sábado, 5 de julho de 2008

Por Querer Uma Erva - Terceiro Ato

CENA EXT. RIO. DIA. PROSSEGUINDO.

A água as atinge em segundos, e é preciso toda uma combinação de força e habilidade delas para manter a canoa para cima e apontada para frente. Elas são levantadas pra o topo da crista de uma onda, e Gabrielle observa com horror enquanto a curva no rio se torna cada vez mais próxima. Ela vê que a correnteza está ignorando a curva e está indo quebrar direto na selva. Ela percebe que se elas continuarem nessa rota, elas serão atiradas contra as árvores e as pedras que se empilharam onde um dia já foi um litoral profundamente entalhado.
Xena pode sentir a potência da onda diminuindo apenas levemente. No último segundo possível, ela impele seu remo na água, e com cada grama de sua força, vira a embarcação para a direita. Outra corrente as pega, e a canoa é varrida ao longo da curva, a um fio de não tombar completamente.
Elas se movem com grande velocidade em volta da larga curva como se estivessem em um trenó, então se lançam direto para baixo do centro do rio enfurecido, como se fosse um tiro de rolha de cortiça de uma garrafa.
As águas espumosas continuam a se enfiar debaixo da canoa, que é esbofeteada dos dois lados por destroços, empurrando-as para frente e para trás.
XENA(gritando)Há uma corredeira ali na frente!Cuidado com as rochas!
GABRIELLE(gritando)Está certo!
Sobre o barulho da água, Gabrielle ouve um som que assemelha-se a um grito humano. Quando o som surge novamente, ela se certifica de que alguém está gritando por ajuda.
CORTA PARA:
CENA EXT. BARRANCO DO RIO. DIA.
Uma mulher e três crianças estão paradas no litoral da correnteza do rio. A canoa deles foi esmagada contra as pedras recortadas, e seus pertences estão espalhados por sobre o litoral. A mãe está gritando e puxando o cabelo. As três crianças olham fixamente para a correnteza, com expressões aterrorizadas no rosto.
Um brilhante lampejo de algum tecido é visto no rio. Ele desaparece embaixo das águas revoltas, depois reaparece, envolvendo o corpo da quarta criança daquela mulher, apanhada pela corrente violenta da água.
CORTA PARA:
CENA EXT. RIO DIA.
Gabrielle capta uma breve aparição da jovem criança na água, e sem pensar, larga o ramo e mergulha no rio. Ela nada fortemente em direção ao garoto enquanto luta contra as fortes correntezas que se encarregam de arremessá-la contra as rochas.

XENAGABRIELLE!!!
Xingando baixinho, Xena se esforça por controlar a repentina instabilidade da canoa. Mal ela consegue endireitá-la, um tronco arrancado de uma árvore atinge a canoa, girando-a para fora de controle. Ela pára o giro, somente a tempo de ter outra árvore batendo na embarcação, empurrando-a inexoravelmente em direção ao litoral cheio de rochas.
XENAEu... já... tive... o SUFICIENTE!
Deixando o rio levar a canoa, ela se prepara, e salta do barco assim que ele bate nas rochas, se despedaçando com o impacto.
Ela atinge a água com grande força, e se debate até a superfície rapidamente , com olhos aberto e varrendo a área em busca de sinais de sua parceira.
XENAGABRIELLE!!!
CORTA PARA:
CENA EXT. RIO. DIA. DO PONTO DE VISTA DE GABRIELLE.
Gabrielle está sendo severamente esbofeteada pela correnteza, mas com absoluta determinação ela continua sua luta. Ela é movida para mais perto da criança que se debate, mas perde o sinal dele quando uma rápida corrente de água o puxa para baixo novamente.
GABRIELLENão foi dessa vez.
O garoto se debate para a superfície, se sufocando com a água que engole, e agitando os braços em completo pânico.
Gabrielle vê sua chance e empurra uma rocha que está perto dela, agarrando-o pela sua camisa colorida e abraçando-o forte contra seu corpo.
GABRIELLE(triunfantemente)Peguei você!
O garoto emite em voz baixa a áspera um grito sem fôlego, e no seu pânico, se debate contra os braços de Gabrielle.
GABRIELLEEstá tudo bem. Eu te peguei. Está tudo bem.
GAROTOMamãe! Mamãe!!
Ajeitando a criança de modo que seu braço direito ficasse livre, ela começa a nadar para o litoral com o que restou de sua força rapidamente exaurida.
Sua perna bate fortemente em uma submersa e pontuda rocha, e instantaneamente fica dormente. Isso reduz a velocidade de seu movimento, e permite que uma forte corrente de água a apanhe rio abaixo com uma rapidez assustadora.
Seus olhos se abrem largamente quando ela vê que ela está indo diretamente para um par de pedras quase do seu tamanho, e ela gira o corpo para ficar entre o garoto e as rochas, então aperta os olhos e espera pelo inevitável.
GABRIELLE(bem baixinho)Ohhh, isso vai doer.
CORTA PARA:
CENA EXT. RIO. DIA. DO PONTO DE VISTA DE XENA.
O orgulho no rosto de Xena quando ela vê sua parceira resgatar o garoto que afundava se transforma em horror quando Gabrielle é esmagada contra as rochas e fica sem energia.
O som que sai da sua boca não é nada mais que um rugido gutural, e ela se investe para a frente, ignorando os tapas e picadas dos destroços que a esbofeteiam por todos os ângulos.
Erguendo-se para tomar ar, ela vê um grosso cipó de videira pendurado sobre a água e corre até ele, agarrando-o com uma mão, e permitindo que sua força a puxe das água agitadas.
Ainda agarrando a videira, ela pula do barranco e balança em direção às pedras onde Gabrielle e a criança estão presas, seus rostos - graças aos deuses - acima da maré que sobe.
No ápice do seu balanço, ela alcança e arranca o garoto dos braços moles de sua parceira enquanto suas pernas engancham debaixo dos braços de Gabrielle e a puxam para fora da água corrente.
O garoto desperta de repente e começa a gritar quase que diretamente no ouvido sensível de Xena. Ele aperta seus braços em volta do pescoço dela, quase a sufocando, com os olhos dele abertos e brilhantes como moedas novas.Xena coloca a criança nos quadris, e quando as pernas dele instintivamente se encaixam em volta de sua cintura, ela o solta e puxa Gabrielle para cima de suas costas com seu braço agora livre.
DISSOLVE PARA:
CENA EXT. LITORAL DO RIO. DIA.
Quando a videira balança de volta para o barranco, Xena aterrissa levemente no chão. Ela imediatamente se ajoelha e deita Gabrielle no chão úmido, com os olhos atentos procurando por lesões.
XENAVocê vai ter queme soltar agora, garoto.
O som de sua voz só faz o garoto apertá-la mais ainda, e Xena gentilmente, mas firmemente, puxa-o para fora, colocando-o no chão ao lado dela.
XENAVocê vai ficar bem, mas vocêprecisa ficar bem aí. Sua mãedeve estar chegando logo.
(pausa)
Eu espero.
Tirando a criança de seus pensamentos, Xena olha para sua parceira. Longos dedos traçam um caminho pelo cabelo loiro até uma testa úmida.
XENAGabrielle. Ei...Gabrielle,você pode me ouvir?
Não obtendo resposta, Xena a puxa para si, e cuidadosamente examina as lesões visíveis de Gabrielle.
A perna esquerda de Gabrielle está cortada do joelho à panturrilha e sangrando lentamente. A junta está inchada e contundida.
Pontos vermelho escuro marcam seu lado esquerdo, mapeando o impacto de sua pele com a pedra bruta, e sua caixa torácica parece estropiada e contundida.
XENAGabrielle, meu coração...isso vai doer um pouco,mas eu tenho que---
Enquanto Xena pressiona levemente para baixo a costela de sua alma gêmea, Gabrielle geme e vira sua cabeça, mas não recupera a consciência.
XENAEu sei que isso dói. Desculpe-me.Eu precisava checar.
(pausa)
Elas estão machucadas, mas nãoquebradas. Eu sei que você não podeficar grata por isso agora, masacredite em mim, você ficará.
Esticando-se, ela agarra algumas folhas largas e as pressiona contra o corte na perna de Gabrielle, internamente maldizendo a si mesma por ter deixado sua bagagem para trás.
Sons de passos correndo e respirações pesadas vêm por detrás dela. Um instante depois, o jovem garoto corre para os braços de sua soluçante mãe.
O barulho da reunião dissolve-se de fundo enquanto Xena cuidadosamente passa a mão pela cabeça de Gabrielle e faz uma careta quando seus dedos se deparam com a borda de um pequeno e oval inchaço bem atrás da sua orelha esquerda.
Uma sombra se projeta sobre Gabrielle, e Xena olha para cima e vê a mãe do garoto embalando-o nos braços.
MÃEObrigada. Você salvou a vida dele.
XENANão, foi Gabrielle quem salvou.
MÃEEla vai---?
XENA(forçosamente)Ela vai ficar bem.
Outra sombra surge, a do filho mais velho da mulher, um alto, magro, de uns dez anos. Ele dá um passo à frente e coloca a bagagem de Xena e Gabrielle no chão perto de Xena. As sacolas estão quase secas, mas as peles estão todas encharcadas.
XENAObrigada.
Um segundo garoto vem e pousa várias peles limpas, dobradas e brilhantemente moldadas, no chão ao lado da bagagem, depois sorri timidamente para Xena, e corre de volta para se esconder atrás das saias de sua mãe.
MÃEPara aquecerem-se.
XENANão. Obrigada, mas---
MÃEVocê vai precisar delas. O sol irá se pôrem breve, e ela deve se manteraquecida. Para se curar.
(pausa)
Por favor. Meu filho estaria morto senão fosse por vocês duas. Por favor,aceite. É tudo o que eu posso oferecer.
XENANós não precisamos de---
MÃESim. Vocês precisam.
Depois de um momento, Xena acena com a cabeça consentindo e agradecendo, e a mulher sorri, triunfante. Seu sorriso dissolve quando um dos garotos dá um puxão no seu vestido.
MÃE(continua)Nós temos que ir. Nós temos muito o que viajare meu marido está nos esperando.
XENAObrigada pela sua gentileza.
MÃEObrigada a *você*... por meu filho.
CORTA PARA:
CENA EXT. UMA CLAREIRA NA SELVA. NOITE.
Gabrielle está deitada em um ninho macio de peles perto do fogo. Seus ferimentos foram limpos e cuidados com curativos. Sua perna está com uma tala, e sua costela machucada foi envolvida em tiras de pano limpo.
Embora o calor do fogo se irradie através da clareira e ela esteja coberta de grossas peles, Gabrielle treme, tomada por uma febre moderada.
Alimentando o fogo para que ele possa queimar pela noite toda, Xena se desnuda, levanta as peles e desliza para baixo delas, enrolando-se com Gabrielle e emprestando a ela o seu calor.
Embora seus olhos estejam fechados, ela permanece acordada e alerta a qualquer mudança na condição de Gabrielle.
DISSOLVE PARA:
CENA EXT. CLAREIRA NA SELVA. ANTES DO AMANHECER.
Gabrielle se contorce tomada por um pesadelo febril.
Sentindo a aflição de Gabrielle, Xena ergue uma sobrancelha e pousa a mão na testa de sua parceira, fazendo carranca ao notar o calor que irradia da pele dela.
Gabrielle geme suavemente, e Xena recua, observando atentamente o rosto de sua amada. Os olhos de Gabrielle tremulam ao se abrirem, e ela pisca, tentando ajustar o foco.
XENA(doce, sorrindo)Ei.
GABRIELLEXena?
XENASim, sou eu.
(pausa)
Como você está se sentindo?
GABRIELLE(franzindo o rosto)Como se o Argo tivesse corrido por cima de mim.
Xena ri suavemente.
XENAIsso é bom, né?
GABRIELLEO que aconteceu?
XENAQual é a última coisa da qualvocê se lembra?
Os olhos de Gabrielle se tornam distantes enquanto ela tenta se concentrar.
GABRIELLENós estávamos em um... no rio.Uma correnteza.
(pausa)
O garoto! Ele está---?
Ela se esforça para sentar, mas Xena a retém, e ela cai de volta nas peles, sem ar com a dor e a vertigem que ela sente.
XENARelaxe. Está tudo bem. Ele está legal.
GABRIELLE(sorrindo de alívio)Você o salvou.
XENANão. Foi você. Eu só ajudeia pôr as coisas em ordem um pouquinho.
GABRIELLEEu salvei? Mas eu...
XENAVocê se machucou, sim. Mas vocêainda salvou a vida dele.
GABRIELLEE você salvou a minha.
Xena sorri, e encosta a mão no rosto de Gabrielle.
XENAEsse é o meu trabalho, lembra?
Gabrielle ri, depois estremece e ajeita as costelas.
GABRIELLEDeuses!
Indo para o lado dela, Xena segura uma xícara cheia de ervas e água. Gentilmente levantando a cabeça de Gabrielle, ela coloca a xícara nos lábios da sua alma gêmea.
XENABeba. Isso deve ajudara aliviar a dor.
Gabrielle bebe a mistura amarga, fazendo uma careta enquanto toma.
GABRIELLEObrigada.
Xena balança a cabeça, e recoloca a xícara de volta no chão, perto dela.
GABRIELLEXena?
XENASim?
GABRIELLEVocê pegou as ervas? Aquelasque nós viemos aqui para buscar?
XENANão, não ainda.
GABRIELLEMas...
XENAAs ervas podem esperar.
GABRIELLE(um pouco vigorosamente)As pessoas que precisamdelas não podem esperar.
XENAElas terão que esperar. Eu nãovou deixar você, Gabrielle.Não aqui. Não agora.Nem nunca.
GABRIELLEXena, isso é importante.
XENA*VOCÊ* é importante.
GABRIELLEE as Amazonas?
XENAO que tem elas?
GABRIELLEXena, você prometeu a Ephinyque não deixaria asAmazonas se extinguirem.
XENAE eu vou fazer o melhor possívelpara manter essa promessa, Gabrielle.
(pausa)
Mas não ao preço que você estáme pedindo para pagar.
A expressão de Xena é fechada, e Gabrielle sabe que seu argumento é válido, mas ela insiste em continuar a discutir quando um imenso bocejo interrompe seus planos. Suas pálpebras ficam pesadas e finalmente se fecham quando a implacável força da droga finalmente a leva a um profundo e curativo sono.
XENA(sussurrando)Sinto muito.
FADE OUT:
FIM DO TERCEIRO ATO

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