazendo perguntas.

XENA
Então, deixe-me ver se entendi.O príncipe estava para se casarcom a filha do taverneiro?


ESCRIBA
Sim!

XENA
E a filha do taverneiro fugiu com oprodutor de vinho, deixando opríncipe no altar?

ESCRIBA
Sim!!!

GABRIELLE
(murmurando)
Tsc Tsc... Há que se ficar de olhocom essas filhas de taverneiros.


Xena olha para Gabrielle. Gabrielle sorri charmosamente para ela.

ESCRIBA
Oh sim! Foi horrível.Senti-me TÃO mal pelo Príncipe!Imaginem, ser deixado assim!Por uma... uma... Arg!

XENA
Certo.

ESCRIBA
Então, é CLARO que ele teve que se vingar!

GABRIELLE
Claro.

ESCRIBA
Na verdade ele não é um cara mau.

XENA
Só um cara vingativo.


ESCRIBA
Isso. Quer dizer... Não! Não, não mesmo!

CORTA PARA:

CENA EXT. MASMORRA DO PRÍNCIPE - DIA.

Theresa, Pelenius, e uma dúzia de outros se reúnem do lado de fora da masmorra.

PELENIUS
Vamos, companheiros! A Grande Xena arriscoutudo por nós. Agora nós devemos retribuir a ela!

A multidão comemora. Pelenius balança a mão para eles freneticamente. Eles se calam e cobrem as bocas. Eles se arrastam lentamente até a parede e a seguram, puxando a madeira com grunhidos audíveis.

CORTA PARA:

CENA INT. MASMORRA DO PRÍNCIPE - DIA.

Gabrielle termina de escrever. Ela coloca o pergaminho de lado.

GABRIELLE
Fred, você acha que pode nos conseguiruma audiência com o príncipe?


Xena gira os olhos com desgosto, e começa a perambular pela masmorra. Ela começa a arrancar pequenos pedaços de madeira das paredes.

ESCRIBA
Oh! Bem, eu não sei... Por que vocês querem uma?Eu achei que não gostassem dele.

GABRIELLE
Bem, talvez nós possamos conversar com ele sobreo que ele está fazendo aqui. Você sabe, realmentenão é justo punir a cidade inteira por causada ação de alguns poucos cidadãos.

ESCRIBA
Bem, ele é um sujeito bastante ocupado...

Gabrielle observa Xena com o canto do olho.

GABRIELLE
Aposto que ele realmente gosta destacasa de prisão, não gosta?


ESCRIBA
Oh! Sim! Ele tem muito orgulho dela!

Gabrielle aponta para Xena, e sussurra.

GABRIELLE
Se você não o trouxer para conversar conosco,não sobrará muito deste lugar.

A escriba olha, se levanta e sai correndo para a porta. Ela passa pela porta e a fecha atrás dela.

XENA
Dê-me uma razão para eu não sair andando parafora daqui e dar uma surra em todo mundo.

GABRIELLE
Se pudermos conversar com ele, nós o ajudamos,ajudamos estas pessoas, e saímos daqui semnenhum arranhão. Só pra variar.

XENA
(confusa)
E? Qual a graça nisso?


Gabrielle suspira. Xena caminha até ela e coloca a ponta do dedo no queixo de Gabrielle, levantando-o e examinando-a.

XENA
(continua)
O que eu ganho com isso?

CORTA PARA:

CENA EXT. MASMORRA DO PRÍNCIPE - DIA.

Todos os esforços da multidão não parecem levar a lugar algum. A parede não está cedendo, e eles não conseguem movê-la sequer uma unha de distância.

THERESA
(ofegando)
Pãozinho doce, não acho que isto esteja funcionando.

PELENIUS
Nós temos que tentar mais forte!Se todos nós agarrarmos aquela...

Pelenius aponta para uma viga no meio da parede. Ela está acima da cabeça deles.

THERESA
Coraçãozinho, nós não podemos alcançar aquilo!

É verdade. Pelenius olha em volta, localiza uma carroça.

PELENIUS
Não tema, minha empadinha!Eu encontrei uma solução!

Pelenius corre para a carroça. A multidão dá vivas. Theresa acena para eles freneticamente. Eles colocam a mão na boca e olham em volta. Aparentemente ninguém os ouviu.

CORTA PARA:

CENA INT. MASMORRA DO PRÍNCIPE - DIA.

Xena está deitada na cama, espalhada de um lado como um gato selvagem, parecendo presunçosamente satisfeita. Gabrielle se senta com os pés calçados em cima da mesa, escrevendo no seu pergaminho.


GABRIELLE
Você é tão folgada.

Xena ergue uma sobrancelha para ela e sorri. Um barulho alto remove o sorriso de seu rosto e faz ambas estremecerem.

GABRIELLE
(continua)
Terremoto? Gigante?Enchente? Feijões no forno?

XENA
Pior.

Xena pula da cama e agarra Gabrielle, puxando-a de pé e caindo com ela em um canto do quarto. A parede de trás inteira da prisão desmorona para dentro com um horrendo estilhaço de madeira, grito de cavalos, e ganidos de muitas vozes.

GABRIELLE
Ah. Idiotas.

Uma corneta soa.

VOZ DO LADO DE FORA
Levantem-se todos para a aproximação de sua Majestadereal, o mais maravilhoso, mais gracioso, maisbonitão, mais...
(pausa)
Príncipe Xerxes!

O som de pés marchando fica mais alto. O balbuciar confuso dos idiotas fica mais alto. Gabrielle dá a Xena um olhar horrorizado.

GABRIELLE
Se ele os pegarem, eles todosvão acabar aqui conosco.


XENA
AIIIIIIIIIII!!!!!!!!!

FADE OUT.

FIM DO TERCEIRO ATO

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