CENA EXT. CIDADE COM PORTO NAVAL. DIA.
A cidade é um verdadeiro covil de bandidismo, povoada por sujeitos repugnantes de vários países. Eles todos têm a intenção de ganhar a vida desonestamente, fraudando qualquer viajante desafortunado o suficiente para passar através dali com qualquer valor que ele possa possuir.
Embora não haja mais do que vinte construções ao todo, Gabrielle conta pelo menos dez tavernas, cada uma com um nome mais colorido e, no caso de várias, mais anatômico que o último.
Ela se afasta do caminho quando um freguês voa pela porta de uma das tavernas e pousa, de cabeça, em uma encharcada e fedorenta pilha de... alguma coisa.
GABRIELLEXena?
XENAHum?
GABRIELLEIsso é muito ruim.
Sorrindo, Xena passa por três homens que estão brigando por uma mulher que já foi atrativa há uma década atrás, e limpa uma década antes daquela.
XENAEu só preciso levar Argo para um estábuloe conseguir alguma informaçãoe nós vamos embora daqui.
GABRIELLEVocê acabou não me dizendopor que escolhemos essa rota pitoresca.Por que nosso navio não foi permitidode atracar no porto oficial?
XENAPorque ele veio da Grécia.Aparentemente, um punhado de idiotas estávelejando por aí e roubando quantaservas eles conseguem fazer cairnas suas pequenas mãos sujas.
GABRIELLEPara vender a um lucro imenso, claro.
XENAClaro.
GABRIELLEIsso é nojento. Pessoas estãomorrendo, e eles estão seenriquecendo do sofrimento delas.
XENAÉ mais ou menos por aí a coisa.
Xena avista o ESTÁBULO e leva Argo naquela direção, com Gabrielle lhe seguindo.
O DONO DO ESTÁBULO as avista e vai para fora, limpando as mãos nas suas calças imundas e sorrindo de orelha a orelha.
DONO DO ESTÁBULOLindo animal você tem aqui.
XENAEla não está a venda.
DONO DO ESTÁBULONão, eu não pensei que estivesse.Você está querendo alojá-la?
Xena olha intencionalmente para a tabuleta, depois de novo para o dono do estábulo, que enrubesce.
DONO DO ESTÁBULO(continua)Eu vou tomar isso como um sim.
(pausa)
Vocês são gregas?
GABRIELLESomos.
DONO DO ESTÁBULOCinqüenta dinares por dia, comida não inclusa.Se quiserem um tratador de cavalose exercícios, também vai custar algo.
GABRIELLECinqüenta? --- Que roubo!
DONO DO ESTÁBULOÉ o único estábulo por aqui.É pegar ou largar.
GABRIELLEMas ---
DONO DO ESTÁBULOOuça, dona, assuma ou suma.Eu tenho negócios pra atender ---
Suas últimas palavras foram cortadas por um violento golpe no pescoço, e ele se viu repentinamente de joelhos, incapaz de se mover.
Gabrielle balança a cabeça para Xena, depois dá um passo para frente, abaixando o rosto no nível do rosto do dono do estábulo.
GABRIELLEUm breve conselho, meu amigo.Nunca é sábio irritar alguémque carrega tantas armas.
(pausa)
Você tem sorte de ter pegadoela de bom humor.
Xena sorri afetadamente.
GABRIELLE(continua)Eis o acordo. Eu acho que doisdinares por dia é muito justo, comidainclusa. E já que você parece serum bom homem, eu vou incluir um dinarpor dia para o tratador fazer exercícioscom o cavalo. Parece bom pra você?
DONO DO ESTÁBULOMui---muito bom, sim.
GABRIELLE(sorri)Viu? Eu sabia que nós podíamosvir a nos entender.
Sem esperar por Xena, Gabrielle desfaz o golpe no pescoço dele, depois ajuda o homem a se levantar, segurando-o até que ele possa se equilibrar sozinho.
Soltando o homem, Gabrielle estende a mão para o bolso dele e o presenteia com um bela pilha de dinares.
GABRIELLEFoi um prazer fazer negócioscom você. Argo não lhe daria qualquerproblema mesmo. E lembre-se,ela adora maçãs.
DONO DO ESTÁBULOMaçãs
GABRIELLEMuitas delas. Certo, Xena?
XENA(secamente)Certo.
Gabrielle se vira para ir embora, depois se volta.
GABRIELLEAh sim, nós precisamos de uma canoa.Sabe onde podemos encontrar uma?
DONO DO ESTÁBULOVocês---vocês podem usar a minha!
GABRIELLE(docemente)Muito obrigada. Você émuito gentil, sabia?
Xena apenas balança a cabeça quando o homem fica envergonhado até os pés. Gabrielle sorri, charmosamente, e dá um tapinha no braço dele em agradecimento. Então ela acena pra Xena com a cabeça para acompanhá-la, e vai embora, deixando o dono do estábulo ainda se dando conta do que acabou de acontecer com ele.
GABRIELLE(para Xena)Bom, acho que foitudo bem, você não acha?
XENAEstou impressionada.
GABRIELLE(sorri)Deve estar. Há algo maisque eu possa fazer por você?
Xena ergue uma atrevida sobrancelha.
XENAPergunte-me novamente à noite.
Gabrielle ri, e elas caminham em direção ao rio, de braços dados.
DISSOLVE PARA:
CENA EXT. RIO. COMEÇO DA NOITE.
Cercado dos dois lados por um espesso matagal, o rio é limpo, largo, e, em sua maior parte, plácido. A vida está em grande abundância em volta dele, evidenciada pelos gritos altos de grandes pássaros, e um ocasional grunhido grave de animais de caça escondidos no mais profundo verde da mata.
A canoa de um só tronco que Xena e Gabrielle conseguiram é um tanto usada, mas aproveitável, e elas deslizam pela água com uma naturalidade nascida de seu longo companheirismo. Gabrielle senta-se na proa, Xena na popa, e sua bagagem é colocada entre elas.
GABRIELLENão há nenhuma chance de algumcanibal com escovas de untar carneestar pendurado por aqui, certo?
Xena dá uma gargalhada.
XENANão.
GABRIELLENem atenienses sitiados em um posto avançadosimplesmente esperando pela PrincesaGuerreira para vir resgatá-los?
XENAEsses também não.
GABRIELLESó pra ter certeza. Você sabeo que acontece quando estamos em canoas.
Gabrielle continua nessa disposição por vários momentos, e gradualmente percebe que a canoa se torna mais difícil de manobrar.
Ela vira sua cabeça e vê sua parceira com o remo no colo, calmamente jogando uma linha de pescar para dentro das águas claras.
GABRIELLE(continua)Não vai dar uma ajudinha aqui?
XENAEu estou ajudando. Estou pegando o jantar.Além disso, você está indomuito bem sozinha.
GABRIELLEOh, é *assim* que funciona agora?Eu faço todo o trabalho, e vocêfica com toda a diversão?
Escondendo seu sorriso travesso, Gabrielle olha para frente mais uma vez e recomeça a remar.
XENAEi! Pescar também é trabalho.
Gabrielle ri.
GABRIELLEOh não, Xena. Para mim, pescar étrabalho. Para *você*, é diversão.
(pausa)
Além disso, eu não poderia chamar o quevocê está fazendo de pescar, tecnicamente.
XENAOh? E como você chamariaisso? Tecnicamente.
GABRIELLEDe arrastar um anzol pela água.Um anzol que, incidentalmente, nãoestaria indo a lugar algum ao menos que*alguém* estivesse remando a canoa.
Como boa guerreira que é, Xena sabe quando foi manobrada, e, com um riso silencioso, amarra a outra ponta da sua linha em um esteio solto na canoa, e começa a remar.
DISSOLVE PARA:
CENA EXT. MATAGAL. NOITE.
Uma pequena fogueira emite uma fraca luz em uma canoa emborcada em uma margem do rio. Perto do fogo, Xena se senta com suas costas contra um tronco inclinado, afiando sua espada.
Gabrielle está sentada perto dela, nas suas peles, com um pergaminho abandonado sobre seu colo.
Sentindo o olhar de Gabrielle sobre ela, Xena levanta os olhos. Seus olhares se encontram, e ambas sorriem.
XENA(doce)O que é?
GABRIELLEVocê... Este...
(pausa)
Eu acho que nunca percebi o quantoouvir você afiando sua espadajá se tornou uma parte de mim.
(pausa)
Que bobo, né?
XENANão. Não é bobo.
Deixando a espada no chão, Xena se move até as peles e envolve Gabrielle em um caloroso e terno abraço, colocando a cabeça loira embaixo de seu queixo.
XENA(continua)Quando você... me mandou embora, eu fiquei vagandopor uma espécie de... limbo, com os pensamentosdaqueles que eu magoei como companhia.E eu me lembro de desejar ouvir, mesmo queapenas uma vez, o som de sua penaescrevendo nos seus pergaminhos.
Xena emite uma espécie de risada triste.
XENA(continua)Suponho que precisou eu morrer... de novo...para perceber que a paz que eu procuravaestava o tempo todo aqui.
Gabrielle aperta Xena bem forte por um longo momento, depois vagarosamente se afasta, limpando uma lágrima do rosto dela, e sorrindo.
GABRIELLEVê se lembra dessa lição, ok?
XENAEu vou lembrar. Prometo.
GABRIELLEQue bom.
(pausa)
E por falar em se lembrar...
(pausa, corta para Xenaerguendo uma sobrancelha)
"Há algo mais que eu possa fazer por você?"
Os olhos de Xena brilham como a luz do dia ao compreender a pergunta, e um lento e sexy sorriso aparece em seus lábios.
XENAOh, eu acho que eu possopensar em algo.
FADE OUT:
CENA EXT. RIO. DIA.
O céu está azul e sem nuvens quando as duas mulheres deslizam silenciosamente pelo rio, trabalhando em uma perfeita coordenação. Gabrielle sorri enquanto olha em volta para a abundante e vibrante beleza da selva tropical, contente de respirar a paz do dia.
XENAAli em frente haverá uma curvano rio. Uma vez que chegarmoslá, comece a procurar poruma clareira à direita.
GABRIELLESim, sim, Capitã.
Vagarosamente, a ampla curva aparece diante sua vista. Enquanto Gabrielle a examina, ela ouve um som parecido com um trovão, mas quando ela olha para cima, o céu está completamente claro.
O som se desenvolve novamente, e desta vez, a canoa se ergue e cai de novo.
Assustada, Gabrielle vira a cabeça. Xena devolve-lhe o olhar, com uma expressão preocupada.
XENAEu espero que não sejao que eu estou pensando que é.
Os olhos de Xena percorrem a margem para um lugar adequado para o barco, quando ela percebe os olhos de Gabrielle se abrirem e seu queixo cair. Ela vira sua cabeça a tempo de ver um imenso muro de uma onda de água suja indo diretamente para cima delas.
XENA(continua)Segure-se!
FADE OUT.
FIM DO SEGUNDO ATO
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