sexta-feira, 11 de julho de 2008

Opções Finais - Primeiro Ato

CENA EXT. GRANDE CIDADE - DIA

Xena e Gabrielle entram na cidade. O aparecimento delas não parece atrair qualquer atenção dos habitantes, que estão ocupados se encarregando de um grande festival comercial que se espalha por todo o caminho entre as ruas e em volta dos prédios. A cidade parece muito próspera. Os aldeões parecem animados e eles dão as boas-vindas a Xena e Gabrielle com sorrisos e rostos amigáveis enquanto as duas mulheres perambulam pelas festividades.

GABRIELLE
É bom ver o povo
feliz pra variar.

XENA
Umm-hum.

Duas mulheres com cestos de colares de flores passam dançando. Elas param e oferecem a Xena e Gabrielle um colar cada uma, colocando-os em volta dos respectivos pescoços antes de saírem correndo, dando risadinhas. Xena examina uma das flores, depois a funga experimentalmente.

GABRIELLE
Com certeza é melhor do que ser
atingida na cabeça com um tijolo.


Elas entram no mercado. Perto de uma das pontas, dois homens estão vendendo frascos de algum preparado de ervas, e perto deles um oleiro apresenta uma tábua de madeira cheia de jarros e potes bem produzidos.

XENA
Quer fazer algumas comprinhas?

Gabrielle examina a tábua. Ela encolhe os ombros.

GABRIELLE
Não.

Xena olha para ela, surpresa.

GABRIELLE
(continua)
Eu finalmente me dei conta de que
quanto mais coisa eu compro, mais
coisa eu tenho que carregar. Vamos.

Gabrielle lidera o caminho pelo mercado e elas chegam à estalagem da cidade. O estalajadeiro, um homem de meia idade usando um avental de couro, está de pé do lado de fora, varrendo o chão na frente da estalagem com uma vassoura de palha.

XENA
Noite.

O estalajadeiro olha para elas, depois sorri.

ESTALAJADEIRO
Noite, senhoras. Posso ceder-lhes
um quarto, banho, e boa refeição?

GABRIELLE
(sorrindo)
Por quê? Parece que nós estamos precisando?

O estalajadeiro reage, um tanto embaraçado.

ESTALAJADEIRO
Não... Não! Não... É só minha
fala costumeira, você sabe!

XENA
(secamente)
Nós iremos ficar com as três coisas. Quanto custa?


O estalajadeiro as calcula novamente.

ESTALAJADEIRO
Cinco dinares.

Xena olha severamente para ele.

ESTALAJADEIRO
(continua)
Com jantar.

Xena olha para ele ainda mais severamente.

ESTALAJADEIRO
(continua)
E estábulo para seu amável cavalo.

Xena sorri. Gabrielle esconde um risinho.

GABRIELLE
Festival agradável esse que vocês estão fazendo.

O estalajadeiro concorda.

ESTALAJADEIRO
Foi um bom ano, sim. As coisas têm
sido muito melhores desde que aqueles
sanguessugas do Olimpo partiram.

Xena e Gabrielle trocam olhares significativos.

GABRIELLE
É mesmo? Por que você não se senta
conosco e nos conta mais sobre isso?


Xena toma um braço dele e Gabrielle toma o outro, e elas escoltam o estalajadeiro para dentro da estalagem antes que ele possa protestar. A vassoura cai no chão, esquecida.

DISSOLVE PARA:

CENA INT. TEMPLO DE ARES - NOITE

O interior do templo parece, se é que é possível, mais arrebentado do que parecia antes. Ares está sentado no altar quebrado, batendo o chakram contra a pedra com um olhar muito irritado no rosto.

ARES
Estúpido pedaço de...

Em frustração, Ares arremessa o chakram pelo templo e ele atinge uma parede. Em vez de voltar para Ares, ele cai no chão com um tinido.

ARES
(continua)
Eu esperei demais.

Ares se levanta e caminha.

ARES
(continua)
Xena… Xena... Xena....
(pausa)
Por que você sempre tem
que estragar tudo?*

Ares levanta as mãos e deixa elas caírem de lado.

ARES
(continua)
Mas nunca me estragar?*

Ele ri amargamente.
* screw me up = me atrapalhar tudo, screw me (vulg.) = transar comigo (N.T.)

ARES
(continua)
Quem imaginaria que o poder que eu iria precisar
para trazer de volta meus dias gloriosos estaria
trancado em um presente que eu dei a você?


Ares caminha adiante e chuta o chakram. Então ele ergue o chakram e olha para ele especulativamente.

ARES
(continua)
Eu preciso tirar ela de você, não preciso? Daí você
e eu poderemos ter alguma diversão de verdade.

Ares sacode o chakram, depois o gira nos dedos enquanto pensa. Ele sorri, recoloca o chakram na cintura, depois desaparece em um lampejo de triste impaciência.

CORTA PARA:

CENA INT. ESTALAGEM DA CIDADE - NOITE

Xena e Gabrielle estão sentadas em uma mesa com os restos de um bom jantar na frente delas. Ambas seguram canecas de cerveja, enquanto ouvem o estalajadeiro falar.

ESTALAJADEIRO
Então... Essa é a história! Antigamente, metade de
nossa colheita ia para os deuses. Campos de trigo
para este, manadas de porcos para aquele... Bah!

GABRIELLE
Então, agora vocês conseguem ficar com tudo.


ESTALAJADEIRO
Exatamente, e já não era sem tempo!
Eles não eram dignos de um dinar. Veja,
nós ainda estamos aqui, não estamos?
Acaso o mundo desabou sem eles?

O estalajadeiro se levanta e dá um tapinha na mesa.

ESTALAJADEIRO
(continua)
Bem, foi bom conversar com vocês, mas
eu tenho uma estalagem pra tocar. Vocês,
moças, tenham uma linda noite sem deuses.

Xena balança a mão dando tchau para ele enquanto ele parte. Elas esvaziam suas canecas, depois se empurram para trás na mesa e deixam a sala, que está ficando significativamente mais lotada.

CORTA PARA:

CENA INT. RUÍNAS DO OLIMPO – APOSENTO DE ARES – TEMPO IRRELEVANTE

Uma baixa névoa se retorce pelo chão de um grande aposento. Há uma janela de um lado dele, mas do lado de fora da janela é uma completa escuridão. As paredes estão acortinadas de veludo, e o chão está coberto de tapetes de pele de animal. Há uma imensa, mas imensa cama no centro do quarto, abarrotada de travesseiros. Um espelho se pendura sobre ela.

O quarto tem um ar de abandono. Parece haver uma camada de pó sobre tudo, e embora os linhos da cama estejam desordenados, eles pousam sobre um lado e caem até o chão. Perto da porta está uma tigela de madeira para cachorro, com três iguarias, virada.

Ares entra. Ele olha fixamente para a tigela, depois a chuta para fora do caminho e vai até um baú perto da janela. Ele abre a tampa rapidamente e começa a puxar itens para fora e a atirá-los por sobre o ombro. Muitos dos itens são inidentificáveis, mas chicotes, correntes, e coisas pontudas são constantemente apresentadas.

ARES
Onde está você? Hum?

Ares puxa um roupão de seda. Ele o observa, depois cheira, fazendo careta antes de atirá-lo para o lado. Ele então remove um velho estojo de cerâmica, quadrado e muito empoeirado.

ARES
(continua)
Ah!

Ares pega o estojo e se senta na cama. Ele abre o estojo, depois retira o chakram da cintura e o coloca dentro. Ele se encaixa na depressão circular do centro do estojo. Do lado de fora do estojo há salientes hieróglifos egípcios. Ares examina as marcas dos símbolos, virando o estojo para cima e depois de cabeça para baixo para lê-las.

ARES
(continua)
Olhe pra isso. Eu odeio areia.


Ares se levanta e coloca o estojo sob o braço. Ele estala os dedos e desaparece.

CORTA PARA:

CENA INT. QUARTO DA ESTALAGEM – NOITE

Xena está deitada na cama de costas com as mãos atrás da cabeça. Ela está vestida em uma camisola lisa, e seu cabelo está levemente úmido. Gabrielle está de pé perto da janela, enrolada apenas em uma toalha, escovando seu cabelo também úmido.

XENA
Eu nunca pensei realmente sobre isso.


Gabrielle pára e olha para ela.

GABRIELLE
Sobre o quanto isso afetaria a todo
mundo depois de todo esse tempo?

Xena suspira. Gabrielle coloca a escova de lado e vai para a cama, deitando-se ao lado de Xena.

GABRIELLE
(continua)
Nós enfrentamos os deuses porque
nós tivemos que fazê-lo. É bom ver
que vieram coisas boas a partir daí.

Xena passa levemente as costas dos dedos contra a bochecha de Gabrielle.

XENA
Então onde isso deixa Ares? O que
é um deus sem seguidores?

Gabrielle pensa nisso.

GABRIELLE
Não sei.

Gabrielle vira a cabeça levemente e beija os dedos de Xena. Xena sorri. Ela vira de lado e elas se beijam com uma calorosa e familiar paixão. Xena apóia a testa contra a de Gabrielle.


XENA
Se eu fosse Ares, eu estaria procurando
por uma forma de reconstruir meu império.

Gabrielle mordisca a ponta do nariz de Xena.

GABRIELLE
Onde o chakram se encaixa nisso?

XENA
Eu não sei.

Xena solta a toalha e puxa Gabrielle para um abraço.

XENA
(continua)
Mas aposto que nós vamos descobrir.

Gabrielle puxa as cobertas sobre elas.

GABRIELLE
Talvez, mas aposto que isso terá
que esperar até amanhã.

XENA
Não aposte.

Xena puxa uma adaga do nada e a atira por sobre a cabeça de Gabrielle. Ela parte a vela em duas e faz o pavio cair no chão, molhando-se. O quarto fica escuro, mas não em silêncio.


FADE OUT.

FIM DO PRIMEIRO ATO

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