sábado, 5 de julho de 2008

Sonhos do Coração - Prólogo / Primeiro Ato

CENA EXT. TRILHA NA FLORESTA - DIA.

Uma trilha para carroças se expõe através de uma profunda área da floresta. As árvores dali são altas e cheias de grossas folhas. Porém, elas se curvam ao vento, e o céu indica uma iminente tempestade. É outono, e faz frio.

XENA e GABRIELLE caminham pela estrada juntas. Elas estão vestidas com longos casacos, e carregam suas sacolas de bagagem em suas costas. Gabrielle está com o seu cajado de caminhada. É meio-dia, e elas já estão andando há algum tempo.

XENA
Eis um riacho. Com sede?


GABRIELLE
O suficiente para beber aquele vinho
que compramos lá no porto.


XENA
Venha. Vamos fazer uma parada e comer.

Elas deixam a estrada e caminham até o riacho. Várias pedras servem de assento, e Gabrielle tira vantagens disso enquanto Xena se ajoelha para encher seus odres. Gabrielle remove seu diário da sacola e toma uma pena, apontando-a antes de começar a escrever.

GABRIELLE
(Voz em Off)
Parece tão estranho estar de volta aqui naBretanha. A tempestade que nos desviou docurso poderia ter nos levado para tantos outros
lugares - por que aqui? E por que agora?

Xena traz os odres de volta e se senta no chão, usando as pedras como encosto para as costas. Ela dá uma caneca para Gabrielle. Gabrielle a segura com um sorriso e bebe, ficando com um pouco de água nas mãos, a qual ela espirra na Xena. Ela coloca a caneca no chão e continua a escrever.

GABRIELLE
(Voz em Off)
(continua)
Nós estamos nos dirigindo para outra cidade comporto, onde Xena diz que podemos conseguirum barco. Eu acho que ela sabe que não queropassar muito tempo aqui. Nós não falamossobre isso, mas este lugar abriga tantashorríveis memórias para ambas de nós...

Um pássaro grita ali perto. Tanto Xena quanto Gabrielle se viram para olhar para ele. A mão de Xena agarra o cabo de sua espada, e dá para notar que ela está impaciente. Depois de um momento, vários pássaros- tordos perseguem uns aos outros através das árvores, e elas duas relaxam.

GABRIELLE
(Voz em Off)
(continua)
Este é o lugar onde eu perco a mim mesma. AGabrielle que Xena encontrou em Potedia morreu aqui.

Xena quebra no meio um pedaço de pão e o entrega a Gabrielle.

GABRIELLE
(continua)
Obrigada. Quanto ainda falta para chegarmos à costa?


XENA
Se continuarmos caminhando até o escurecer, nóspodemos chegar lá amanhã ao meio-dia.

GABRIELLE
Que bom.

Xena olha para Gabrielle, depois olha para o riacho, com uma expressão sombria.


GABRIELLE
(Voz em Off)
(continua)
Quando mais cedo partirmos, melhor.

CORTA PARA:

CENA EXT. ESTRADA DA FLORESTA - DE TARDE.

Um grupo de homens cavalga por uma estrada larga e bastante gasta. Na liderança deles está FERGAL - um comandante celta. Com ele estão outros seis homens, incluindo seu filho, BONNACH. Os homens estão vestidos em tecidos celtas xadrez, similares no estilo e idênticos nas cores.

FERGAL
Bonnach! Você está sepreparando, meu jovem?

Bonnach está sentado em sua sela, de olhos fechados, obviamente concentrado. Ele é alto, bem proporcionado, jovem, e com um rosto bonito. Ele pula um pouco quando lhe dirigem a palavra.

BONNACH
Desculpe, pai. Eu estava desenvolvendo umpouco da minha história. Eu quero queela esteja perfeita para a competição.

FERGAL
E ela estará, jovem. Você é o melhordos que já tivemos em geraçõesque levaram o título de bardos.

Bonnach sorri um pouco timidamente, mas está orgulhoso da confiança que seu pai deposita nele.

O grupo cavalga descendo entre duas rampas quando a estrada os leva a uma trilha de um leito de um velho rio seco, do qual só restou barrancos de barro em ambos os lados. Enquanto eles cavalgam, um grito soa e repentinamente homens deslizam pelos barrancos e se investem contra eles. Os homens vestem capuzes para esconder seus rostos.

FERGAL
(continua)
Homens! Comigo!

Os homens de Fergal correm para defendê-lo. Os homens encapuzados se aglomeram sobre eles e balançam machados e lanças em um furioso ataque. Um dos homens de Fergal é arrancado de seu cavalo, e seu braço é cortado fora, enviando um esguicho de sangue pelo ar.

CORTA PARA:

CENA EXT. TRILHA NA FLORESTA - DIA.

Xena e Gabrielle continuam a caminhar pela floresta, lado a lado. A trilha onde elas estão agora apresenta uma ladeira para baixo e, através das árvores, pode-se ver de relance uma grande estrada que intercepta o caminho delas.

Xena está um pouco desconfortável com o silêncio. Ela se vira e observa atentamente o perfil de Gabrielle, que parece um pouco séria demais pro seu gosto.

XENA
Ei. Humano ou animal?

Gabrielle estava mergulhada em seus pensamentos. Ela olha para cima com alguma surpresa.

GABRIELLE
O que?

XENA
Vamos lá. Brinque desse jogo comigo.


GABRIELLE
Ah.
(pausa)
Xena, eu realmente não estou com humor para isso.

XENA
Tudo bem. Mas assim você me deixa confusa.Isso normalmente faz você melhorar.

Gabrielle tem que sorrir com isso, e o faz, porque ela sabe que é verdade.

GABRIELLE
OK.
(pensando)
Vá em frente. Adivinhe.

XENA
(agradecida)
Animal, mineral, ou vegetal?


GABRIELLE
Não.

Xena olha para ela, em perplexidade.

XENA
O que? O que você quer dizer com não?

Gabrielle sorri.

GABRIELLE
Hehe. Você nunca vai adivinhar essa.


XENA
Ah é? Vamos ver….

A brincadeira delas é interrompida pelo repentino som de uma batalha.

XENA
(continua)
Mais tarde. Venha.

GABRIELLE
Você sempre encontra uma desculpa.

Xena e Gabrielle correm em direção ao som da luta.


CORTA PARA:

CENA EXT. ESTRADA DA FLORESTA - DIA - BATALHA.

Os homens encapuzados estão tirando o melhor de Fergal e seu clã. A maioria dos homens de Fergal estão fora de seus cavalos, e dois estão deitados no barro, aparentemente feridos ou mortos. Os outros se reuniram em volta de Fergal e estão lutando desesperadamente. Bonnach está no chão, em uma luta corpo-a-corpo contra um atacante.

Xena e Gabrielle correm por detrás deles e tomam conta dos homens encapuzados. Xena desembainha sua espada e distrai três deles, derrubando-os para longe de Fergal. Com seu cajado, Gabrielle deixa inconsciente um dos homens que estava para atingir Bonnach com uma lança, depois vê-se sob o ataque de dois outros. Ela solta o cajado e puxa seus sais, bloqueando as espadas deles.

Xena golpeia um homem com o cabo da espada, depois chuta outro para fora da estrada. Ela desvia quando um homem tenta cortar sua cabeça com uma lança.

XENA
Outro dia igual aquele?
Nunca mais.


Gabrielle a ouve, e se distrai por um momento. O homem que ela encarava toma vantagem disso e chuta seu sai para fora da mão dela. Gabrielle se recupera, agarrando o braço dele e girando-o para desferir um chute circular que envia o homem para o espaço.

Um momento depois, outro homem pula em Gabrielle, e ela se vira instintivamente, erguendo seu sai bem na hora que ele pousa em cima dela. O sai o atravessa. Gabrielle rola saindo de debaixo do corpo dele e puxa o sai para fora, ensopado de sangue.

Gabrielle olha fixamente para seu sai, e por um breve momento sua memória retorna ao templo de Dahak.


Os homens encapuzados já tiveram o suficiente. Eles se espalham, deixando quatro dos cinco homens mortos no chão e escalando os barrancos para desaparecer na floresta.

Fergal está ajoelhado ao lado de Bonnach. Ele é um dos homens do clã que foram feridos. Outros homens do clã se dirigem até ele. Xena e Gabrielle caminham até lá.

FERGAL
Estrangeiras, obrigado.

Xena se ajoelha para examinar Bonnach. Gabrielle hesita, depois a acompanha.

XENA
Ladrões?

FERGAL
Só se for de vidas. Nós não temos moedas.
(olhando para Gabrielle)
Você salvou a vida do meu filho, abençoada seja,mas eles roubaram de nós nossa esperança.

Tanto Xena quanto Gabrielle reagem levemente à essa palavra.


GABRIELLE
O que você quer dizer?

FERGAL
Nós estávamos indo para o grande encontrode clãs. Bonnach estava indo nos representarpara tentar ser nomeado Bardo chefe.

GABRIELLE
Bardo Chefe?

Xena dá um rápido olhar em Gabrielle, com uma expressão pensativa.

XENA
O que vocês ganhariam com isso?

FERGAL
A nossa família? Ganhamos um soldo suficiente para
agüentarmos este inverno. O tempo frio matou a
colheita deste ano, e nós ficamos apenas com o
suficiente para negociar, e economizar.

Gabrielle continua com os olhos em Bonnach. Ele está inconsciente, e sangrando.

GABRIELLE
Que horrível.

XENA
Se é de um bardo que vocês precisam, acabaramde achar um. Gabrielle pode fazer isso.

Gabrielle olha fixamente para Xena, completamente chocada. Fergal e seus homens olham avidamente para ela, o desespero se transformando em esperança.



FADE OUT:

FIM DO PRÓLOGO


Segue PRIMEIRO ATO

CENA EXT. ESTRADA NA FLORESTA - DE TARDE.

Xena e Gabrielle estão conduzindo os cavalos dos homens do clã que foram mortos. Bonnach está sendo carregado em uma maca na pequena carroça que eles tinham com eles, junto com os corpos dos homens mortos do clã.

Gabrielle parece muito perturbada. Xena a observa, preocupada.

GABRIELLE
Fergal, conte-me sobre essa competição.

FERGAL
A cada dois anos, nosso grande clã seencontra para escolher aqueles que irão preencheros cargos de que precisamos para as próximas estações.

XENA
E quem os escolhe?


FERGAL
É um voto do clã. Nossa história, nossos mitos
e lendas. Nós os passamos em frente
oralmente através de gerações, por
isso, escolher quem vai fazer isso
é uma grande responsabilidade.

GABRIELLE
Eles são seus professores.

FERGAL
Sempre. Bonnach trabalhou na história que tínhamos
para contar a estação inteira. Era uma grande história.
Se nós ganhássemos, as outras famílias iriam
nos contratar para tê-lo como professor.
É assim que o negócio funciona.

Eles se aproximam de um bloqueio feito por uma larga parede de madeira.

GABRIELLE
Sobre o que era a história dele?

FERGAL
As mais remotas. Os tempos antigos do nosso povo.
(pausa)
Qualquer que seja a história que você conte, terá que tocar
os corações das minhas pessoas, Gabrielle. Você não
conhece nossas tradições, então certifique-se de
escolher bem entre as que você conhece.

Fergal cavalga até os portões. Gabrielle o observa, pensativa.


CORTA PARA:

CENA INT. FORTALEZA DO CLÃ - COMEÇO DA NOITE.

O clã inteiro se vira para fora, para saudar a Fergal e seus homens. O comandante do clã, Lorcan, corre até eles quando vê a carroça.

LORCAN
Fergal! O que aconteceu?!

FERGAL
Uns bastardos nos atacaram na estrada.


Homens do clã se aglomeram em volta da carroça. Os homens murmuram condolências.

LORCAN
Killian! Pegue uma dúzia de homens e cavalguem
pela estrada norte! Mahon está lá fora,
talvez esteja em perigo!

Um pelotão de homens do clã sai correndo, agarrando suas armas e chamando seus cavalos.

LORCAN
(continua)
Uma lástima, Fergal. Bonnach é um rapaz
saudável. Deixe meus curadores tratarem dele,
e o confortarem o máximo que eles puderem.
Ainda assim, é uma lástima para vocês.

Lorcan percebe Xena e Gabrielle. Ele se surpreende ao ver estrangeiras.

FERGAL
Os ventos se movem por estranhos caminhos, Lorcan.
As duas vieram nos ajudar, e ajudaram a espantar
os bandidos. Esta é Xena, e esta é Gabrielle,
que salvou Bonnach de uma morte certa.

LORCAN
Ah.
(pausa)
Nesse caso é claro que vocês
são bem-vindas aqui, amigas.

FERGAL
Família. Eu as fiz nossas parentes, Lorcan.A Gabrielle aqui estará tomando o lugarde Bonnach na disputa dos Bardos.

Lorcan visivelmente não gosta disso. Xena caminha até Fergal.

XENA
Estamos felizes por podermos ajudar.


Lorcan se recupera.

LORCAN
Claro! Claro! Eu terei espaço
para vocês nos alojamentos
de Fergal. Bem-vindas!

Fergal leva Xena e Gabrielle para longe dos portões. Elas passam pela multidão atarefada, uma fortaleza de olhos curiosos que as observam.

CORTA PARA:

CENA INT. FORTALEZA - CORREDOR - NOITE.

A fortaleza está iluminada com tochas fumegantes. Os corredores são estreitos, e o chão está coberto de palha que não tem sido trocada já faz algum tempo.

Um dos homens de Fergal se aproxima, trazendo tecidos xadrez semelhantes aos que Fergal está usando.

FERGAL
Ah. Muito agradecido, Brion.

Fergal entrega os tecidos a Xena e Gabrielle.

FERGAL
(continua)
Isso vai identificar vocês
como membros da minha família.

Fergal é chamado do corredor. Ele pára para falar com um homem baixo e barbado, que o cumprimentou. Gabrielle toma o braço de Xena e a puxa para um lado.

GABRIELLE
Nós precisamos conversar.


XENA
Sim, este lugar é bem desagradável.Talvez eu possa encontrar algum lugar aberto.

GABRIELLE
Não é isso...

Elas ouvem um tumulto nos portões. Fergal sai correndo para lá, junto com um número de outros homens.

XENA
O que foi agora? Vamos colocar isto.Ao menos vai nos aquecer.

Gabrielle cheira o seu tecido.

GABRIELLE
Isso é lã.

XENA
É você que conhece essas coisas.

Xena e Gabrielle vestem os tecidos coloridos de um xadrez azul e verde.

GABRIELLE
Xena, ouça.

O clamor nos portões se torna mais alto.

XENA
Agüenta aí. Vamos ver do
que se trata isso tudo.


Xena corre até os portões. Depois de um momento, Gabrielle balança a cabeça e a segue.

CORTA PARA:
CENA INT. PORTÕES DA FORTALEZA - NOITE.

Os portões estão abertos. Tochas tremulam dos dois lados deles. Uma grande carroça entra, cercada por homens montados. Na carroça há um homem de pé. Ele é muito alto, e muito largo, e tem um desarrumado cabelo comprido e vermelho. Seu nome é MAHON, um chefe de um clã rival.

MAHON
Fergal!!!

Fergal se empurra através da multidão. Mahon salta para fora da carroça e eles se cumprimentam com abraços de urso e pesados tapinhas.

MAHON
(continua)
Eles me contaram o que aconteceu.Qualquer coisa que eu possa fazer pela sua família,é só pedir. Eu estou totalmente do seu lado nisso!

Xena e Gabrielle abrem caminho através da multidão.

FERGAL
Você é um bom homem, Mahon.

MAHON
E quando descobrirem quem fez isso, minhaespada se erguerá junto com a sua. Eu juro!

Os homens de Mahon levantam suas armas e dão vivas. Os homens de Fergal respondem, em gentileza.

MAHON
(continua)
Sinto muito pelo seu filho, Ferge, meu caro. Ele é um bomgaroto. Talvez da próxima vez ele ganhe o prêmio, né?

FERGAL
Pode ser sim. Sorte a minha ter encontradoalguém para substituí-lo nos torneios.

Mahon reage com surpresa.

MAHON
Você encontrou agora?

FERGAL
Encontrei.

Fergal guia Gabrielle para frente, e quando ela se junta a ele, ele coloca o braço em volta dela.

FERGAL
(continua)
Esta é Gabrielle. É ela quem carrega ahonra da nossa família em seus ombros.

O rosto de Gabrielle esboça uma angústia oculta.

FERGAL
(continua)
Ela e sua amiga ali surgiram para
nos ajudar a derrotar os detestáveis
bandidos que nos atacaram. Ela salvou
a vida de Bonnach. Ela é da família.

MAHON
Ah.
(pausa)
E é uma moça bem-parecida também. É umagrande honra conhecer você, Gabrielle.

Gabrielle retribui sua reverência, claramente muito desconfortável.

GABRIELLE
Eu realmente não acho que….

Lorcan dá um passo largo para frente.

LORCAN
Mahon! É bom que você esteja aqui.Venha - A carne assada está esperando.Fergal, venha!

Todos começam a se mover na direção da taverna da fortaleza. Gabrielle continua onde está, enquanto os homens caminham passando por ela e dando-lhe um olhar curioso. Xena se junta a ela.

GABRIELLE
Xena?

XENA
Hum?


GABRIELLE
Preciso falar com você.

XENA
Tudo bem. Talvez depois de...

GABRIELLE
Agora.


Xena olha para o rosto de Gabrielle, depois olha em volta, localizando uma pequena e quadrada cerca construída contra um muro. Ela toma o braço de Gabrielle e a leva até o local.

CORTA PARA:

CENA INT. SALA DE ARMAZENAGEM DA FORTALEZA - NOITE.

Está escuro dentro da área de armazenagem. A luz da tocha mal consegue entrar. Xena e Gabrielle ficam nas sombras, uma de frente para a outra.

XENA
OK, qual o problema?

GABRIELLE
Você não devia ter feito isso.

Xena franze as sobrancelhas.

XENA
Fazer o quê? Dizer que você tomaria olugar do garoto? Qual é, Gabrielle.

Gabrielle está zangada. Ela dá um passo na direção de Xena.

GABRIELLE
Qual é você, Xena. Você não tinhao direito de dizer a eles que eu faria isso.

XENA
(cuidadosamente)
Você não quer ajudá-los?


Gabrielle se vira e caminha até a abertura do galpão. Ela coloca as mãos uma de cada lado da abertura e olha para fora. Seu corpo está tenso, e ela está respirando pesadamente.

GABRIELLE
Eu não posso.

XENA
O que?

Xena cruza o galpão na direção dela. Gabrielle se vira e fica de frente para Xena.

GABRIELLE
Eu não posso fazer isso. Não mais.

Xena está confusa. Ela esfrega as têmporas com a mão, tentando entender qual é o problema de Gabrielle.

XENA
Gabrielle, eu escutei você contandohistórias tão recentemente quanto uma meia lua
atrás. O que é que eu estou deixando passar aqui?

Gabrielle olha fixamente para Xena. Sua atitude se transforma de raiva para tristeza quando ela examina o rosto de Xena.

GABRIELLE
Eu não posso contar histórias.

XENA
OK.

GABRIELLE
Porque eu não posso mais criá-las.
As histórias que eu conto, Xena...
Eu estou apenas repetindo as antigas.


Xena está atordoada.

GABRIELLE
(continua)
Para fazer isso...

Gabrielle se vira e olha para fora, para a fortaleza, e seus atarefados ocupantes.

GABRIELLE
(continua)
Para tocar essas pessoas, eu não posso simplesmente
repetir alguma velha história que eu tenha enfiada na minha sacola.
(pausa, se vira)
Eu tenho que ser uma barda. Eu tenho que dar a eles um
novo sonho que irá tocar suas almas, e eu
não tenho isso em mim mais.


Xena caminha até ela e coloca as mãos nos ombros de Gabrielle. Ela vira Gabrielle de frente para si.

XENA
Eu não acredito nisso.

GABRIELLE
Como você iria saber?

Aflita, Xena retira suas mãos e as deixa cair.


GABRIELLE
(continua)
Esse é o preço que eu pago por isso.

Gabrielle retira os sais de suas botas e os ergue. Seus olhos se enchem de lágrimas, mas ela continua falando.

GABRIELLE
(continua)
Eu não tenho escrito nada novo já faz um
bom tempo, Xena. Eu perdi aquela parte de mim.
(tomando um fôlego)
Eu perdi aqueles sonhos.

XENA
(suavemente)
Gabrielle.

GABRIELLE
Deuses, eu os perdi.

Xena coloca uma mão no ombro de Gabrielle, um pouco hesitante. Gabrielle a cobre com a sua própria mão, aceitando as silenciosas desculpas.

GABRIELLE
(continua)
Então, eu realmente espero que você tenha um plano B
desta vez, Xena. Eu realmente espero que sim.


FADE OUT.

FIM DO PRIMEIRO ATO

Nenhum comentário: