terça-feira, 15 de julho de 2008

Ecos - Segundo Ato

CENA EXT. NAVIO VIRADO - NOITE

A tempestade empurra o navio emborcado enquanto o navio maior se atira contra ele. A maré está alta, e Xena e Gabrielle não estão à vista.

Um relâmpago cintila.

Xena repentinamente irrompe da água, se arremessando para cima do casco emborcado do navio delas. Ela se vira imediatamente e arrasta as mãos à volta, procurando na água, ansiosamente.


XENA
Gabrielle!!!

Tudo o que Xena pode ver são ondas. Ela procura pelo outro lado do barco, balançando precariamente na madeira inclinada.

XENA
(continua)
GABRIELLE!!!!!

Um relâmpago rutila novamente, iluminando o contorno do rosto de Xena. Seus olhos estão arregalados e ela está respirando muito duramente.

XENA
(continua)
Nãão!!!!!

Algo rompe a superfície. É uma mão. Sem hesitar, Xena mergulha de volta dentro d'água. As ondas a erguem e a atiram contra o barco, mas ela agarra a mão e puxa Gabrielle para cima, para fora da água. Gabrielle vem à tona tossindo.

GABRIELLE
Guah!

Gabrielle tosse soltando um pulmão cheio de água.

Xena se agarra no barco virado, e começa a arrastar a ambas para cima dele. As ondas quase as emborcam novamente.

XENA
Segure-se!

Gabrielle coloca os braços em volta de Xena, agarrando com extrema força.

GABRIELLE
Não se preocupe com isso!

Xena se segura em um pedaço quebrado de madeira assim que o barco se inclina e rola, trazendo ambas para cima, para fora da água e na quilha da embarcação virada.

XENA
Tudo bem com você?


Gabrielle tosse soltando outro pulmão cheio de água.

GABRIELLE
Formidável. E você?

Xena apresenta um longo e sangrento corte fundo e uma lasca em um braço.

XENA
Fabuloso.

Xena e Gabrielle giram e se separam, prendendo a respiração enquanto as ondas diminuem a marcha brevemente. Gabrielle se levanta nas mãos e joelhos e rasteja até Xena. Ela está arrastando um pedaço de corda.

GABRIELLE
Aqui.

Gabrielle joga a corda sobre Xena.

GABRIELLE
(continua)
A única coisa útil que encontrei nessa banheira.
Uma droga que eu ia perder isso.


Xena se senta acima e começa a enrolar a corda, enquanto a tempestade se intensifica novamente. Em uma rajada de relâmpago, o mar parece se expandir em volta delas como colinas, as ondas as erguendo, depois deixando-as cair.

Xena olha para cima a tempo de ver o navio maior sendo pego pela próxima onda, alcançando o cume da onda e depois começando a deslizar para baixo.

XENA
Nós podíamos... Cuidado!

O barco maior sobrevém nelas novamente, quase como se estivesse tentando esmagá-las. Xena agarra Gabrielle e elas se arrastam com dificuldade para cima, ficando de pé.

A quilha emborcada em que elas estavam paradas começa a girar, e elas tem que se subir rapidamente para evitar cair dela.

GABRIELLE
Aughh!!! Cuidado!

Xena vê a verga* da frente do navio se dirigir direto para ela. Ela rapidamente faz um laço na corda e a atira enquanto os dois cascos colidem novamente, e aquele onde elas estão se reparte e começa a afundar. * barra que atravessa o mastro, onde se prende a vela (NT).

Gabrielle pula nos braços de Xena enquanto o navio desaparece entre as ondas, e elas balançam na direção do navio maior. A chuva torna isso quase impossível de enxergar.

XENA
Quando ele subir, jogue o
seu peso naquela direção!

GABRIELLE
Claro! Como se eu tivesse escolha!!!


As ondas rolam, o navio inclina, e Xena e Gabrielle balançam a si mesmas sobre a amurada, aterrissando no convés do navio com um estrondo.

A chuva varre sobre elas em uma onda, e o trovão gira por sobre elas como se o céu estivesse dando risada.

Xena ergue a cabeça e fita as nuvens.

CORTA PARA:

CENA EXT. VELHO NAVIO - CONVÉS - NOITE

A chuva afrouxou um pouco. Xena e Gabrielle estão sentadas no convés, fazendo uma avaliação de si mesmas e de suas novas circunstâncias.

Gabrielle se senta contra um painel de madeira. Ela perdeu uma bota, mas de alguma forma reteve ambos os sais. Um está fixado no convés. O outro está em sua bainha na bota remanescente.

Xena está esfregando os olhos para limpar o sal. Ela fita o corte em seu braço e o ergue na chuva para lavar o sangue.

GABRIELLE
Caramba.
(olhando em volta)
Fico feliz que este esteja em melhor
forma do que o nosso estava.

Xena também esteve dando uma olhada em volta.

XENA
(severamente)
Exceto pelo problema maior.


GABRIELLE
Qual?

Xena se levanta e puxa seu caminho ao longo do convés, mão a mão.

XENA
Não há ninguém nele. Veja o que você
consegue descobrir aqui em cima.
Eu vou verificar perto da popa.

Gabrielle esfrega cabelo ensopado para fora de seus olhos e espia em volta do ar nebuloso. O convés parece abandonado e gasto. Não há sinal de qualquer atividade humana.

GABRIELLE
Que ótimo.

Gabrielle se levanta e começa a investigar a frente do navio. Ela encontra um suporte de ferro na ponta da proa, há muito quebrado e corroído pelo sal. Ela o toca com uma expressão pensativa.

GABRIELLE
(continua)
Nada foi pendurado nisso há
algum tempo, isso é certeza.

Gabrielle continua a procurar. Ela encontra um imenso gancho de ferro amarrado com corda ao convés. Sua ponta parece estar coberta com alguma substância corroída. Gabrielle coloca a mão nele, depois engasga e a puxa de volta.

Sua mão está sangrando levemente. Ela olha de mais perto e encontra esporas recortadas por toda a sua superfície.

GABRIELLE
(continua)
Ui. Pra que tipo de peixe será
isso aí, eu fico pensando?


Chupando o dedo, Gabrielle continua ao longo do parapeito.

CRUZA PARA:

CENA EXT. VELHO CONVÉS DO NAVIO - PERTO DA POPA - NOITE

Xena alcança os fundos do navio. Ela examina o timão, o qual parece estar amarrado no lugar.

XENA
Teve o seu curso trancado, é?
Do que se trata isso tudo?

Xena procura as acomodações na retaguarda. Ela encontra uma cabine cujo topo parece estar muito bem fechado. Ela puxa sua espada, e coloca sua mão nele, empurrando-o com repentina força e preparando para atacar qualquer coisa que venha a emergir.

Nada emerge. Olhando em volta com um leve embaraço, Xena embainha a espada e olha para dentro.

Ela se inclina para dentro, e puxa para fora uma corda enredada e amarrada com nós que está cheia de espaçosos buracos. Xena a atira para trás e fecha o topo da cabine.

XENA
(continua)
Rede de pesca em um
navio sem pescadores.

A tempestade continua, com relâmpagos e trovões iluminando o céu acima da cabeça. Xena examina o mastro, olhando por tudo em volta e abaixo do botaló.

Gabrielle enfrenta seu caminho através da chuva até o lado de Xena.

GABRIELLE
Xena... não consigo encontrar nenhum sino.

Xena lança um olhar desgostoso para o navio.

XENA
Ou uma lanterna. Ou um capitão,
no que diz respeito ao assunto.


GABRIELLE
Este não é o navio certo, é?

Xena olha em volta do convés abandonado. Ela coloca as mãos nos quadris, movendo-se com o navio e mantendo seu equilíbrio, enquanto Gabrielle se pendura no timão para evitar de voar ao mar.

XENA
Aquele sino estava vindo
daqui. Tenho certeza disso.

Gabrielle se senta no chão, segurando firme enquanto o navio se lança nas ondas.

GABRIELLE
Certo. Você encontra o sino. Quando você o
encontrar, veja se pode achar o cara que o toca.
Talvez ele possa nos dizer o que está acontecendo.

Xena coloca as mãos no timão, e então ela olha para cima, na direção das velas. Elas estão esfarrapadas, e uma está pendurada a meio do caminho abaixo do mastro.

XENA
Ao menos este aqui não está afundando.
Teremos que amarrar aquela vela
embaixo se nós formos usá-la.

Gabrielle está se inclinando para trás contra o timão que virou encosto.

GABRIELLE
Temos escolha?


XENA
Não. A menos que você queira nadar.

GABRIELLE
Um dia igual ao outro: estando lá, faça
aquilo e tenha as rugas para provar.

Ela ergue as mãos.

GABRIELLE
(continua)
Não podemos continuar a enfrentar essa
tempestade, Xena. Nós deveríamos
simplesmente voltar ao porto.

Xena vai para o lado do navio e espia para fora, dentro da tempestade. Ela é sólida e como uma tinta preta.

GABRIELLE
(continua)
Você sabe para que
lado é o porto, certo?

Xena olha para o alto no céu, completamente coberto de nuvens.

GABRIELLE
(continua)
Xena?

Xena se vira e olha para Gabrielle. Gabrielle grunhe, e bate a cabeça contra o timão do navio. Xena vem até ela e se agacha, protegendo seu rosto da chuva com um braço.

XENA
Qual é, não é tão ruim assim.

Gabrielle olha para Xena. Ela está visivelmente verde.

GABRIELLE
Quer que eu faça ficar ruim?

Xena pressiona os pontos no pulso de Gabrielle.

XENA
Se eu conseguir consertar as velas, acho que posso
encontrar o caminho de volta para o ancoradouro.


Gabrielle solta o timão e segura o braço de Xena, retirando a lasca dele com seus dedos.

GABRIELLE
E se você não conseguir?

Ela olha para a lasca.

GABRIELLE
(continua)
Ugh. Isso é horrível.

XENA
Obrigada.
(sorrindo)
Nós iremos terminar em algum lugar. No final.
A tempestade não pode durar para sempre.

Gabrielle maneja um sorriso em retribuição. Ela dobra sua mão em volta da mão de Xena e a leva a seus lábios, beijando as costas dela.

GABRIELLE
Contanto que nós terminemos lá
juntas, estará bem para mim.

Xena se inclina e dá um rápido abraço em Gabrielle.

GABRIELLE
(continua)
Como nós terminamos nessas confusões o tempo
todo? É apenas a nossa estúpida sorte?

Xena olha em volta para a tempestade, o navio misterioso, e as duas sentadas no convés. Ela levanta ambas as mãos em um encolher de ombros.

XENA
Eu diria que são os Destinos, mas...

GABRIELLE
É. Nós precisamos encontrar uma
nova desculpa, não precisamos?

Xena bagunça o cabelo de Gabrielle.

XENA
(calorosamente)
Algo assim. Ouça, fique aqui.
Eu vou olhar embaixo daquela
escotilha bem ali. Talvez haja algo
que eu possa usar no porão.


GABRIELLE
Cuidado. Lá em cima eu encontrei
um gancho que morde.

Gabrielle ergue a mão para Xena ver.

XENA
Ter cuidado com ganchos. Entendi.

Xena se levanta e começa a caminhar na direção da escotilha no centro do convés.

GABRIELLE
Xena! Você não vai me deixar encarregada
desta coisa, vai? Você sabe que tipo
de sorte eu tenho com barcos.

Xena se vira, se segurando ao mastro enquanto o navio gira de lado a lado, e a chuva cai mais forte por um breve momento.

XENA
Se você achar que algo
está errado, apenas grite.

GABRIELLE
(preocupada)
Xena, espere...

Xena vai até a escotilha e agarra a argola presa nela. Ela puxa a escotilha, abrindo-a, e pousa a tampa de volta no convés.

XENA
Eu já volto. Tenho certeza de
que não há muito para ver.

A escotilha aberta é um denso e escuro buraco. Xena não pode ver nada dentro dela. Ela enxerga um degrau no topo, e começa a descer.

XENA
(continua)
Não que eu possa... ah!!

Gabrielle se levanta, esfregando os olhos quando parece que uma nuvem escura está emergindo da escotilha e envolvendo Xena.

GABRIELLE
Ei! Espera!


A escada sob os pés de Xena desaparece quando ela começa a se virar, ouvindo o grito de Gabrielle. Ela cai dentro da escuridão.

GABRIELLE
(continua)
Xena!!!!

Gabrielle dispara correndo para a abertura. O navio gira para um lado, e a escotilha se ergue do convés e voa se fechando, batendo no lugar assim que Gabrielle o alcança.

Gabrielle agarra a argola e a puxa com toda a sua força.

GABRIELLE
(continua)
(gritando bem alto)
ALGO ESTÁ ERRADO!!!!!!

A argola se solta na mão de Gabrielle e ela voa para trás, girando para fora de vista quando uma onda de água lava o convés e a encharca.

FADE OUT.

FIM DO SEGUNDO ATO

Nenhum comentário: