segunda-feira, 7 de julho de 2008

A Figura Perfeita - Terceiro Ato

CENA INT. QUARTO DE XENA E GABRIELLE - CASTELO DE ULISSES - MANHÃ.

Xena está de pé diante da janela. Ela está usando apenas sua roupa de couro. Gabrielle sai da área de banho, com uma toalha enrolada em volta dela. A grande cama está toda desarrumada, e um travesseiro de alguma forma foi parar no lado mais longe do quarto.

Xena se vira e passeia de volta para a cama. Ela se senta e relaxa enquanto espera Gabrielle se vestir.

GABRIELLE
Esse foi certamente um finalinesperado para a noite.

XENA
Obrigada.

Gabrielle se vira e olha para ela. Ela retira a toalha de seu corpo e a estala em Xena, atingindo-a no ombro. Xena sorri, mas não se mexe para escapar da toalha.

GABRIELLE
Eu me referi a Ulisses atingindo aquela pintura.

A porta se abre, e Ulisses entra. Xena reage com a velocidade de um raio, puxando a toalha das mãos de Gabrielle e arremessando-a em Ulisses. O tecido se enrola em volta da cabeça dele, bloqueando sua visão, e ele se detém.

ULISSES
Xena!

Ulisses alcança a toalha para removê-la

XENA
Toque nisso e você é um homem morto.


ULISSES
Mas... mas!!!

XENA
Estou falando sério.

Ulisses decide não arriscar. Ele permanece em silêncio.

Gabrielle desliza para dentro de sua saia e a prende, depois veste seu top em volta do pescoço. Xena se levanta e vai para trás dela, amarrando as cordas de veludo. Ela espia Ulisses, depois dá um beijo na nuca de Gabrielle. Gabrielle sorri.

XENA
(continua)
Okei.

Cuidadosamente, Ulisses retira a toalha. Ele vira o rosto para elas.

XENA
(continua)
Você tem algum problema em bater na porta?

ULISSES
Xena, eu preciso de sua ajuda.Estou em uma verdadeira encrenca.

XENA
Percebi.

Um pouco irritado, Ulisses caminha até ela.

ULISSES
Xena, é sério.

Xena se senta na cama.

XENA
Tudo bem, estou ouvindo.


Gabrielle continua a se arrumar enquanto também escuta.

ULISSES
O pai de Kelvin estará aqui em breve... hoje!Se eu não entregar o dote inteiro a ele, eleirá cancelar o casamento ou coisa pior!

XENA
Qual é, Ulisses... é só uma pintura!Coloque algo no lugar dela!

GABRIELLE
(baixinho)
Que tal um ótimo arco usado?


Ulisses anda de um lado para o outro, obviamente aborrecido.

ULISSES
Vocês não entendem.Ele não vai aceitar nenhuma outra coisa.Ele quer aquela pintura!

GABRIELLE
Por que não simplesmente conseguir outra com a artista?Você disse que ela mora aqui, certo?

Ulisses se vira para Gabrielle.

ULISSES
Você acha que eu já não pensei nisso?Ela nunca copia ela mesma. Ela não irá fazer isso!Eu já pedi a ela!

Gabrielle olha além de Ulisses, para Xena, que está ainda sentada na cama.

GABRIELLE
Aposto que ela faria se Xena pedisse a ela.


XENA
Gabbrriieeelllee.

Ulisses se anima diante da sugestão.

ULISSES
Ei! Vocês a conhecem? Sim!Você tem um belo par de... Ah... você tem uma ótima maneira de...
(pausa)
Você pode ser muito persuasivaquando quer, Xena.

Xena lança tanto em Ulisses quanto em Gabrielle um olhar que poderia matar uma vaca a oito metros de distância. Mesmo assim, ela consente.


XENA
TUdo bem. Eu vou pedir a ela. Mas não prometo nada.

Ulisses parece aliviado.

ULISSES
Obrigado, Xena, eu realmentete devo uma desta vez.

Ulisses sai do quarto correndo. Xena fita Gabrielle. Gabrielle simula um olhar muito inocente. Xena joga um travesseiro nela.

CORTA PARA:

CENA INT. ESTÚDIO DA ARTISTA - DIA.

Xena e Gabrielle entram. Ou, mais precisamente, Gabrielle entra, e puxa Xena atrás dela. Se é possível para uma mulher de um metro e oitenta vestida em couros se parecer com uma criança pequena sendo levada ao dentista, Xena aparenta exatamente isso.


GABRIELLE
Olá?

XENA
Não tem ninguém em casa. Venha.Vamos descobrir outro jeito de...

A artista aparece de algum lugar. Ela as localiza.

LOOCHA
Ah! Minha perfeição! Você voltou!Eu sabia que você voltaria!


Xena resmunga baixinho.

GABRIELLE
Hum, oi. Ouça, nós realmente precisamos de sua ajuda.

A artista pára. A artista olha para as duas. A artista levanta a cabeça para um lado, emproada. As sobrancelhas da artista se erguem bem alto. Xena decide jogar o trem de pensamentos da artista para fora da trilha, dentro d'água:

XENA
Sua cidade está em apuros.Eles precisam da sua ajuda. Nós não.

LOOCHA
(baixinho)
Tééédio...
(brilhante)
Tudo bem! Qual é o problema?Os muros ficaram todos pardos de novo?Eu disse a eles que o laranja iria desbotar.

GABRIELLE
Não exatamente.


LOOCHA
Não me diga que ele está implorando para eupintar aquele Oddy esquisito ou outra coisano teto do castelo novamente.

XENA
Não. É mais complicado emenos egoísta que isso.

A artista olha com interesse novamente.

LOOCHA
Tudo bem então, venham até a minha salae vamos ficar confortáveis, está bem?

A artista vai até a entrada e ergue o dedo para elas, chamando-as. Xena e Gabrielle olham uma para a outra, suspiram, e a seguem.


CORTA PARA:

CENA INT. ESTÚDIO DE TRABALHO DA ARTISTA - DIA.

A sala de trabalho da artista é uma mistura selvagem de trabalhos em progresso, trabalhos não mais em progresso e muitos itens excêntricos cujos propósitos parecem muito obscuros. Xena e Gabrielle se sentam em uma banqueta redonda acolchoada. Gabrielle pega uma xícara de chá. Xena está olhando por trás dela para uma carranca de gárgula feita de argila, no centro da banqueta. A artista está parada de pé na frente delas.

LOOCHA
Espeeeeraaa aííí! Você está me dizendo que aquelevelho pomposo e tagarela atirou na minha pintura?

GABRIELLE
Bem, ah...

XENA
Sim.


A artista coloca o braço sobre os olhos em uma pose dramática.

LOOCHA
Eu me sinto como se tivesse perdido um filho.

Xena e Gabrielle trocam olhares significativos.

XENA E GABRIELLE
Não, não sente.

A artista deixa o braço cair, surpresa.

LOOCHA
Vocês não entendem. Eu trabalhei naquelapintura por dias... semanas... luas!

XENA
Foram dias, semanas ou luas?

GABRIELLE
Tenho certeza de que deve ter trabalhado. Era linda.

LOOCHA
Foi o mais longo, o maior...
(pausa, olha para Gabrielle)
Ora, obrigada! Um olhar perspicaz!Mas você deve estar acostumada com aperfeição - vivendo com ela!

GABRIELLE
(maliciosamente)
Oh, sem dúvida. Vou te dizer, é uma alegriaacordar todas as manhãs.


Xena acaba com isso.

XENA
Olha, você pode substituí-la? Ulissesa prometeu para os Kefalonianoscomo parte do dote da filha.


LOOCHA
Não.

GABRIELLE
Não?

LOOCHA
Não, não, não. Eu nunca, nunca, nunca,nunca copio a mim mesma. Nunca.

GABRIELLE
Mas, Loocha, há muita coisa em jogo aqui.Ulisses disse que se ele não desistisse dapintura, vocês poderiam voltar à guerra.


A artista encolhe os ombros, indiferente.

LOOCHA
Então eu coloco as tábuas na janela e toleroreceber comissões para pintar rapazes comespadas montados nos cavalos de novo.

XENA
É isso o que a guerra significa para você?E quanto aos caras que morrem nela?

LOOCHA
Comissões pelas tumbas. Muito lucrativo!

Xena se aborrece. Ela se levanta.

XENA
Venha, Gabrielle.Eu te disse que isso era uma má idéia.


Gabrielle se aborrece também.

GABRIELLE
Você estava certa. Desculpe. Vamos.

Ambas se viram e caminham na direção da porta. A artista as observa curiosamente.

LOOCHA
Foi algo que eu disse?

Xena e Gabrielle continuam andando.

LOOCHA
(continua)
Okei, okei. Voltem aqui.Eu só estava brincando.

Gabrielle se vira e a encara.

GABRIELLE
Morrer não é divertido. Acredite em mim.


Xena prudentemente continua em silêncio.

GABRIELLE
(continua)
Você vai nos ajudar ou não?Porque, se não for, nós iremos encontrar alguém que possa.

A artista se apressa.

LOOCHA
Ei! Não precisa fazer ameaças!

XENA
Então você vai fazer a pintura?

LOOCHA
Não.

Xena e Gabrielle jogam as mãos para cima e se viram para ir embora novamente.

LOOCHA
(continua)
Tatatatata... Eu não posso! Esperem!Não posso fazer aquela pintura novamente.Penélope está morta, esqueceram?

Xena e Gabrielle se viram pra ela novamente.

GABRIELLE
Você não consegue disfarçar1?


LOOCHA
Você consegue?

Xena dá um tapinha na testa dela.

GABRIELLE
Consigo o que?

XENA
Não, ela não consegue. Ouça...


LOOCHA
Eu não posso repintar Penélope!
(pausa)
Masssss... Eu posso fazer a pintura da mulher maislinda do mundo para substituí-la.

XENA
Tudo bem. Agora nós estamos chegandoa algum lugar. Você tem que cons....

Loocha interrompe Xena, sorrindo.

LOOCHA
SE você posar para mim, minha pequena Perfeição.

Xena percebe que foi habilmente pega. E também Gabrielle.

GABRIELLE
É para uma boa causa.


LOOCHA
Nua, é claro! Os Kefalonianosirão esquecer todo o resto!

GABRIELLE
Espere um minuto!


XENA
(jocosamente zombeteira)
É para uma boa causa.


LOOCHA
Esta é minha oferta. Pose, e eu te pintouma obra-prima. Não pose, e eu começo amisturar as cores para as cenas de batalha.

Xena e Gabrielle olham uma para a outra. Nenhuma está gostando, mas ambas percebem que têm muito pouca escolha.

GABRIELLE
As coisas que nós fazemos para o bem maior.

XENA
Nós?


LOOCHA
Ótimo! Agora, você...
(apontando para Xena)
Tire suas roupas. E você...
(apontando Gabrielle)
Saia depressa. Preciso de privacidadepara criar minha maravilhosa arte.

Gabrielle parece ultrajada.

LOOCHA
(continua)
A-a-ah! Nós temos um trato.Faça-se de folha e voe daqui!

Xena apressadamente agarra Gabrielle pela cintura antes que ela faça qualquer coisa impulsiva. Ela sussurra no ouvido dela:

XENA
Vá dizer a Ulisses que nós conseguimos resolver.

GABRIELLE
(sibilando)
Xena!!!

XENA
Quanto mais rápido você for, mais rápido você vai estar de volta.


Com o maior de todos os olhares e encaradas, Gabrielle retira o braço de Xena de volta dela e sai enfurecida. Loocha observa ela partir.

LOOCHA
Que espontânea! Eu amo garotas com uma bela dose de...

Xena lhe dá um olhar mortal.

LOOCHA
(continua)
Atitude.

Loocha sorri para Xena. Xena desengancha a armadura. Loocha sorri mais ainda.

CORTA PARA:

CENA INT. SALA DO TRONO DE ULISSES - DIA.

UlIisses se senta em seu estrado. Seus homens estão em volta dele. Um dos guardas toca sua corneta e abre a porta para entrar um grupo de homens mais velhos. No centro do grupo está RADWAR, o pai de Kelvin. Radwar é um homem bem grandão, obviamente um soldado, com uma carranca permanente no rosto. Ulises se levanta para saudá-lo.

ULISSES
Ah, Radwar, meu amigo. Bem-vindo.

RADWAR
Não sou seu amigo, cretino.


Gabrielle entra, e ouve a troca de saudações.

ULISSES
Bem, ah, sim. Tudo bem.Bem-vindo, Radwar, meu antigo inimigo.

Radwar caminha com passos pesados até o estrado, e olha furioso para Ulisses.

RADWAR
Mostre-me o dote.

ULISSES
E é ótimo ver você aqui também.Como foi a viagem?

RADWAR
Mostre-me o dote.

ULISSES
Quer almoçar? Gostaria de algo parate tirar a poeira da estrada?

RADWAR
Não!

Ulisses parece muito apreensivo. Gabrielle sobe por trás dele e o dá um tapinha no ombro. Ele se vira.

ULISSES
Ah! Gabrielle! Exatamente quem eu estava procurando!

Gabrielle ergue uma sobrancelha.

GABRIELLE
Xena pediu pra dizer que nós estamoscuidando do seu probleminha.

ULISSES
Eu sabia que podia contar com vocêpara vir aqui e... Ahm?

GABRIELLE
(abaixando a voz)
Seu probleminha?


ULISSES
Oh! Estão? Mesmo?
(pausa)
Claro que estão!Eu sabia que podia contar com Xena!Nunca duvidei disso!

Em volta de Ulisses, seus homens estão todos limpando a testa em um evidente alívio.

RADWAR
Que conversa confusa é essa aí?Vamos acabar logo com isso!

ULISSES
(abaixando a voz)
Diga a Xena que é melhor ela se apressar. Eu vou tentar enrolá-lo.
(para Radwar)
Claro! Claro. Venha comigo, querido Radwar.Eu sei que você está ansioso para ver sua nova propriedade, mas meuchefe de cozinha está preparando um maravilhoso banquete para vocês,como seu filho pediu . Deveremos atender a vontade dele?

RADWAR
(irritado)
Isso vai demorar?

ULISSES
Depende do quão rápido você mastiga.

RADWAR
Certo, certo. Vamos logo com isso!

Ulisses leva Radwar para fora. Gabrielle se vira e marcha na direção oposta.

ULISSES
Gabrielle!

Gabrielle pára, e relutantemente se vira.


ULISSES
(continua)
Tenho certeza de que Radwar adorariaouvir uma de suas histórias.
(pausa)
Para passar o *tempo*?

Os olhos de Gabrielle se estreitam, mas ela sabe que Ulisses tem razão. Rangendo os dentes, ela se junta a eles quando eles deixam a sala.

CORTA PARA:

CENA INT. ESTÚDIO DA ARTISTA - DE TARDE.

Xena está de pé no meio do estúdio, nua. Loocha a examina com interesse. Lentamente, ela caminha em um círculo completo em volta de Xena, olhando para cada centímetro.

Os olhos de Xena a seguem suspeitamente.


XENA
Você terá que pintar ao redor das cicatrizes.

LOOCHA
Rapaz, você realmente tem muitas.É propensa a acidentes, é?

XENA
Não.

A artista começa a esboçar um desenho na tela, colocada muito perto de Xena. Ela segura um pincel de cabo comprido na mão. Ela cutuca Xena com ele.

LOOCHA
Essa aqui foi de que?

Xena olha pra baixo.

XENA
Gabrielle me mordeu.


A artista pára no meio do movimento e olha para Xena. Xena sorri. A artista volta para o esboço. Ela cutuca Xena novamente.

LOOCHA
E quanto a essa aqui?

XENA
A faca de ostra de Gabrielle escorregou.

A artista pára novamente.

LOOCHA
E esta?

XENA
Gabrielle queria praticar costura.Nós estávamos sem muita roupa.

LOOCHA
Já considerou ter uma parceiramenos perigosa?

XENA
Nunca.

LOOCHA
Pervertida. Gosto disso.

Xena já está ficando impaciente. Ela olha em volta, procurando por algo interessante pra fazer.

XENA
Já acabou?

LOOCHA
O que?! Eu acabei de começar!A Perfeição não pode ser apressada!

Xena suspira e bate os dedos na coxa.

CORTA PARA:

CENA INT. SALÃO DE BANQUETE DE ULISSES - DE TARDE.

Ulisses, seus homens, Gabrielle, e Radwar estão sentados à mesa. Na mesa estão os restos de um suntuoso banquete. Radwar, porém, está sentado na melhor cadeira, com uma expressão entediada e irritada.

RADWAR
Chega! Você já me enroloutempo demais, ilusos2!

ULISSES
É Ulisses.

RADWAR
Mostre-me o dote!Sem mais comidas, sem mais histórias!

GABRIELLE
(secamente)
Fico feliz de você ter gostado delas.


Ulisses sabe, porém, que não pode enrolar Radwar por muito mais tempo.

ULISSES
Bem, agora que nós todos relaxamos, e tivemosuma grande refeição... que tal um passeio?

Radwar já se encheu. Ele se levanta e arremessa seu prato pela mesa, fazendo louças de barro voarem por todos os lados. Um grande esguicho de alguma coisa verde pousa no peito de Ulisses.

RADWAR
Já tive o suficiente. Ou você me mostra o queeu quero, ou acaba aqui! Eu pegarei meufilho e chamarei minhas tropas!

ULISSES
Mas, Radwar!

Radwar aponta para Ulysses, irado.

RADWAR
Agora! Mostre-me agora, ou nós estamos em GUERRA!
FADE OUT.
FIM DO TERCEIRO ATO

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